Belo apanhado
Em show fadado a recordações no Rock In Rio, Barão Vermelho estreia música e reúne sucessos conexos de ex-integrantes relevantes. Fotos: Vinicius Pereira.
É um daqueles shows fadados a recordações, e uma das mais emblemáticas é a fala de Cazuza, o vocalista da formação original, no Rock In Rio de 1985. “Que o dia nasça lindo pra todo mundo amanhã, com um Brasil novo, uma rapaziada esperta”, dizia ele, aliviado pelo fim dos anos de chumbo e saudando o início da chamada Nova República. Se o desejo dele deu certo ou não é outra conversa. O fato é que o Barão segue em frente com a formação atual, mas cheio de referências à sua própria história e é assim que tem que ser. Por isso, o repertório não se contenta “só” com os grandes sucessos da banda, mas açambarca hits das carreiras solo de Cazuza e de Roberto Frejat, que nunca deixaram de ser parceiros dos Barões remanescentes. E, sabemos todos, no primeiro disco solo de Cazuza (“Exagerado”, de 1985), boa parte das músicas estariam no disco seguinte do Barão, caso ele não deixasse a banda.
Mas ele e Frejat bateram em retirada. Por isso aqui, quando o vocalista Rodrigo Suricato começa a fatídica “O Tempo Não Para”, depois de pedradas como “Pense e Dance” e “Maior Abandonado”, o público sente a estrada percorrida por todos. Suricato vai muito bem na banda que um dia lhe inspirou, e, nessa música (não só nessa, vai…), o guitarrista Fernando Magalhães, Barão desde a saída de Cazuza, executa um solo inspiradíssimo. Além da formação clássica da banda, agregam muito duas backing vocals e um percussionista. “Exagerado”, que, honra seja feita, é uma das grandes músicas do cancioneiro da música brasileira, vem sob medida para a cantoria ampla, geral e irrestrita; quem nunca exagerou como na fábula de Cazuza? Outras recordações que emocionam são as imagens no telão do passado da banda (Ezequiel Neves, Cassia Eller, Peninha), exibidas durante “Meus Bons Amigos”, precedida por um solo do batera Guto Goffi, outro Barão original.Se percebe desde o início, mesmo nas músicas mais pesadas, certo protagonismo do tecladista Maurício Barros, não só no som, mas se divertindo muito com uma estante deslizante, de modo a passear pelo palcão. É de domínio público que ele pleiteava o posto de vocalista após Cazuza deixar a banda, sendo que inclusive liderou o Buana 4 como cantor; procure saber. É o que acontece na segunda metade de show, quando assume os vocais em “Amor Pra Recomeçar”, da carreira solo de Frejat, da qual também é compositor. Maurício canta bem, mesmo com a voz, hoje, meio rascante, se emociona ao citar os filhos na plateia, sendo ele um dos que estava em 1985, e acaba quase no meio do público na cover já apropriada pelo Barão de “Malandragem Dá Um Tempo”, de Bezerra da Silva. Afinal, a banda seguinte é o Planet Hemp.
Novidades? Também temos. Se lá em 85 a banda estreou uma canção inédita em pleno Rock In Rio, a ótima “Mal Nenhum”, parceria com Lobão, dessa vez foi a vez de “Do Tamanho da Vida”, fruto do entusiasmo pelo convite para esse show, segundo Suricato. A música é ótima, puro rock do Barão, agrada geral, e – ainda tem mais essa - com letra de Cazuza, resgatada pela mãe e herdeira legal dele. A canção é o mote para o início da nova turnê que lhe dá o nome. Turnê que promete, a julgar pela quantidade de hits que fizeram falta nessa curta horinha de domingo. Senão, vejamos: “Ponto Fraco”, “Quem Me Olha Só”, “Menina Mimada”, “Declare Guerra”, “Cuidado”, “Brasil”… Essa, não, porque não se pode terminar um showzão de rock desses em ritmo de samba. Melhor ficar com “Pro Dia Nascer Feliz” e renovar os votos de Cazuza. Que o dia nasça lindo pra todo mundo, com um Brasil novo, uma rapaziada esperta…Set list completo
1- Maior Abandonado
2- Por Que a Gente é Assim?
3- Bete Balanço
4- Pense e Dance
5- O Tempo Não Para
6- Meus Bons Amigos
7- Do Tamanho da Vida
8- Todo Amor Que Houver Nessa Vida + Down em Mim
9- Por Você
10- Exagerado
11- Amor Pra Recomeçar
12- Malandragem dá Um Tempo
13- Puro Êxtase
14- Pro Dia Nascer Feliz
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