O Homem Baile

Sem arestas

Em show fechado em si próprio, Nuclear Assault mira thrash metal oitentista com sintética urgência. Foto: Frederico Cruz.

nuclearassault19-1Não é muito difícil apontar, de antemão, o ponto alto de um show do Nuclear Assault, caso você tenha vivido o boom do thrash metal no final dos anos 1980/início dos 1990. Ou, ao menos, se tenha visto milhares de vezes a exibição daquele videoclipe com a banda tocando em um campo de petróleo com cavalos de pau ao fundo, e era assim – com clipes – que funcionava a coisa na época. Por isso a previsão é mais confirmada que a chuva forte que cai do lado de fora , quando os primeiros acordes de “Critical Mass” aparecem na noite desta terça (23/4), no Teatro Odisséia, no Rio, e o bom público, que já se divertia aos borbotões, entra no modo festa thrash pra valer.

Isso porque a música, talvez o grande hit do grupo, do ótimo álbum “Handle With Care”, de 1989, é precedida por “New Song”, mantendo a dobradinha original e o pico da audiência lá nas alturas, ainda mais se consideramos que o show, como o de 2015 (relembre) no mesmo local, é curto, curtíssimo, quase uma hora redondinha. Contribui o fato de o thrash metal da banda, embora identificado mais com o metal do que com o punk, é de músicas mais curtas, sem muita elaboração estendida, mas de incrível precisão e, por assim dizer, capacidade de síntese. E que, ao vivo, tudo é tocado em impressionante velocidade, numa pressa sagaz que faz do show algo fechado e si próprio, com plena compreensão por parte do público.

Pode-se atribuir essa tal rapidez – e ainda tem mais essa – ao baterista Nick Barker, um diferencial em relação ao show de quase quatro anos atrás. Com serviços prestados a bandas como Dimmu Borgir, Lock Up, Cradle Of Filth e Brujeria, entre outras, esse monstro das baquetas senta os braços rotundamente nos tambores, com um trabalho de duplo bumbo feroz. Também é motivo de comemoração a inclusão de “Betrayal” no repertório do show, numa versão mais destacada do que em 2015, e que explode em outro grande momento do show. E aí realça aquilo que se percebe em toda a noite, a boa condição do vocal de John Connelly, talvez a característica mais marcante da banda, em que pese a potência instrumental que o Nuclear Assault sempre forneceu ao thrash metal globalizado desde então.

Embora tenha lançado o EP “Pounder” em 2015, o trabalho mais recente, apenas “Analog Man In a Digital World” é tocada, quando Connelly saca um aparelho de telefone celular das antigas, confrontando com um mais moderno do baixista Dan Liker. Como se vê, as zoações entre ambos é outra atração do show, principalmente quando há problemas de ajuste na bateria ou antes do anúncio do nome da próxima música, tudo regado a cervejas artesanais – John Connelly no gargalo e Dan Liker na tulipa - solicitadas aos produtores. Connelly, cinquenta e poucos anos, precavido, usa um fichário com as letras das músicas aberto no piso, junto ao microfone, mas as consultas aparentemente não são muito frequentes.

Eric Burke também se diverte com o baixinho, seja em duelos entres os dois guitarristas, em “Vengeance”, por exemplo, ou na gaiatice de começar a ótima “When Freedom Dies” frente a frente, como se um seguisse o modo de tocar do outro. Burke esmerilha a guitarra sem dó e em alta velocidade, sempre apostando corrida com Barker e consigo mesmo. Outras músicas de destaque são a instrumental “Game Over”, que ganha um belo cantarolar por parte do público; o – de novo – gogó afiado de John Connelly em “After The Holocaust”; e o desfecho com “Trail Of Tears”, estendida com guitarra pra todo lado e a horda se estapeando como se fosse pela última vez. E era, pelo menos nessa noite, curta, mas intensa que só ela.

As duas bandas de abertura cumpriram bem o papel, com um comparecimento de público satisfatório para o horário. O Vorgok com um thrash mais brutal, descambando para o death metal e em alta velocidade, a ponto de o vocalista Edu Lopez se mostrar ofegante ao falar com o público entre as músicas. Destaque para a pedrada “Hell’s Portrait”, que começa como quem não quer nada e parte em altíssima velocidade, e para as duas músicas novas que fazem parte do segundo disco, a ser lançado ainda esse ano. Promete. Antes, o veterano Savant marcou presença com menos peso, embora o thrash à Slayer do grupo seja bastante convincente. Músicas como “Third Antichrist”, com ótimo riff e andamento preciso, e a veloz “Suicidal Premonition”, ótimas, marcaram um show, contudo, um tanto disperso.

Set list completo Nuclear Assault:

1- Rise From the Ashes
2- Brainwashed
3- Vengeance
4- After the Holocaust
5- New Song
6- Critical Mass
7- Game Over
8- Butt Fuck
9- Stranded in Hell
10- Sin
11- Betrayal
12- Analog Man In a Digital World
13- F# (Wake Up)
14- When Freedom Dies
15- My America/Hang The Pope/Lesbians
16- Trail of Tears

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Miranda Zero em abril 24, 2019 às 21:46
    #1

    Realmente foi um show foda e divertido. O seu texto excelente como sempre, você fica tão atento aos detalhes, como consegue se divertir também? Mas é isso, descreveu exatamente, pra tristeza de quem não foi e perdeu! Valeu Bragatto!

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