O Homem Baile

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Veterano, Vibrators mostra vitalidade em show com músicas chave para entender a transição entre o punk e a new wave. Foto: Marcelo Pereira.

vibrators19-1O som que sai dos amplificadores para e o público canta um refrão dos mais simples como se não houvesse manhã, em rara noite de domingo, também conhecido como véspera de segunda-feira. Pode não parecer, mas não é uma noite qualquer quando se está diante de uma das grandes lendas do punk rock britânico original, de raiz, mais de 40 anos depois daquela incrível revolução sócio cultural que abalou o planeta. Ou parte dela, já que o baterista é o único que fez parte da formação original do Vibrators, que tem em “Baby Baby” o ponto alto do show no La Esquina, em plena Lapa do mau gosto, no Rio, neste 2 de maio. Ou mesmo de toda a carreira, curta aos holofotes, mas seminal para o que veio depois.

Porque – nem sempre se diz – o Vibrators foi uma das primeiras bandas do punk a mostrar um caminho que levaria para a new wave, e o álbum de estreia, “Pure Mania”, lançado no fatídico ano de 1977, já é um belo exemplo disso. É dele que sai a maior parte das músicas do show – seis no total -, em uma carreira que dura até hoje e mantém o grupo como um dos o mais longevos de sua geração. Uma geração que inclui Sex Pistols, The Clash e Buzzcocks, mesmo que, para pertencer a ela, o Vibrators tenha lançado apenas dois álbuns (o outro é “V”, de 1978) antes de encerrar as atividades em 1980 e voltar em 1982 até chegar nessa noite na Lapa. E com John “Eddie” Edwards, o tal baterista, em ótima forma para honrar a formação original que encantava a juventude no 100 Club, centrão de Londres, naqueles tempos; o grande ausente é Ian Carnochan, o Knox, que deixou a banda e tem discreta carreira solo; relembre o show de 2011, no Rio, com ele no vocal/guitarra.

Além de “Baby Baby”, outros hits do punk, por assim dizer, abalam as estruturas da casa, com o público se acabando de dançar no salão. Como “Disco em Moskow”, que ganhou uma versão em português da Plebe Rude (e o baterista Gutje, da formação original, bateu ponto), pedida desde cedo pelo público; “Automatic Lover”, no fechamento da primeira parte, com cinco músicas tocadas direto, emendadas umas nas outras; e “Sound of The Suburbs”, do The Members, outra referência do punk britânico, do disco de covers “Garage Punk”, de 2009. Disco de onde sai também a colante “Have Love, Will Travel”, do Sonics, que coloca a casa abaixo. Além de Eddie, a formação conta com o guitarrista Nigel Bennett, que já entrou e saiu mil vezes e está desta feita desde 2017, e o baixista Pete Honkamaki, na banda há 16 anos; todos cantam.

A música mais recente do show é “Blackout”, lançada em 2014 no disco “Punk Mania: Return to the Roots”, cantada por Pete, uma porrada com sotaque pop que marca bem o estilo um pé no punk outro na new wave do grupo. Assim como “U238”, uma agradável surpresa no repertório, comandada por Bennett em voz e ótimo solo, numa versão elétrica bem melhor que a acústica que ficou mais conhecida ao longo dos anos; e o público não resiste ao na-na-na que a canção traz de berço. Outros destaques em uma apresentação de pouco mais de uma hora são “Troops Of Tomorrow”, arranjada demais para o punk; “Amphetamine Blue”, a primeira a chamar a atenção na noite; e o bis com a dobradinha “London Girls”/“Wrecked on You”. Um show raro pela representatividade histórica e indispensável para tudo o que é punk rocker de verdade.

Na abertura o público se acabou de pogar com o 77 Idols. Mas também é covardia, já que o grupo, que reúne músicos consagrados no rock carioca, só toca músicas do punk de raiz. E dá lhe Ramones, Sex Pistols, Buzzcocks, Sham 69, Clash e por aí vai, na verdadeira festa punk da noite. Mais cedo, tocaram ainda Ramyrez 77 e Judy and the Outsiders. A primeira mais entrosada e calcada no Ramones e bubblegum adjacente, embora tenha marcado o show por um dispensável falatório, em vez de incluir mais músicas, que é o que interessa em um show. A segunda, ainda bem crua, mas com potencial para crescer dentro do universo punk que a noite pedia. E – importante - com duas meninas, no vocal/guitarra e na bateria.

Set list completo The Vibrators:

1- Bad Time
2- Into the Future (Sex Kick)
3- Amphetamine Blue
4- Whips & Furs
5- Automatic Lover
6- Troops of Tomorrow
7- Have Love, Will Travel
8- U238
9- Blackout
10- Sound of the Suburbs
11- Loose Change
12- Strangers Never (Friends Forever)
13- She’s the One You Need
14- Baby Baby
15- Judy Says (Knock You in the Head)
16- Disco in Moscow
17- Pure Mania
Bis
18- London Girls
19- Wrecked on You

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