O Homem Baile

Honesto

Entre grandes hits, baladas, pop e rock, Bryan Adams se sai bem ao vivo com ótima banda e interação com o público. Fotos: Daniel Croce.

Bryan Adams aponta e agita o público já na primeira música do bom show neste sábado, no Rio

Bryan Adams aponta e agita o público já na primeira música do bom show neste sábado, no Rio

É ainda a primeira parte do show e o vocalista, que também toca guitarra e é um gigante do pop rock global, tem como dueto um amigo de longa data com uma guitarra surrada à tiracolo, daquelas que se vê a madeira surgir por debaixo de desgastados acabamentos. O duelo, como se possível fosse, se dá nas seis cordas e também nos vocais, muito embora o tom roufenho do primeiro seja inigualável, sendo essa uma de suas mais reconhecíveis características, e o público sabe bem disso. Mesmo assim, Bryan Adams cede e Keith Scott envereda por um debulhante solo, com malabarismos de fazer a guitarra girar sobre o próprio tronco. A música é “Its’ Only Love”, hit cuja gravação original tem os vocais de Tina Turner, e a noite deste sábado (19/10), na Jeunesse Arena, no Rio, já começa a cumprir o que promete.

Ou até mais do que o esperado. Porque a imagem de um cantor canastrão que muitas vezes Adams passa por conta da superexposição de baladas (ou quase baladas) em emissoras de rádio e programas de TV pra lá de duvidosos logo se dissipa. Não só pelo repertório, que não omite esses sucessos e acrescenta rocks com mais pegada e bons riffs, mas também por ser escoltado por uma banda redondinha, com bons músicos como o próprio Scott e o baterista Mickey Curry, outro old school da turma, todos em forma e vestidos de preto. Acrescenta-se um palco com profundidade recorde e pé direito avantajado, a ponto de reduzir a Arena à metade, com um telão quase no modo “U2 Joshua Tree 30 anos” (relembre aqui e aqui), reproduzindo imagens ao vivo do próprio show, e a festa do entretenimento, com muita interação com o público, está pronta.

O ótimo Keith Scott, que acompanha Bryan Adams desde a década de 1980, e sua guitarra surrada

O ótimo Keith Scott, que acompanha Bryan Adams desde a década de 1980, e sua guitarra surrada

Numa dessas interações, Bryan Adams, falando em português por vezes lido no monitor, noutras mesmo de improviso, avisa que quem dançar direitinho na recente “You Belong to Me”, um rock’n’roll de baile dos anos 50, vai aparecer no telão, e as figuraças da arquibancada fazem a festa da plateia. Ele e todos na banda acabam na beirada do palco rebolando cada qual a sua desajeitada maneira. Também chama a tenção a dobradinha “The Only Thing That Looks Good on Me Is You”, de simplicidade em guitarrinha das boas e que termina com Adams “uivando”, e “Cuts Like a Knife”, um rock midtempo acrescido de raro cantarolar que faz toda a diferença ao vivo. É a turnê do álbum “Shine a Light”, lançado em março, e a faixa título, por força da vocação, resulta naquele belo show de lanternas acesas no meio do público.

Outra desse trabalho é “The Last Night on Earth”, um pop rock colante que abre o show em ótima vibe, com a letra da música exibida no telão pra todo mundo cantar. No bis, Bryan Adams aparace com “Straight From the Heart”, com violão e harmônica, e mantém três números nesse formato, sem a banda para ao menos se despedir, o que resulta em um grande anticlímax, ainda mais depois do desfecho da primeira parte, com a ótima “Summer Of ‘69”, em implacável sintonia público/artista. Antes, Adams e banda brilham em “18 till I Die”, espécie de “My Generation” dele, com explícita citação a The Who (“Teenage Wasteland” feelings), e em um início com quatro músicas tocadas direto, coladas umas na outras, incluindo “Run to You”, uma das cinco do álbum “Reckless”, seu maior sucesso, de 1984, incluídas no show.

O sempre discreto, mas eficiente baixista da boa banda de Bryan Adams, Solomon Walker

O sempre discreto, mas eficiente baixista da boa banda de Bryan Adams, Solomon Walker

Não ficam de fora – repita-se – aquelas músicas que todo mundo conhece, mas nem todos sabem de quem é. “Heaven”, por exemplo, é reconhecida com metade da primeira nota do pianista Gary Breit e o público é colocado para cantar na primeira parte inteira, em um clima romântico até, com arremate de ótimo solo de Scott . A açucarada “(Everything I Do) I Do It for You” (sim, é dele) realça a dança de casais em tudo o que é lado, mas parece que até agora a música não começou pra valer, e “Have You Ever Really Loved a Woman?” com dois violões, é disparado o pior momento da noite, incluindo o clipe com atores mascarados exibido no telão. Nessa mistura de bom gosto com gosto ruim, rocks e baladas, pop e rock, contudo, é que Bryan Adams transita, e, no fim das contas faz boas apresentações como a dessa noite. Pode acreditar.

Set list completo:

1- The Last Night on Earth
2- Somebody
3- Can’t Stop This Thing We Started
4- Run to You
5- Shine a Light
6- Heaven
7- Go Down Rockin’
8- It’s Only Love
9- Cloud #9
10- You Belong to Me
11- Have You Ever Really Loved a Woman?
12- Here I Am
13- When You’re Gone
14- (Everything I Do) I Do It for You
15- Back to You
16- The Only Thing That Looks Good on Me Is You
17- Cuts Like a Knife
18- 18 til I Die
19- Please Forgive Me
20- Summer of ‘69
Bis
21- Straight From the Heart
22- Let’s Make A Night To Remember
23- All For Love

Bryan Adams se revezou entre guitarras e vilões e tocou ate harmônica no final do show do Rio

Bryan Adams se revezou entre guitarras e vilões e tocou ate harmônica no final do show do Rio

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