Sobreviventes
Depois de temporal, show curto do Finis Africae tem clássicos, músicas novas e até homenagem a David Bowie. Fotos: Nem Queiroz.
Era para ser a noite em que se escreve que o público é do tipo pequeno, mas que compensa pela animação, mas, vamos e venhamos, não é exatamente o que ocorre. Ou, por outra, até acontece quando Eduardo pede para a banda tocar mais baixo, encaminha o microfone na direção da plateia e dá para ouvir um coro suave em “Máquinas”. A letra nem é das mais fáceis de cantar – “a terra sempre girou em volta do sol” soa deliciosamente bem em tempos de emburrecimento terraplanista -, mas funciona bem. Nem tanto, contudo, em “Armadilha”, justamente o hit maior do Finis, que fecha a noite e é cantada meio que descompassada, em um jeito diferente em relação às gravações em disco, fazendo o público suar o gogó para acompanhar os versos, o que de fato só acontece na segunda parte.
O problema é que o show é curto demais, com quase uma horinha só e sem bis, onde, em que pese o repertório mais marcante da banda não ser tão grande, sente-se falta de músicas como a belíssima “Ética” (“Deve ser a idade média, a idade da pedra…”), “Deus Ateu” e “Ask The Dust”, só para ficarmos com três. Mas teve “Van Gogh”, prima ancestral próxima de “Ética”, realçada com um ótimo solo de Nelson Milese (ele mesmo, do Kongo); “Mentiras”, com levada funk e a bela linha de baixo de Tony Miranda, a voz grave de Eduardo em grande estilo e um encorpado desfecho instrumental; e mesmo a surpreendente “A Queda”, oculta naquele EP do Sebo do Disco, que começa em clima deprê demais até atingir o apogeu com o público – aí, sim – participando bastante.Mas tem – alvíssaras! – músicas novas, que na verdade já vêm sendo tocadas há algum tempo e devem fazer parte de um novo álbum. A mais legal delas é “Abrolhos”, bem ritmada, com sotaque pop rock que cresce no final e tem um bom solo de Cezar Nine, o mais antigo na banda depois de Eduardo de Moraes. Em “Santa Giulia”, são as texturas de guitarra de Milese que se salientam, e “Pretória” compõe bem o elenco, por assim dizer. E tem também – vejam vocês – uma sucinta homenagem a David Bowie, com “Heroes” e “The Man Who Sold The World”, essa mais conhecida pelo acústico-testamento do Nirvana, ambas com bons arranjos. No frigir dos ovos até que a noite rendeu, mas que o show poderia ser maior, ah, poderia. Ao menos a discotecagem voltou com “What Do I Get”, do Buzzcocks, dessa vez para marcar a passagem de Pete Shelley, morto na véspera. E a vida segue.
Set list completo:1- Pretérito
2- Acrobata
3- Vícios
4- Deserto
5- Van Gogh
6- Pretória
7- Mentiras
8- Abrolhos
9- Máquinas
10- Santa Giulia
11- A Queda
12- Heroes
13- The Man Who Sold The World
14- Armadilha
Emocionante!