O Homem Baile

Atrapalhados

Trinca de grandes hits ameniza apresentação tecnicamente problemática do Journey no Rock In Rio. Fotos: Vinicius Pereira.

O vocalista do Journey, Arnel Pineda, que sofreu um bocado com problemas técnicos e retorno de áudio

O vocalista do Journey, Arnel Pineda, que sofreu um bocado com problemas técnicos e retorno de áudio

O parco público que se aglomera na frente do Palco Mundo, ali, na primeira atração internacional do domingo (15/9) no Rock In Rio, pode não admitir, mas ele só quer saber de ver, ao vivo, a banda tocando uma única música. Ou, por outra, duas. Ou, quem sabe, uma terceira. Não que seja certo achar que uma banda com carreira de sucesso consolidada de mais de 50 anos tenha no máximo três bons números para tocar. Mas, quem não está pensando na trinca mais esperada da noite, que solte a primeira vaia. Ou segure ao menos até à reta final da apresentação, quando os primeiros acordes de “Separate Ways (Worlds Apart)” desperta o gigante hard rock adulto dentro de cada um, e, ato contínuo, o Journey emenda sem dó “Don’t Stop Believin’” e arremata com “Any Way You Want It”. Agora, sim, a festa está completa.

A estreia do cascudo grupo californiano no festival, uma das poucas atrações inéditas dessa edição, entretanto, não foi essa coca-cola toda. Isso porque, por algum motivo injustificável o som do Palco Mundo estava baixo demais, o que ajudou e embolar os instrumentos uns sobre os outros, problema esse não resolvido durante toda a apresentação, com melhoras e pioras alternadas. E, ainda, o vocalista Arnel Pineda estava visivelmente atrapalhado pelo retorno de ouvido, e parecia estar o tempo todo conversando com alguém no fosso entre o palco e o público, como se estivesse resolvendo o problema. Parecia perguntar a todo momento se “estava dando parar ouvir”, e isso ao vivo e a cores para milhares de pessoas na Cidade do Rock e com o show transmitido pela TV e internet. Ou seja, sobrou para ele ser o Billy Idol de 2022 (relembre).

O guitarrista Neal Schon, integrante fundador do Journey, mostra vitalidade ao lado do sorridente Pineda

O guitarrista Neal Schon, integrante fundador do Journey, mostra vitalidade ao lado do sorridente Pineda

Tanto que bateu a saudade de vocalistas de outras épocas da banda, sobretudo Steve Perry, que gravou as tais canções citadas ali em cima, como se Pineda, que é filipino – diga-se - não fizesse jus ao posto que ocupa desde 2007. Bobagem. Se não fosse bom vocalista não estaria ali esse tempo todo, e estivesse no posto dele quem quer que fosse, sofreria com os problemas técnicos da mesma forma. Outrossim, a banda não é só ele e é uma beleza ver o guitarrista Neal Schon solando com grande vitalidade nas músicas que todos querem ver ao vivo. Ou o tecladista Jonathan Cain usando desnecessariamente uma vistosa camisa da seleção de futebol com o próprio nome, fazendo a verdadeira cama de teclados que encorpa esse tipo de som. E também a pegada monstro do rodado batera Deen Castronovo, que ainda canta – e muito bem – em “Lights”, estimulando a comparação com o pobre do Pineda: o microfone dele está bem melhor.

O repertório é um verdadeiro apanhado de clássicos da banda, e nem poderia ser diferente, de modo que a música de lançamento mais recente é “Be Good to Yourself”, de 1986, que tem a idade do próprio Rock In Rio. Por causa das limitações de tempo do festival – uma hora redondinha para tocar – algumas canções foram apresentadas de forma reduzida, como “Line Of Fire”, e foram omitidas aquelas deliciosas improvisações instrumentais, em músicas como “Wheel in the Sky”, por exemplo. Ou seja, forma-se um conjunto de senões muito grande para uma ocasião tão especial para quem chegou cedo; não era bem isso que a comunidade hard rock tinha em mente. Daí que a tal trinca de sucessos citada ali em cima tenha sido verdadeiramente tábua de salvação.

Travestido de jorgador da seleção brasileira, o tecladista Jonathan Cain é outro veterano na banda

Travestido de jorgador da seleção brasileira, o tecladista Jonathan Cain é outro veterano na banda

O maior deles é “Don’t Stop Believin’”, espécie de tema universal da esperança generalizada, cuja popularidade aumentou consideravelmente depois do longa “Rock of Ages: O Filme”, de 2012, em que Tom Cruise é o protagonista e a música é tema final de comédia romântica, por assim dizer. Uma balada clássica – não música lenta – que é executada com maestria tanto na melodia nos teclados de Cain quanto nas evoluções de guitarra e solos de Schon, e ainda com os ótimos backing vocals de todos os integrantes, artifício fundamental nesse tipo de som. Na empolgação, Arnel Pineda desce do palco para cantar na grade, fazendo o encerramento no local onde a boa música sempre deveria estar: nos braços do povaréu. Não, não pare de acreditar.

Set list completo

1- Be Good to Yourself
2- Stone in Love
3- Line of Fire
4- Dead or Alive
5- Faithfully
6- Open Arms
7- Lovin’, Touchin’, Squeezin’
8- Wheel in the Sky
9- Lights
10- Separate Ways (Worlds Apart)
11- Don’t Stop Believin’
12- Any Way You Want It

 cascudo Deen Castronovo, que, além da grande forma como baterista, canta em uma das músicas

O cascudo Deen Castronovo, que, além da grande forma como baterista, canta em uma das músicas

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