Atrapalhados
Trinca de grandes hits ameniza apresentação tecnicamente problemática do Journey no Rock In Rio. Fotos: Vinicius Pereira.
A estreia do cascudo grupo californiano no festival, uma das poucas atrações inéditas dessa edição, entretanto, não foi essa coca-cola toda. Isso porque, por algum motivo injustificável o som do Palco Mundo estava baixo demais, o que ajudou e embolar os instrumentos uns sobre os outros, problema esse não resolvido durante toda a apresentação, com melhoras e pioras alternadas. E, ainda, o vocalista Arnel Pineda estava visivelmente atrapalhado pelo retorno de ouvido, e parecia estar o tempo todo conversando com alguém no fosso entre o palco e o público, como se estivesse resolvendo o problema. Parecia perguntar a todo momento se “estava dando parar ouvir”, e isso ao vivo e a cores para milhares de pessoas na Cidade do Rock e com o show transmitido pela TV e internet. Ou seja, sobrou para ele ser o Billy Idol de 2022 (relembre).
Tanto que bateu a saudade de vocalistas de outras épocas da banda, sobretudo Steve Perry, que gravou as tais canções citadas ali em cima, como se Pineda, que é filipino – diga-se - não fizesse jus ao posto que ocupa desde 2007. Bobagem. Se não fosse bom vocalista não estaria ali esse tempo todo, e estivesse no posto dele quem quer que fosse, sofreria com os problemas técnicos da mesma forma. Outrossim, a banda não é só ele e é uma beleza ver o guitarrista Neal Schon solando com grande vitalidade nas músicas que todos querem ver ao vivo. Ou o tecladista Jonathan Cain usando desnecessariamente uma vistosa camisa da seleção de futebol com o próprio nome, fazendo a verdadeira cama de teclados que encorpa esse tipo de som. E também a pegada monstro do rodado batera Deen Castronovo, que ainda canta – e muito bem – em “Lights”, estimulando a comparação com o pobre do Pineda: o microfone dele está bem melhor.O repertório é um verdadeiro apanhado de clássicos da banda, e nem poderia ser diferente, de modo que a música de lançamento mais recente é “Be Good to Yourself”, de 1986, que tem a idade do próprio Rock In Rio. Por causa das limitações de tempo do festival – uma hora redondinha para tocar – algumas canções foram apresentadas de forma reduzida, como “Line Of Fire”, e foram omitidas aquelas deliciosas improvisações instrumentais, em músicas como “Wheel in the Sky”, por exemplo. Ou seja, forma-se um conjunto de senões muito grande para uma ocasião tão especial para quem chegou cedo; não era bem isso que a comunidade hard rock tinha em mente. Daí que a tal trinca de sucessos citada ali em cima tenha sido verdadeiramente tábua de salvação.
O maior deles é “Don’t Stop Believin’”, espécie de tema universal da esperança generalizada, cuja popularidade aumentou consideravelmente depois do longa “Rock of Ages: O Filme”, de 2012, em que Tom Cruise é o protagonista e a música é tema final de comédia romântica, por assim dizer. Uma balada clássica – não música lenta – que é executada com maestria tanto na melodia nos teclados de Cain quanto nas evoluções de guitarra e solos de Schon, e ainda com os ótimos backing vocals de todos os integrantes, artifício fundamental nesse tipo de som. Na empolgação, Arnel Pineda desce do palco para cantar na grade, fazendo o encerramento no local onde a boa música sempre deveria estar: nos braços do povaréu. Não, não pare de acreditar.Set list completo
1- Be Good to Yourself
2- Stone in Love
3- Line of Fire
4- Dead or Alive
5- Faithfully
6- Open Arms
7- Lovin’, Touchin’, Squeezin’
8- Wheel in the Sky
9- Lights
10- Separate Ways (Worlds Apart)
11- Don’t Stop Believin’
12- Any Way You Want It
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