Já rachou mesmo
Repertório mal arrumado, excesso de citações e ‘batucada pra turista’ prejudicam o show de 40 anos do primeiro disco da Plebe Rude no Circo Voador. Fotos: Nem Queiroz.
A música é “Proteção”, e a citação é “Selvagem”, dos Paralamas do Sucesso, versão que a Plebe já faz há anos, somando ainda com “Pátria Amada”, do Inocentes, e salpicada com trechos de “Censura”, da própria banda. Um desfecho que beira o apoteótico para um show vacilante na maior parte do tempo. Primeiro, porque o set list (a ordem em que as músicas são tocadas), mal arrumado e de início equivocado, espalha as músicas do álbum aniversariante, subtraindo a força do disco em si, caso fosse tocado em sequência, no talo e com a velocidade que o punk rock exige. Era o mínimo a fazer em show desse tipo. Depois, que o “Concreto Já Rachou” é um EP de sete músicas, e quase sempre seis delas são tocadas nos shows da Plebe, a única que fica de fora é “Seu Jogo”. E o que fazem os plebeus? Apresentam uma versão terrível da canção, com ênfase no violão, em um bloco com “Este Ano” e “A Ida”. A música, cantada no disco por Jander Bilaphra, o Ameba, pede a voz de Clemente, o Ameba do século 21, cuja participação é tímida. Um fiasco.
Outro aspecto que prejudica o show da Plebe – e não é de hoje – é o excesso de citações de outras músicas, e cada vez maior. Não dá para uma banda de punk rock/pós punk, mesmo com mais de 40 anos de estrada, ficar o tempo todo enfiando riffs de classic rock à AC/DC, Led Zeppelin e The Who em tudo o que é música. O público até reage bem, mas o procedimento segue a lógica do conforto do conhecido adotado por bandas covers, e não deveria servir para artistas criativos e emblemáticos de uma geração como a Plebe Rude. O auge dessa patacoada acontece numa versão canhestra de “The Dead Heart”, do Midnight Oil, somada com “Revoluções Por Minuto”, do RPM, que até agora não se sabe se era pra ser assim mesmo ou se foi tudo no improviso, já que um atabalhoado roadie se enrolou todo com a cartolina com as letras escritas à mão que Philippe deveria ler/cantar.Ocorre que a Plebe é rude, não arrefece, e como tem tradicionalmente uma das melhores performances de palco do rock nacional, convence, e muito bem, em boa parte do tempo. Acontece em “Johnny Vai à Guerra (Outra Vez)”, um arregaço com direito a sempre boa presença de palco de Clemente como vocalista solo e Philippe esmerilhando a guitarra sem dó. Em “Luzes”, apropriada do Escola de Escândalos já há tempos, é curioso ver a participação do público em um verdadeiro hit underground. Público, aliás, nas mãos da banda o tempo, nos bons e maus momentos da noite. A tradicional homenagem ao saudoso Redson, do Cólera, vem com “Medo”, com a imagem dele no telão e a cantoria generalizada. O que serve de dica para o Circo Voador e para a Plebe trazerem a banda para relembrar as noitadas punk rock do passado; o Cólera segue na ativa.
Antes do desfecho com “Proteção”, a dobradinha “Minha Renda”/“Sexo e Karatê” causa grande agitação na plateia. A primeira com imagens da banda no programa do Chacrinha na década de 80, citado na letra, que inclusive é exibida didaticamente pra todo mundo cantar. Uma pena – de novo - que a música é interrompida para Phillippe Seabra fazer propaganda de sua biografia, recém-lançada. A segunda faz o público abrir roda de dança no meio do salão, enquanto imagens de filmes de ação japoneses são exibidas. O bis tem “Bravo Mundo Novo” abrindo com certa calma pra engrenar em “Brasília”, faixa da qual o título do disco aniversariante é extraído. Era para ser o arremate mais que perfeito com “Até Quando Esperar”, o maior hit da banda e um dos grandes sucessos do cancioneiro brasileiro, mas aí sobe ao palco um tal de “Bloco Dos Dinos”, convertendo tudo espécie de irritante batucada pra turista. É, assim fica difícil de a Plebe ajudar o rock brasileiro a voltar ao seu devido lugar.Set list completo
1- Sua História
2- Anos de Luta
3- Luzes
4- Censura
5- Este Ano
6- A Ida
7- Seu Jogo
8- Um Outro lugar
9- O Pêndulo da História
10- The Dead Heart/Revoluções Por Minuto
11- Pressão Social
12- Johnny Vai à Guerra (Outra Vez)
13- Medo
14- Minha Renda
15- Sexo e Karatê
16- Proteção
Bis
17- Bravo Mundo Novo
18- Brasília
19- Até Quando Esperar
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