Teatro do exagero
Metal de baixo impacto do Powerwolf amplifica entorno e diminui importância da música, em show com ótima adesão do público. Fotos: Frederico Cruz.
E como reage o público a tal teatrinho mais do que ensaiado e previsível? Com indiferença? Indignação? Não, com uma participação estupenda, como se fosse a apresentação a melhor de todos os tempos, a ponto de surpreender os próprios integrantes da banda, em que pese as elogios clichê de sempre. É como se o público, feito claque, também fizesse parte do roteiro, muito bem ensaiado e que, segundo consta, se repetiu por todas as cidades nessa turnê – a primeira do Powerwolf – pelo Brasil. Não é exagero relatar que a plateia reagiu com entusiasmo em todas as músicas e em todos os intervalos, nos momentos de palestra de Bril, assessorado sempre por Schlegel, em mais que suspeita linearidade que, de certo modo, inibe a música em si.
Não que não apareçam no repertório músicas boas, afinal trata-se de uma banda com 17 anos nas costas e sete álbuns lançados. É por isso que realçam, mais pelo fator boa composição do que pela execução em si, “Demons Are a Girl’s Best Friend”, a mais colante – pode chamar de pop - entre as três do disco mais recente, “The Sacrament Of Sin”; “Amen & Attack”, uma daquelas em que Karsten Brill testa se o público sabe a letra antes de começar; e “Sanctified With Dynamite”, talvez a que mais dê importância para aquilo que deveria ser o mais notável em um show de heavy metal, os pesados riffs de guitarra. Porque, a julgar por essa noite, no Powerworf os guitarristas Benjamin Buss e David Vogt são reles coadjuvantes, e isso em uma formação – repita-se – sem baixista.
É o que contribui para fazer do som da banda espécie de metal de baixo impacto, com a música desvalorizada em meio a exageros teatrais que incluem bandeiras, frade conduzindo um turíbulo vazio e assim por diante. De olhos fechados, dificilmente um incauto que passasse pela entrada do Circo Voador cravaria se tratar de uma banda e metal. Mas, ao mesmo tempo, ele também perceberia a empolgação do público, exagerada na mesmíssima medida, o que, vamos e venhamos, confere certa credibilidade ao espetáculo em si. É o que acontece em um desfecho com ares épicos na vampiresca “We Drink Your Blood”, que incrivelmente deixa a sensação de que uma horinha foi pouco para a claque.Set list completo:
1- Fire and Forgive
2- Army of the Night
3- Incense & Iron
4- Amen & Attack
5- Demons Are a Girl’s Best Friend
6- Armata Strigoi
7- Sanctified With Dynamite
8- Resurrection by Erection
9- Werewolves of Armenia
10- We Drink Your Blood
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