O Homem Baile

Teatro do exagero

Metal de baixo impacto do Powerwolf amplifica entorno e diminui importância da música, em show com ótima adesão do público. Fotos: Frederico Cruz.

O vocalista do Powerwolf, Karsten Brill, no papel de Attila Dorn, de conversa no centro do palco

O vocalista do Powerwolf, Karsten Brill, no papel de Attila Dorn, de conversa no centro do palco

O roteiro de um show de metal, em geral, já é bastante conhecido, mas o Powerwolf, a título de explorar certa teatralidade, super as expectativas e vai longe demais. A cada música, os dois guitarristas deixam o palco para que o vocalista Karsten Brill, no papel de Attila Dorn, dê alguma explicação sobre o número seguinte, ou instigue o público a participar de uma forma ou de outra. Ao lado dele, funciona como bobo da corte o tecladista Falk Maria Schlegel, espécie de Papa Emeritus mímico que, em tese, deveria estar preocupado em fazer as linhas de baixo em uma banda de heavy metal que simplesmente não tem baixista em suas fileiras; tudo gravado. É assim que se desenrola o show da banda alemã na abertura para o Amon Amarth (veja como foi), no último domingo (8/3), no Circo Voador.

E como reage o público a tal teatrinho mais do que ensaiado e previsível? Com indiferença? Indignação? Não, com uma participação estupenda, como se fosse a apresentação a melhor de todos os tempos, a ponto de surpreender os próprios integrantes da banda, em que pese as elogios clichê de sempre. É como se o público, feito claque, também fizesse parte do roteiro, muito bem ensaiado e que, segundo consta, se repetiu por todas as cidades nessa turnê – a primeira do Powerwolf – pelo Brasil. Não é exagero relatar que a plateia reagiu com entusiasmo em todas as músicas e em todos os intervalos, nos momentos de palestra de Bril, assessorado sempre por Schlegel, em mais que suspeita linearidade que, de certo modo, inibe a música em si.

Não que não apareçam no repertório músicas boas, afinal trata-se de uma banda com 17 anos nas costas e sete álbuns lançados. É por isso que realçam, mais pelo fator boa composição do que pela execução em si, “Demons Are a Girl’s Best Friend”, a mais colante – pode chamar de pop - entre as três do disco mais recente, “The Sacrament Of Sin”; “Amen & Attack”, uma daquelas em que Karsten Brill testa se o público sabe a letra antes de começar; e “Sanctified With Dynamite”, talvez a que mais dê importância para aquilo que deveria ser o mais notável em um show de heavy metal, os pesados riffs de guitarra. Porque, a julgar por essa noite, no Powerworf os guitarristas Benjamin Buss e David Vogt são reles coadjuvantes, e isso em uma formação – repita-se – sem baixista.

Karsten Brill entre os guitarristas coadjuvantes Benjamin Buss e David Vogt: metal de baixo impacto

Karsten Brill entre os guitarristas coadjuvantes Benjamin Buss e David Vogt: metal de baixo impacto

É o que contribui para fazer do som da banda espécie de metal de baixo impacto, com a música desvalorizada em meio a exageros teatrais que incluem bandeiras, frade conduzindo um turíbulo vazio e assim por diante. De olhos fechados, dificilmente um incauto que passasse pela entrada do Circo Voador cravaria se tratar de uma banda e metal. Mas, ao mesmo tempo, ele também perceberia a empolgação do público, exagerada na mesmíssima medida, o que, vamos e venhamos, confere certa credibilidade ao espetáculo em si. É o que acontece em um desfecho com ares épicos na vampiresca “We Drink Your Blood”, que incrivelmente deixa a sensação de que uma horinha foi pouco para a claque.

Set list completo:

1- Fire and Forgive
2- Army of the Night
3- Incense & Iron
4- Amen & Attack
5- Demons Are a Girl’s Best Friend
6- Armata Strigoi
7- Sanctified With Dynamite
8- Resurrection by Erection
9- Werewolves of Armenia
10- We Drink Your Blood

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado