O Homem Baile

Célebre

Plateia entusiasmada impulsiona a boa apresentação do Grave Digger no Rio, com ênfase nos clássicos. Fotos: Frederico Cruz.

O líder do Grave Digger, Chris Boltendahl, único remanescente da formação original, com o gogó em dia

O líder do Grave Digger, Chris Boltendahl, único remanescente da formação original, com o gogó em dia

A alcunha “clássico” é dada pelo próprio vocalista da banda e, de imediato, a reação do público avaliza. É duro cravar que o momento é o mais esperado da noite, mesmo porque, por muitas vezes, a festa feita no salão parece mais animada do que aquela que se desenvolve no palco, em um show para se escrever que o público não é tão grande, mas agita que é uma beleza. Nem sempre no sentido físico, mas com uma cantoria das boas, incluindo um grito de torcida que chega a ser mecânico, insistente, sem fim. Também, pudera. Quem está no palco do Teatro Odisséia na noite desta quinta (25/4) é o Grave Digger, destilando um cabedal metálico de fazer gosto até ao fã menos familiarizado, sobretudo em um clássico como “Excalibur”, uma das mais aguardadas.

Sabe-se, também, que nesse tipo de arranjo um clássico nunca vem desacompanhado e a transição para “Rebellion (“The Clans Are Marching”) é da melhor maneira possível, com o público cantando o refrão, quase que à capela, de antemão, e aí o frontman Chris Boltendahl – dá pra ver no semblante dele - parece querer congelar aquele momento lindo para todo o sempre. Mas o heavy metal tem lá suas peculiaridades e a música guarda outras facetas, a saber: a) O riff pesadaço, bem marcado, esmagando os tímpanos; b) Um solo caprichado – o melhor da noite? – de Axel Ritt, com guitarra empunhada e tudo; e c) Um passeio do mascote HP pelo palco, tocando gaita de foles. É o que se chama de terminar um show em altíssimo astral, com público e banda virtualmente abraçados.

Todo trabalhado do hard rock, o guitarrista Axel Ritt termina o show tocando deitado o palco

Todo trabalhado do hard rock, o guitarrista Axel Ritt termina o show tocando deitado o palco

No início, contudo, não parecia que seria assim. Não que não faltasse apoio de um público – repita-se – animado pra dedéu, mas o show custa a embalar, talvez pela concatenação das músicas, e só começa pra valer em “Lionhert”, praticamente um clássico do power metal dito alemão que sapeca sem dó os ouvidos menos sensíveis. A primeira roda de dança, também, só aparece em “The Dark Of The Sun”, seguida pelo gogó afiado da público. A música é parceira de sua antecessora, a sombria “The Bruce (The Lion King”), uma daquelas com batida marcial e carregada com entorno épico que caracteriza a trajetória do Grave Digger. Ambas marcam um período bem representativo/fértil para a banda, no final dos anos 1990 (“Tunes Of War” é recomendadíssimo), de onde saiu a própria “Excalibur”.

Em quase duas horas de show o repertório cobre boa parte da discografia que importa da banda, com espaço para três do disco mais recente, “The Living Dead”, que saiu no ano passado. “Fear Of The Living Dead” abre a noite assim, assim, com um tímido cantarolar; o bom refrão de “Zombie Dance” (metal + polka?), no bis, salva uma ideia pouco inspirada e converte o salão em inesperada pista de dança; e “Blade of The Immortal” é do tipo que compõe o elenco, ainda que Ritt se esforce um bocado pra acompanhar o peso do baixista Jens Becker, o mais antigo no grupo depois de Boltendahl. O guitarrista não chega a ser um ás em seu instrumento, e isso depõe contra a banda, de um modo geral, e no show em particular. Que acaba por ter seus melhores momentos em grandes clássicos e por conta do entusiasmo generalizado no ambiente.

O veterano baixista Jens Becker com as linhas galopantes características do power metal alemão

O veterano baixista Jens Becker com as linhas galopantes características do power metal alemão

“The Curse Of Jaques”, com tonalidades do progressivo setentista é outra que destoa, embora motive aquele “ôôô” que não pode faltar para uma banda toda trabalhando no épico e ainda realce a boa condição vocal de Chris Boltendahl, que vai às notas mais altas numa boa. Mas o bicho pega pra valer em números como “Highland Farewell”, precedido pelo onipresente grito de “Olê, olê, olê, diguê, diguê”; na recente e contagiante “Call For War”, com o baixo galopante de Becker; e – todo mundo tava lá pra isso mesmo – o arregaço final com “Heavy Metal Breakdown”, cuja alcunha de “clássico”, e não só da banda, mas do heavy metal como um todo, cai certinha. Tanto que a versão tem paradinha no final e até Axel Ritt saindo da mesmice e solando deitado no palco. Um encerramento mais que perfeito para uma banda de incrível constância no cenário metálico mundial.

Set list completo:

1- Fear of The Living Dead
2- Tattooed Rider
3- The Clans Will Rise Again
4- Lionheart
5- Blade of The Immortal
6- Lawbreaker
7- The Bruce (The Lion King)
8- The Dark of the Sun
9- Call For War
10- The Curse of Jacques
11- War God
12- Season of the Witch
13- Highland Farewell
14- Circle of Witches
15- Excalibur
16- Rebellion (The Clans Are Marching)
Bis
17- Healed By Metal
18- Zombie Dance
19- The Last Supper
20- Heavy Metal Breakdown

O baterista Marcus Kniep, caçula na banda, mantém a pegada indispensável ao metal do Grave Digger

O baterista Marcus Kniep, caçula na banda, mantém a pegada indispensável ao metal do Grave Digger

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