O Homem Baile

Arraigado

Promessa consolidada, Gary Clark Jr. brilha em ótimo show de abertura para Eric Clapton e ainda toca uma música com o patrão. Foto: Carlos Elias Junior/Divulgação.

garyclarkjr24Começou faz tempo, mas a música, à base de uma guitarra muitíssimo bem tocada, vai se amansando a ponto de parecer que está chegando ao fim, naquilo que chamam por aí de “fade out’, lento que só ele. Qual o quê. De repente, do nada, eis que o gigante acorda e um crescente instrumental daqueles toma conta do público, com o tal guitarrista meio que fazendo os demais integrantes do grupo mostrarem serviço, senão ficam pra trás. E é o que acontece, em uma exuberância instrumental do blues rock moderno, mas cheio de referências às suas raízes. É assim que se comporta a banda do guitarrista Gary Clarck Jr., no show de abertura para Eric Clapton (veja como foi), ontem (26/9), na Farmasi Arena, no Rio, enquanto o público se desenrola do trânsito pra chegar.

Embora já tenha vindo ao País com o mesmo Clapton há 13 anos, ter tocado em uma das edições do Lollapalooza brasileiro, e já não ser mais aquela revelação de tempo idos – confirma-se como um os grandes nomes do blues contemporâneo -, Gary segue despertando a curiosidade por aqui, ao menos entre os que se entreolham, no meio da plateia, como se perguntassem uns aos outros: “Quem é esse cara?”. Ele responde na guitarra, aproveitando muito bem a horinha que tem para tocar sete músicas com banda e equipamentos completos, cortesia do generoso patrão que costuma o levar para sucessivas edições do Crossroads Festival. O contemporâneo ali em cima se refere à adição de muito equipamento e um certo sotaque eletrônico adicionado à sua música, sem sustos.

Assim, logo no começo o baixista Elijah Ford deixa de lado o instrumento e opera uma série de botõenzinhos em um sampler ou aparelho que o valha, fazendo alguma diferença em “Maktub”. A música, construída a base de um riff eletronicamente sujo, mas cativante que só ele, é a que abre também o álbum mais recente de Gary Clark Jr., o bom “JPEG Raw”, que saiu em março. São dele a maior parte das músicas escolhidas para o show – quatro de sete -, incluindo “What About The Children”, parceria com – uhlalá – Stevie Wonder, que participa cantando, e tocando teclado e harmônica na versão do disco. No show fica claro o sotaque meio soul meio gospel, ainda mais com a participação de três cantoras nos vocais de apoio, que, aliás, contribuem o tempo todo durante a apresentação, e isso é muito bom.

A guitarra marcada do início de “Brigth Lights”, faixa-título do EP de 2011, volta os olhos e os ouvidos do público para o palco. Talvez o maior hit do repertório da noite, vem turbinada por duelos de guitarras de Gary com King Zapata, que está sempre mandando evoluções em seu instrumento de um modo meio incomum, por assim dizer. A transição de retorno dos solos para a canção em si é uma das coisas legais do show. Mas o destaque maior vai mesmo para “When My Train Pulls In”, a tal música citada lá em cima, que faz do quase silêncio a motivação para se esmerilhar uma guitarra sem dó e trazer todos na banda a reboque para a intensidade de um bom blues rock, contemporâneo ou não. De quebra, além da ótima abertura, Gary Clark Jr. também toca no bis do show principal, ao lado da banda de Eric Clapton, na canção “Before You Accuse Me”. Tá com moral ou não o rapaz?

Set list completo

1- Maktub
2- Don’t Owe You a Thang
3- When My Train Pulls In
4- This Is Who We Are
5- What About the Children
6- Bright Lights
7- Habits

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