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Envelhece bem

Com o frescor de um novo guitarrista, Deep Purple brilha com clássicos da era de ouro e algumas novidades no Rock In Rio. Fotos: Vinicius Pereira.

A ambiguidade saúde x energia para manter a chama viva do vocalista do Deep Purple, Ian Gillan

A ambiguidade saúde x energia para manter a chama viva do vocalista do Deep Purple, Ian Gillan

Como que não quer nada, embora seja esse um dos momentos mais esperados da noite, do festival e em todas as apresentações da banda desde (quase) sempre, o guitarrista se aproxima da beirada do palco e, com um som alto pra dedéu, manda um dos maiores riffs da história do rock, para toda humanidade ouvir. Sim, porque não é só a multidão aglomerada no entorno do Palco Sunset, na Cidade do Rock, que absorve tal emoção, de uma das mais bem acabadas obras de arte da segunda metade do século passado. Ok, não é ele o criador de tal riff, mas lhe cabe o papel de rejuvenescer a formação que contém três monstros sagrados que, sim, viram a fumaça na água e o fogo no céu naquela noite dos ricos anos 1970. É assim que Simon McBride, o tal guitarrista, lidera o Deep Purple em um dos momentos mais icônicos desta edição – e de todas – do Rock In Rio, no domingão, 15/9.

“Smoke on the Water”, patrimônio imaterial da humanidade, é cantada a plenos pulmões enquanto o implacável riff atravessa a alma de todo mundo ali. McBride, na banda desde 2022, se sai muito bem no papel de trazer algum frescor ao quinteto, na ativa há mais de 50 anos, e não só no primeiro álbum que gravou, o bom “=1” (leia como quiser), lançado em julho, mas o tempo todo no show que encerra os trabalhos no Palco Sunset. E já começa em “Highway Star”, uma das mais incríveis aberturas de um show de rock de que se tem notícia. Mesmo assim, dá uma saudade danada de Ritchie Blackmore, e já se percebe que o incrível baterista Ian Paice, 76, único integrante remanescente da formação original, segue em ótima forma. Nesse giro, o repertório é calcado basicamente na era de ouro da banda, no início dos anos 1970: são nada menos que cinco músicas do álbum “Machine Head” (1972) e outras duas de “In Rock” (1970).

O guitarrista do Deep Purple, Simon McBride: necessária novidade que traz frescor para a banda

O guitarrista do Deep Purple, Simon McBride: necessária novidade que traz frescor para a banda

Das novas – e impressiona que uma banda com esse tempo todo de estrada ainda lance álbum de inéditas -, são duas: “A Bit on the Side” e “Lazy Sod”. A primeira logo na primeira parte, de andamento cadenciado, dá a oportunidade para Ian Gillan ter um melhor desempenho, já que ele se sai bem melhor nas composições mais recentes, do que em clássicos de 50 anos atrás em que, na época, rasgava a voz em gritos alucinantes e alcances inimagináveis. “Lazy Sod”, carregada por um ótimo riff, daqueles que só o Purple acha, chama mais a atenção da plateia. As duas brilham também pela peculiar fusão de teclado de cunho erudito com riffs de guitarra, em que pese a discreta mas eficiente colaboração do baixista Roger Glover. O tecladista Don Airey, o homem por trás de “Mr Crowley”, e que esteve no Rock In Rio de 1985, justamente na banda de Ozzy Osbourne, vai bem nessa, além de mandar um solo, reduzido por causa do tempo curto, mas divertido, logo no começo.

O tempo curto soma uma horinha só e cerca de quatro ou cinco músicas a menos em relação a um show completo dessa turnê, o que pelo lado positivo realça o suprassumo do repertório atual no Rock In Rio. E dá a chance para que Gillan – repita-se – se apresente bem. Porque um show do Deep Purple com essa formação, já há algum tempo, depende fundamentalmente da saúde do vocalista, 79, não só vocal. E as notícias não são muito boas quando o telão lhe dá um close em que se vê o tremer das mãos ao segurar o microfone, e ainda tem o caminhar meio deambulante pelo palco. A ambígua sensação é de orgulho de vê-lo manter o legado vivo, mas de dó por ver alguém que já fez tanto pelo universo dor rock, em delicada situação. No fim das contas, não compromete a apresentação, turbinada também pelo ótimo som do Palco Sunset, em sua estreia, nesta edição do festival, em tamanho e potência sonora como concorrente direto do Palco Mundo, onde tradicionalmente os problemas acontecem.

Único remanescente da formação original, o baterista Ian Paice, aos 76, segue em ótima forma

Único remanescente da formação original, o baterista Ian Paice, aos 76, segue em ótima forma

O show dá tão certo que é notável e a reação da plateia e como isso mexe com os músicos, sobretudo com Gillan. Também pudera, quase todas as músicas têm as letras cantadas a plenos pulmões por gente de várias idades, realçando que os clássicos do Purple envelhecem bem demais. E isso sem contar as músicas que já vêm com aquele delicioso cantarolar intuitivo. Casos de “Black Night” e “Hush”, ambas no bis, que puxam o coro do povaréu e cuja melodia segue habitando a cabeça da gente até o BRT chegar ao destino final. Fica faltando música? Claro que sim, afinal são 23 álbuns em mais de 50 anos e um sem-número de fases e formações; imagine uma “Perfect Strangers” aqui e outra “Woman From Tokyo” acolá… Mas a escolha do repertório de clássicos setentistas + novidades do novo álbum e o frescor trazido por um nova integrante é que marcam essa ótima apresentação do Deep Purple – antes tarde do que nunca - no Rock In Rio.

Set list completo

1- Highway Star
2- A Bit on the Side
3- Into the Fire
4- Solo teclado
5- Lazy
6- When a Blind Man Cries
7- Lazy Sod
8- Anya
9- Space Truckin’
10-Smoke on the Water
Bis
11- Hush
12- Black Night

Don Airey, atrás da essencial tecladeira característica do som do Deep Purple: riffs pesados + erudição

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Leandro Nardini em setembro 17, 2024 às 11:13
    #1

    Legal terem tocado ANYA de 1993, última vez em que a formação clássica se reuniu (Blackmore na guitarra, Gillan no vocal, Jon Lord (RIP) no órgão Hammond e teclados. Além de Glover e Paice.
    Gillan ja foi o maior vocalista de rock do mundo, mas hoje é o responsável por não permitir que Blackmore faça um último show com eles (lembrando que ambos estão com 79 anos mas as vezes se comportam como crianças birrentas)

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