Que alegria…
Reflexiva, Tarja Turunen segue consolidando a carreira solo em ótimo show no Rio. Fotos: Daniel Croce.
Cinco delas estão no álbum mais recente, “In The Raw”, lançado em 2019, que é, portanto, o tema central da turnê. A que vai melhor ao vivo é “Goodbye Stranger”, que, a despeito da ausência de Cristina Scabbia, do Lacuna Coil, que contribui no disco, se resolve pelo ótimo refrão, grudento que só ele. Tarja também tem ótima performance nessa música, sem necessariamente buscar notas mais altas, mas empostando a voz de forma espontânea, menos lírica e mais ordinária, e isso é bom. Outra das novas que realça no show é “Serene”, na abertura, belíssima canção que tem certeira mistura de peso e sotaque pop que a carreia solo da cantora vem buscando ao longo dos anos, nem sempre com sucesso.
A banda tem o guitarrista e colaborador de longa data Alex Scholpp, que além de multi-instrumentista nas gravações, no palco faz um interessante contraponto vocal no modelo paradoxal gutural versus lírico tão usado nesses tempos. Acontece em “Anteroom Of Death”, lá de trás do início da carreira solo, e que coloca o público pra pular, apesar das idas e vindas da música, e em “Planet Hell”, a única do Nightwish incluída no show, outro grande momento da noite. Nesse terreno pantanoso, e já se aproximando dos 20 anos desde a saída da banda que lhe deu projeção, Tarja bem que poderia salpicar o show com músicas menos conhecidas daquela época, muito embora uma “Nemo” aqui ou uma “Sacrament of Wilderness” acolá também não fariam mal.Em “Victim of Ritual”, Tarja ri de si mesma ao ‘impor’ o alcance de soprano ao público naquele “ô-ó-ô-ó” perfeitamente inalcançável, ou ainda quando força o R de ritual, em uma das passagens mais divertidas da noite. O show tem ainda sucessos da carreira solo que incluem a soturna convertida em divertida “I Walk Alone” e “Until My Last Breath”, que arremata os 90 minutos com a pressão lá em cima, e “Dead Promisses”, outra das novas, de conceito meio tribal. O que mostra uma Tarja cada vez menos comprometida com aquela coisa sinfônica de tempos idos (o Nightwish surgiu como uma banda de gothic metal, diga-se), e usando seus dotes vocais para reforçar música pesadas, sim, mas na maior parte do tempo, mais cativantes que intrincadas, e isso não é de hoje. O mais importante, contudo, é que ela – e os shows, ufa! – estão de volta.
Na abertura chamou a atenção a banda paulistana Allen Key, não pelo show em si, mas pela equipe de produção envolvida, além de uma inesperada participação de boa parte do público, que conhece a banda há tempos, ao que parece. O quinteto faz um som confuso, com referências a muitos subgêneros do metal, mas sem trilhar um caminho mais definido, o que ainda pode rolar com mais tempo de estrada. Ademais, na maior parte do tempo soa como aquele metal de baixa pressão, em que pese o ótimo baterista Felipe Bonomo. As músicas mais legais ficaram para a metade final do show, incluindo o encerramento com “The Last Rhino”, faixa título do álbum de estreia. A nota ruim vai para o desnecessário cover de cantora pop. Aí não, né, pessoal?Set list completo Tarja Turunen
1- Serene
2- Demons in You
3- My Little Phoenix
4- Anteroom of Death
5- Diva
6- Goodbye Stranger
7- Falling Awake
8- Planet Hell
9- The Golden Chamber (Loputon Yö)
10- Oasis
11- Undertaker
12- Tears in Rain
13- Victim of Ritual
14- Innocence
15- I Walk Alone
16- Dead Promises
17- Until My Last Breath
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