O Homem Baile

Teve bolo

Steve Vai assopra as velinhas dos 59 anos em ótimo show na edição de estreia do Rio Montreux Jazz Festival. Fotos: Daniel Croce.

O aniversariante Steve Vai esmerilha a guitarra na noite de estreia do Rio Montreux Jazz Festival

O aniversariante Steve Vai esmerilha a guitarra na noite de estreia do Rio Montreux Jazz Festival

A cena é inesperada, mas o duelo de guitarras come solto na beirada do palco para satisfação ampla de uma plateia das mais diversificadas. De um lado, um mestre da guitarra solo, um mago, um incorrigível encantador das seis cordas. De outro, seu convidado e desafiante, um dos maiores representantes da música brasileira extramuros em todos os tempos, no modo instrumentista virtuose. Juntos, esmerilham suas guitarras sem dó, em diálogo e extraordinária performance de lado a lado. É assim que Steve Vai recebe o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, no palco do Rio Montreux Jazz Festival, nesta quinta (6/6), no Rio. A música é “The Murder Jam”, mas isso é o que menos importa ante ao súbito entrosamento que brota em um dos momentos, de antemão, mais marcantes da edição de estreia do tradicional festival suíço na Cidade Maravilhosa.

O espetáculo de generosidade, coisa não tão comum em se tratando de guitarristas solo do naipe de Vai, sempre apontados como ególatras, contudo, começa bem antes. Já nas primeiras músicas ele impinge duelos com os músicos de que o acompanham. Em “Velorum”, a segunda música, é o atento baterista Jeremy Colson e suas mãos pesadas que tenta acompanhar o passear de dedos do guitarrista, sensação que se repete em vários trechos do show; ele ainda faria um trechinho de “Refuse/Resiste, do Sepultura, junto com Andreas, só de farra. Na boa “The Animal”, a deixa é para o baixista Philip Bynoe mostrar sua virtuose em seis cordas tocadas pra valer, não é só figuração. E isso sem falar no guitarrista Dave Weiner, desafiante nato, escada e base para o brilho de Steve Vai, que ainda se vira nos teclados quando necessário, com ótima desenvoltura.

Vai duela com o bom guitarrista Dave Weiner, que ainda se vira nos teclados quando necessário

Vai duela com o bom guitarrista Dave Weiner, que ainda se vira nos teclados quando necessário

A banda é a mesma que veio ao Brasil há exatos dois anos (veja como foi no Imperator, no Rio), na turnê de comemoração do aniversário de 25 anos do lançamento do álbum “Passion And Warfare”, o de maior sucesso de Vai e que catapultou o guitarrista definitivamente para o estrelato. E o repertório desse que é o primeiro show do músico esse ano tem muito daquele show, com nada menos que sete músicas do disco entre as 13 tocadas. O que inclui, como na tal turnê em que o disco foi tocado na íntegra, as participações gravadas em vídeo de Joe Satriani (hilário, com vária figurinos) e de John Petrucci (guitarrista do Dream Theater), que tocam com Vai como se no palco estivessem respectivamente em “Answers” e “The Audience is Listening”. Parece bobagem, mas o público adora.

No telão ainda aparece o guitarrista do Queen, Brian May, que soa mais como carta de recomendação, e cenas dos clipes das músicas de Vai. Ele também faz uma desnecessária “live” para homenagear Petrucci, com o auxílio da plateia; o show por si só é que é a “live” real. Mas o guitarrista está completando 59 anos e tudo pode no palco, o que inclui, no bis, a invasão de seu filho Fire e de toda a equipe de produção, com um bolo para que as velinhas sejam assopradas. “Estou ficando velho, ‘unsexy’”, lamentava ele no início da noite, “mas quer saber, nunca me senti tão bem, meu médico me expulsa do consultório toda vez que vou lá”, comemora. Em termos de figurino, guarda certa discrição, sem as capas e a cabeleira esvoaçantes, capacetes luminosos e afins usados em outras turnês.

Steve Vai com a guitarra 'levitante' e o ótimo baterista Jeremy Colson e suas mãos pesadas no fundo

Steve Vai com a guitarra 'levitante' e o ótimo baterista Jeremy Colson e suas mãos pesadas no fundo

Mesmo assim, segue se exibindo com grande eloquência, soprando literalmente não só as velinhas do bolo, mas as cordas da guitarra, usando a língua para tocar e levando o instrumento para as mãos do público, na beirada do palco. O arremate da noite é com a sensível e cada vez mais aprimorada “For The Love Of God”, uma das mais belas composições instrumentais já feitas, e seguramente o high light da carreia de Vai. Mas números como “Whispering a Prayer”, com teclados no lugar da segundo guitarra, puro feeling em estado refinado, e “Liberty”, são de arrebatar até quem entrou o Armazém 2 do Pier Mauá sem saber muito o que iria acontecer. Em quase duas horas de um show atlético, Steve vai se despede com jeitão de quem quer ficar mais um pouco, mas há uma torta para ser fatiada lá nos bastidores desse quase sessentão com semblante de garoto. Parabéns pra você, Steve!

Set list completo:

1- Racing The World
2- Velorum
3- The Animal
4- Tender Surrender
5- Answers
6- Whispering a Prayer
7- The Crying Machine
8- The Audience is Listening
9- Sisters
10- The Murder Jam
11- Liberty
12- For The Love Of God
Bis
13- Fire Garden Suite IV - Taurus Bulba

Dave Weiner, Jeremy Colson, Steve Vai e o baixista Philip Bynoe brilham no palco Rio Montreux

Dave Weiner, Jeremy Colson, Steve Vai e o baixista Philip Bynoe brilham no palco Rio Montreux

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