Se superou
Ratos de Porão só não rouba a cena como abertura porque Napalm Death é Napalm Death; Ação Direta tem performance explosiva no início. Fotos: Daniel Croce.
Pode ser por causa da imagem que marca a noite e fica gravada na cabeça da gente. Uma verdadeira farra na beirada de palco protagonizada por Jão, forjado no punk na prática, debulhando a guitarra alucinadamente com o pé no retorno, ao lado do baixista Juninho, perseguindo o andamento acelerado como pode, e Gordo endemoniado em espécie de “air guitar from hell” de cair o queixo. Acontece várias vezes, sobretudo em músicas em que o metal pesou mais no crrossover único desenvolvido pela banda ao longo de tantos anos. Dá pra citar, entre outras, “Lei do Silêncio”; “Morte ao Rei”, que segundo Gordo tem tudo a ver com o inelegível; e “Crise Geral”, talvez a música mais espetacular da banda, no encerramento mais que perfeito.
Ou seria por conta do bloco “porrada pura ultra veloz” com umas oito músicas em menos de cinco minutos, incluindo “V.C.D.M.S.A.”, “Caos”, “Crucificados Pelo Sistema” e “Descanse em Paz” (dedicada sutilmente a Paul Di’Anno)? Um momento em que a plateia mais se bate ao redor do palco, e, para surpresa dos incautos, cantando/vociferando as letras na ponta da língua, e não só nessa ou aquela música, mas o tempo todo. Que o diga os punhos erguidos em coreografia ensaiada de “Eu Não Sei”; o cantarolar aos berros de “Amazônia Nunca Mais”; e até os versos/refrães repetidos a plenos pulmões das recentes “Alerta Antifascista” e “Aglomeração”, um dos mais fiéis retratos do Brasil pandêmico entregue a negacionistas.Quem sabe o fato de estar em um evento em que a banda de fundo é o Napalm Death, referência do ramo e ao mesmo tempo de certa maneira contemporânea do Ratos é que faz os caras entrarem com o chamado sangue nos olhos? Em meio a rodas de dança e stage diving sem fim, ficaram para o arremate do show verdadeiros hits underground que enlouquecem um público nada calmo: “Aids, Pop, Repressão”, na versão “pop rapcore”; “Beber Até Morrer”, tida como uma ode à bebedeira embora a letra tenha viés contrário; e a já citada “Crise Geral”, quando o batera Boka, no final do show – repita-se – coloca todos para apostar corrida com ele. Respostas à parte, o fato é que, com um arregaço desses, poderia ter ficado ruim para o Napalm Death. Mas, sabemos todos, Napalm Death é Napalm Death.
No início da noite, ainda com o público chegando, outro veterano da cena, o Ação Direta, do ABC, fez uma apresentação explosiva, dentro do possível. Em cerca de 40 minutos o quarteto enfileirou porradas do hardcore raiz, às vezes mais crossover, noutras mais metal, com grande intensidade e uma música praticamente emendada na outra. As que mais se destacaram foram “Entre a Bênção e o Caos”, faixa título do álbum de 1997, um dos mais proeminentes da banda, aqui tocada em uma velocidade abissal; a atualíssima “Imbecilidade da Raça; e “Nunca Mais”, essa um pouco mais cadenciada, mas pesada mesmo assim, que remete aos anos de chumbo o Brasil. Um pena que em 37 anos de estrada essa seja apenas a segunda passagem da banda pela Cidade e a primeira pelo Circo Voador. Mas antes tarde que mais tarde.Set list completo Ratos de Porão
1- Alerta Antifascista
2- Aglomeração
3- Amazônia Nunca Mais
4- Farsa Nacionalista
5- Morte ao Rei
6- Ignorância
7- Lei do Silêncio
8- Satanic Bullshit
9- Bad Trip
10- Morrer
11- Mad Society
12- Crianças Sem Futuro
13- Crucificados Pelo Sistema
14- Descanse em Paz
15- V.C.D.M.S.A.
16- Guerrear
17- Políticos em Nome do Povo…
18- Caos
19- Realidades da Guerra
20- Igreja Universal
21- Herança
22- Aids, Pop, Repressão
23- Beber Até Morrer
24- Crise Geral
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Mais uma noite daquelas no Circo Voador. Ratos sempre entregando tudo e Napalm Death brutalíssimo, saí com os ouvidos zunindo do som nas alturas. Peguei o final do show do Ação Direta e foi bom ver uma banda tão longeva da música pesada nacional ainda com lenha pra queimar e entregando um bom show. Parabéns à produção pela pontualidade nos shows e equipe técnica, que entregou um som excelente.