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Antecipando o Lollapalooza em show no Rio, A Day to Remember mostra que é melhor e bem mais pesado em cima de um palco. Fotos: Daniel Croce.

O bom frontman do A Day to Remember, Jeremy McKinnon, com variações entre vocais limpos e rasgados

O bom frontman do A Day to Remember, Jeremy McKinnon, com variações entre vocais limpos e rasgados

O pano gigante que desce no fundo do palco para compor o cenário mostra que com a atração de fundo da noite a coisa é diferente. A formação, mais enxuta que a da banda de abertura, tem um quarteto bem mais experiente e rodado do que aquele mesmo que esteve nessas terras no já longínquo ano de 2014. Apresentação que, por isso mesmo, poucos desses que hoje enchem o Vivo Rio, no Rio, nesta quarta (23/3) devem ter acompanhado. Com esse ar de première é que o A Day to Remember encaçapa uma pedrada atrás da outra, quase todas elas cantadas a plenos pulmões pelo bom público que tem ainda em mente a boa apresentação do Alexisonfire (veja como foi), a tal banda de abertura. Os shows antecipam a participação das duas bandas no Lollapalooza, que acontece nesse final de semana, em São Paulo.

A rigor, nem era para se assim. Porque o post hardcore praticado pelo quarteto mostra outras facetas do gênero, e como pode ele próprio revelar riquezas e variações incomuns ao sentido geral que se tem no meio. A principal delas é um flerte descarado com o poppy punk de Green Day e adjacências, do qual sobretudo do ponto de vista da imagem, a banda faz sua carreira deslanchar; assista aos clipes e se veja dentro de um filme do tipo besteirol hollywoodiano. E o Green Day citado ali em cima é só um nomão para ampliar as referências, porque a coisa vai mesmo é na periferia de um New Found Glory aqui ou um Bowling For Soup acolá. Só que, no palco, o som é bem mais encorpado e pesado pra dedéu, muito por conta da pegada quase metálica do batera Alex Shelnutt, e dos efeitos usados nas guitarras de Neil Westfall e Kevin Skaff, que não fazem sentir a ausência de um baixista, desde a recente saída de Joshua Woodard.

O guitarrista Neil Westfall, mais preocupado com a base: nem se percebe a ausência de um baixista

O guitarrista Neil Westfall, mais preocupado com a base: nem se percebe a ausência de um baixista

Por isso em músicas como “Last Chance to Dance (Bad Friend)”, do repertório mais recente, do álbum “You’re Welcome”, lançado no ano passado, e “Rescue Me”, aquela marcação riffônica pesada de bater a cabeça explode nos tímpanos, mas, de minuto a outro, tudo pode mudar para o punk bubblegum mais pueril. E aí entra o mérito de Jeremy McKinnon, cujas variações vocais, do timbre mais rasgado ao mais limpo e cínico até, são muito bem sacadas de um gogó privilegiado. Ademais, se porta como ótimo frontman ao interagir com o público e sem deixar o impávido cabelinho grudado no coco desmanchar o penteado típico dessa geração. No bis, ele ainda se arrisca em um violão na parte inicial, semiacústica, de “If It Means a Lot to You”, um grude que vem com um “blábláblá” embutido e o povaréu adora.

Público que a banda tem na mão na maior parte do tempo, mesmo nas músicas mais novas, quatro no total. Além de “Last Chance to Dance (Bad Friend)”, “Degenerates”, na sequência de uma trinca porrada logo no início da noite; “Mindreader”, uma das menos reconhecidas; e “Resentment”, introduzida com um tecladinho malandramente pré-gravado pra ficar que nem a versão do álbum. Pra ajudar, dois “efeitos de agitar plateia” manjados ainda são usados: as bolas coloridas lançadas sobre o público (e depois recolhidas) em “Right Back at It Again”, e os rolos de papel higiênico fazendo as vezes de serpentina, no encerramento da primeira parte, na animada “All Signs Point to Lauderdale”. Nada que se compare com um show do Kiss, do Coldplay ou do Green Day mesmo, mas alto lá, cada coisa no seu lugar.

Kevin Skaff, o outro guitarrista do ADTR, que também se arrisca nos vocais em algumas músicas

Kevin Skaff, o outro guitarrista do ADTR, que também se arrisca nos vocais em algumas músicas

Depois da derrapagem acústica, o bis vai ao extremo da agitação com a sequência ligeira de “Sometimes You’re the Hammer, Sometimes You’re the Nail” e “The Plot to Bomb the Panhandle”. A primeira soa como um direto nos cornos do desavisado, um post hardcore raiz dos bons. E a segunda faz desaguar o derradeiro momento pula-pula que o participativo público merece, dessa vez com trecho cantado quase à capela e um “ôôô” tomado emprestado de qualquer canção pop que vier à cabeça. No fim das contas, da abertura sinistra com o tema de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” até as 18 músicas tocadas em cerca de 75 minutos, o A Day to Remember prova que a sonoridade incomum ao meio que pertence é melhor e bem mais pesada em cima de um palco. Que bom!

Set list completo

1- The Downfall of Us All
2- All I Want
3- Paranoia
4- Degenerates
5- 2nd Sucks
6- Right Back at It Again
7- Rescue Me
8- Have Faith in Me
9- Last Chance to Dance (Bad Friend)
10- Mr. Highway’s Thinking About the End
11- Mindreader
12- Reassemble
13- I’m Made of Wax, Larry, What Are You Made Of?
14- Resentment
15- All Signs Point to Lauderdale
Bis
16- If It Means a Lot to You
17- Sometimes You’re the Hammer, Sometimes You’re the Nail
18- The Plot to Bomb the Panhandle

Bom de palco, o vocalista Jeremy McKinnon não se furta em encarar o público e o fotógrafo, um por um

Bom de palco, o vocalista Jeremy McKinnon não se furta em encarar o público e o fotógrafo, um por um

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