Ceifada total
Show número um do novo Circo Voador, Krisiun atropela na abertura para o Cradle Of Filth. Fotos: Daniel Croce.
Ele não se cansa de repetir que não tem palavras para a gradecer, mas a memória não lhe falha ao lembrar que foi o Krisiun que inaugurou este novo Circo Voador (há 15, não 20 anos Alex, fotos aqui, aqui e aqui), depois do fechamento, disputa judicial e construção do novo espaço. Porque a comunicação que funciona, nesse caso, é propositadamente primitiva, através do esporro e da brutalidade musical que saem com violência do palco, com instrumentos em generoso volume e velocidade abissal – tente acompanhar o caminho percorrido pelos dedos do guitarrista Moyses Kolesne no braço da guitarra – e uma bateria tocada monstruosamente por Max Kolesne, o que obriga seus irmãos a cortar um dobrado para acompanhá-lo. O resultado é conhecido e segue amplamente insano.
Como no caso de “Blood Of Lions”, já um clássico, em que Moyses coloca uma de suas mãos para duelar coma outra (?!) no braço da guitarra, enquanto Max senta a mão violentamente, causando grande impacto junto ao público. Ou de “Hatred Inherit”, um pedrada de raiz, do álbum “Conquerors of Armageddon”, de 2000, de início assustador e que evolui em curva exponencial para um nível sônico – com o som já bem equalizado – virtualmente intangível. É a parte final do show e as rodas de sopapo se sobrepõem umas as outras no meio do salão. “Combustion Inferno”, de seu lado, se reveste de uma tensão quase palpável, em meio a outra performance arrojada de Max Kolesne e um ótimo solo de Moyses Kolesne.As duas do novo álbum são justamente a faixa-título, “Scourge of the Enthroned”, um petardo de grande desenvoltura instrumental, mudanças de andamento e bela performance de Moyses, e “Slay the Prophet”, que, com ótimas evoluções de guitarra, é realmente uma das melhores do disco. Uma pena que o grupo não tenha apresentado mais músicas novas, e não é a primeira vez que isso acontece quando o Krisiun toca no Rio logo após o lançamento de um novo trabalho; é preciso repensar isso, mesmo com o tempo curto. O show é entremeado por discursos de defesa do metal nacional, ode ao público local e até ojeriza a políticos de um modo geral, algo perigoso nesses tempos tão estranhos.
O desfecho, depois da alegria geral com “Ace Of Spades”, conhecida por todos, é com “Vengeance’s Revelation”, uma cacetada das antigas atualizada ao vivo e que deixa aquela sensação de que o Krisiun é realmente aquele tipo de banda de metal extremo que, diferentemente de A ou B, parece que nunca vai arrefecer. A nota ruim da noite vai para a mudança nos horários em cima da hora, com o deslocamento do Dark Tower, que faria a abertura, para o encerramento, depois do show do Crade Of Filth. Ocorre que, depois de quase uma hora de troca de palco, um dos integrantes comunicou ao público que esperava, já de madrugada, que o show não iria acontecer por falta de “mínimas condições técnicas”. Coisa mais feia.Set list completo:
1- Ways of Barbarism
2- Ravager
3- Scourge of the Enthroned
4- Slaying Steel
5- Descending Abomination
6- Blood Of Lions
7- Slay the Prophet
8- Combustion Inferno
9- Hatred Inherit
10- Ace Of Spades
11- Vengeance’s Revelation
Tags desse texto: Krisiun