Encorpado
Som com peso poderoso do Amon Amarth é tema de festa viking em um ótimo show no Circo Voador. Fotos: Frederico Cruz.
Não é a primeira vez que isso acontece e exemplos é que não faltam no cancioneiro death metal melódico do grupo sueco, muitas vezes mais identificado com a temática viking do que pelo som que forja sob esporro há quase três décadas. Não por acaso uma espécie de martelo de Thor circula pelos braços do público até chegar ao palco, e o vocalista Johan Hegg amacia o vozeirão de barítono bebendo cerveja gelada usando um chifre que carrega na cintura como taça. E títulos como “The Pursuit of Vikings”, esse sim um clássico, que abre a noite com um cantarolar que ecoa pela Lapa de música ruim, e “The Way Of Viking”, outra peça colante nos cornos, explicam a obsessão do quinteto pelo tema, em um encaixe mais que perfeito que só um subgênero receptivo como o metal pode abrigar com tamanha naturalidade, como se tudo fosse assim desde sempre.
Há que se salientar que, a despeito do sempre suspeito adjetivo melódico, os guitarristas Olavi Mikkonen e Johan Söderberg desenvolvem um excepcional trabalho de guitarras, quase sempre dobradas, que realçam as tais melodias. Acontece no embalo do riff matador de “Deceiver Of Gods”, pinçada do meio do set list para o início da noite; em “Way Of Vikings”, onde o batera Jocke Wallgren, caçula na turma, espanca os bumbos duplos sem dó; e em “War of The Gods”, conduzida por riffs matadores. Mikkone, integrante fundador, assim como Hegg e o baixista Ted Lundström, é quem quase sempre faz os solos, mas não é esse artifício o mais importante na elaboração do som bem sucedido do Amon Amarth. Aqui conta a capacidade de tecer boas músicas e melodias sob um esporro dos infernos, com Joahn Hegg cuspindo tijolos na plateia.O tal disco mais recente se chama “Berserker”, saiu em maio do ano passado e cede quatro músicas ao show. Além do efeito instantâneo causado por “Crack the Sky”, chama a atenção “Raven’s Flight”, com um inusitado groove de fazer o Sepultura reivindicar autoria. A música é um cruzamento com o nu metal e coloca a plateia a alternar o pula-pula típico com as rodas de dança sem fim e o elementar bater de cabeça. O público, aliás, é bastante participativo o tempo todo, como se o material novo lhe fosse familiar há tempos. Tanto que nos raros intervalos muitas vezes a fala de Hegg, que não esquece de citar a comemoração do Dia Internacional da Mulher, é interrompida por aplausos e gritos do nome da banda. Já é assim por essas plagas – diga-se de passagem - desde 2014; relembre.
Afora o chifre/copo preso à cintura de Johan Hegg, o visual do palco preza pela simplicidade e tem os integrantes de preto com uma camisa da banda com o discreto logotipo. O cenário de palco é fixo e cabe ao movimento das luzes os efeitos mais significativos. Pena a apresentação durar uma hora e meia mais ou menos, mas o desfecho é mesmo de deixar saudades, seja pela força de “Twilight of the Thunder God”, isolada no bis e que tem a cantoria garantida em êxtase pela plateia; pelo simbolismo de “Raise You Horns”; ou na coreografia ensaiada de supetão de “Guardians of Asgaard”, outra em que o brilho dos guitarristas é evidenciado pela própria natureza da composição. Que venha, então, o próximo baile.
Set list completo:1- The Pursuit of Vikings
2- Deceiver of the Gods
3- First Kill
4- Runes to My Memory
5- Fafner’s Gold
6- Crack the Sky
7- The Way of Vikings
8- The Fate of Norns
9- Asator
10- Death in Fire
11- War of the Gods
12- Raven’s Flight
13- Shield Wall
14- Guardians of Asgaard
15- Raise Your Horns
Bis
16- Twilight of the Thunder God
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