O Homem Baile

Modo superação

Autoramas e Vanguart fazem o que podem e se safam em dia, horário e palco hostis no Rock In Rio. Fotos: Vinicius Pereira (1,2 e 4) e Rita Seixas/Divulgação Rock In Rio (3).

Coreografados: o vocalista e guitarrista do Autoramas, Gabriel Thomaz, e o baixista Jairo Fajersztajn

Coreografados: o vocalista e guitarrista do Autoramas, Gabriel Thomaz, e o baixista Jairo Fajersztajn

Do nada, ainda sob um sol de lascar, os integrantes da banda deixam o palco e pulam a cerca para se divertir no meio do público. Um público meio escasso, mas é o que dá pra ter dado o horário ingrato da apresentação, e animação não falta para esses guerreiros que chegam lá nos cafundós da Cidade do Rock antes da três da tarde. A música remete aos primórdios de uma banda que está com mais de 25 anos de carreira, muito embora viva mais uma renovação de integrantes, necessária para quem deseja ter longevidade nesse mundão do rock. É assim que o Autoramas usa “Catchy Chorus” para botar todo mundo par dançar no meio do caminho, no Palco Supernova, no segundo sabadão (21/9) do Rock In Rio.

Um cenário, contudo, muito cruel para uma banda tão longeva como o Autoramas e que já tocou neste mesmo Rock In Rio, em 2013, em condições bem melhores, junto com BNegão, tendo sido considerado um dos melhores shows daquele ano (veja como foi). Isso porque nesse ano, o Palco Supernova fica no meio da passagem, e, em um horário em que os portões acabam de abrir, há muito mais gente circulando pelo local do que parando para ver o show. E – ainda tem mais essa – com um tempo de apresentação de apenas meia hora, ou seja, quando a coisa começa a esquentar e o público começa a chegar, o show acaba. E isso sem falar que este sábado tem a pior escalação de todas as épocas do festival, e, consequentemente, os ingressos encalhados. Tem como ser mais cruel que isso?

A nova vocalista e tecladista do Autoramas, Luma Garcia, chegou chegando com ótima performance

A nova vocalista e tecladista do Autoramas, Luma Garcia, chegou chegando com ótima performance

Daí a opção é mandar uma série de clássicos das antigas da banda que, se hoje é estabelecida em São Paulo, nasceu no Rio de Janeiro, cidade aliás, onde não toca há uma pá de tempo. E ainda é a estreia dessa formação por aqui. Ter “Carinha Triste” e “Paciência” logo no início é muito legal, e nessa segunda, a nova vocalista, Luma Garcia, vai muito bem, em que pese o esforço coreográfico para manter o chamado padrão Autoramas de show, com aquelas dancinhas irresistíveis. “Você Sabe” talvez tenha sido o maior riff de guitarra entoado do dia, e é outro grande destaque de uma apresentação acelerada e nervosa.

Somente uma das mais recentes, a curtinha “ A Cara do Brasil”, entra no set. A música é espécie de síntese dos anos terríveis que ficaram recentemente pra trás, e alimenta o tom voraz da apresentação. “Abstrai”, uma das ótimas composições do cancioneiro de Gabriel Thomaz, único remanescente da formação original e dono da banda, também é destaque, desta vez pela linha de teclado, em um volume bastante alto em comparação com os outros instrumentos. E aí vem o desfecho com “Catchy Chorus” e a fusão banda + público do lado de cá da grade, algo até bem comum nesses tempos estranhos de interatividade quase que obrigatória. No frigir dos ovos, o Autoramas fez o que dava pra fazer, e o saldo é de ter feito uns dos melhores show esse dia terrível do Rock In Rio.

O vocalista Hélio Flanders no comando do Vanguart, durante o sabadão de tarde no Rock In Rio

O vocalista Hélio Flanders no comando do Vanguart, durante o sabadão de tarde no Rock In Rio

Mais tarde, no mesmo palco, estreando, enfim, no festival, o Vanguart, diferentemente do Autoramas, opta por colocar músicas que representam várias fases da carreira, como espécie de cartão de visitas, para uma banda com mais de 20 anos de estrada. Só que, agora, a sonoridade mudou muito, não só na formação – apenas o vocalista e guitarrista Hélio Flanders e o baixista Reginaldo Lincoln são do time de origem – com a adição de novos instrumentos e arranjos bem diferentes das versões registradas nos álbuns. Mas a banda segue orbitando em torno de Flanders e sua quase sempre inspirada verve poética, e na inclusão por parte dele de vários instrumentos conexos, o que resulta em sonoridade variada entre rock, country rock, mpb e por aí vai.

Em “Nessa Cidade”, por exemplo, ele começa com um trompete que, associado ao violino, cria um bonito clima vespertino, com sol e tudo. “Minha Vida Eres Tu”, que abre o set, traz mistura de idiomas, outra faceta de Hélio e do Vanguart, que funciona legal, em um clima de fanfarra. O público é parco também, mas com mais gente chegando, incluindo admiradores da banda que cantam e pulam muito a cada música. Perto de decorridos os 30 minutos – o intervalo entre os shows tem uma hora! – a banda manda o hit maior, a boa e velha “Semáforo”, e parece que todos os amigos seguem querendo morrer. Que essa estreia em ambiente hostil sirva para a banda galgar espaços de maior notoriedade nas próximas edições do festival.

Vista geral do palco do Autoramas: banda acerta ao optar por repertório clássico/rretrô e agrada geral

Vista geral do palco do Autoramas: banda acerta ao optar por repertório clássico/retrô e agrada geral

Set list completo Autoramas

1- Nada a Ver
2- Carinha Triste
3- Paciência
4- Você sabe
5- Abstrai
6- Já Cansei de te Ouvir Falar
7- Fale Mal de Mim
8- A Cara do Brasil
9- Catchy Chorus

Set list completo Vanguart

1- Mi Vida Eres Tu
2- Demorou Pra Ser
3- E o Meu Peito Mais Aberto Que o Mar da Bahia
4- Meu Sol
5- Nessa Cidade
6- Se Tiver Que Ser Na Bala Vai
7- Tudo Que Não For Vida
8- Semáforo

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