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Boa renovação

Rob Halford comanda um Judas Priest modificado, mas em grande forma, no encerramento do Solid Rock, no Rio. Fotos: Vinícius Pereira.

O carismático líder do Judas Priest, Rob Halford, demonstra agradecimento com a mão no coração

O carismático líder do Judas Priest, Rob Halford, demonstra agradecimento com a mão no coração

Quando a cortina cai lá está ele, no alto de seus 67 anos, colado na bateria, de costas, segurando o pedestal do microfone com um de seus indefectíveis uniformes. Espera a deixa para, ao se virar de frente, comandar um potente espetáculo para numerosa turba que aguarda, sedenta, por uma saraivada de riffs de guitarra que hão de fazer o ouvido zumbir durante os próximos dias. Ladeado por luzes, muitas luzes, e por coadjuvantes de luxo de pouca e de longa data, Rob Halford é a imagem maior da persistência do heavy metal, e sua voz, moldada por efeitos e com timbres emblemáticos, é também a voz de todo mundo ali nos próximos 90 e poucos minutos. É o Judas Priest, em grande fase, iniciando o show de encerramento do Festival Solid Rock, no Metropolitan, no Rio, neste domingo (11/11).

Tempo suficiente para a banda passar a a moto-niveladora, a retroescavadeira e o trator em cima da terra arrasada pelo Alice In Chains, que tocou antes (veja como foi). Um ataca no fundo na alma; o outro, destrói, em dó, pelo fígado. “Firepower” é a música que abre o show, e mostra a primeira novidade: um álbum novo debaixo do braço repleto de músicas marcantes e que mostra o incrível poder de renovação de uma banda com nada menos que 50 anos de estrada. Se a música é martelo propulsor, as outras três dessa safra incluídas no show não ficam a dever. “Lighting Strikes” se revela um potente e clássico heavy metal, com Halford se reafirmando como um dos maiores intérpretes do gênero, e a nova dupla de guitarristas, Richie Faulkner e Andy Sneap, solapando os ouvidos com intensas evoluções melódicas.

Testada e aprovada: a nova dupla de guitarristas do Judas Priest, Richie Faulkner e Andy Sneap

Testada e aprovada: a nova dupla de guitarristas do Judas Priest, Richie Faulkner e Andy Sneap

“No Surrender”, precedida por discurso de ode à “força do heavy metal que pode mudar tudo”, traz Faulkner solando já no início, e o tom épico e dramático de “Rising From The Ruins” com Halford empunhando um sabre de luz rosa – claro –, revela um duelo de solos de guitarra extraordinário e raro durante a noite. Porque, no Judas, antiguidade é posto, e Richie Faulkner, que entrou em 2011 na vaga de um desiludido K. K. Downing é quem está no comando, sobretudo nos solos. Andy Sneap (o afamado produtor do metal contemporâneo) segura as pontas na outra guitarra no lugar de Glenn Tipton, que compôs e gravou as músicas de “Firepower”, mas, diagnosticado com a doença de Parkinson, está fora das turnês. Ambos se saem muito bem como músicos e intérpretes de clássicos do Judas, mas deixam a desejar no quesito presença de palco.

Porque – pode não parecer – faz uma falta danada aquelas coreografias espontâneas que parecem ensaiadas de Downing e Tipton, sejam tocando lado a lado na cadência do metal, ou erguendo as guitarras flying V com o traste para cima, naquele clássico encerramento de uma noitada com o Judas. Mas – repita-se – a duplinha de hoje não decepciona e é, afinal, a única configuração possível, escorada pelos eficientes Ian Hill (baixo), integrante número um, sempre colado nos amplificadores, e Scott Travis, o baterista quase minimalista, em se tratando de metal. É Travis quem anuncia “Painkiller”, o hit tardio dos anos 1990 que enlouquece o público no encerramento da primeira parte do show, e não só por causa da introdução de bateria que é sua marca registrada, mas pela força da música em si, em um viés no qual o Judas se adaptava ao peso noventista que se afirmava com o predomínio do thrash metal e do grunge naquela década.

Andy Sneap, também afamado produtor, com o baixista Ian Hill no fundo do cenário do palco

Andy Sneap, também afamado produtor, com o baixista Ian Hill no fundo do cenário do palco

A adesão do público já começara mais cedo, em “Turbo Lover”, canção de amor as avessas que é sobre motores também e que leva todo mundo no ritmo do riff de guitarra, coisa mais linda de se presenciar. Colada nela, “The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)”, um dos casos em que o cover supera a versão original (no caso a do Fleetwood Mac), vem com solos sobre solos e viradas de baterias simples, mas muito eficientes. No início, Halford rege o coro cantarolando para reafirmar que está para o metal assim como Freddie Mercury está para o rock: dois frontman fora de série. O Metal God, se não desenha as próprias roupas, segue fazendo das suas, trocando de figurino umas 11 vezes, e ainda entra no palco guiando uma Harley Davisson de guidão longo, no clássico “Hell Bent Fot Lether”, em um dos momentos óbvios da noite, mas nem por isso pouco esperado pelo público.

O repertório cobre nada menos que 10 dos 18 álbuns oficiais do Judas, passa batido pelos três anteriores ao novo, depois do retorno de Halford, em 2003 – uma pena! -, embora saque algumas pérolas. Entre elas, “Desert Plains” (1981), reinserida 10 anos depois e que não estava nos shows de 2016 pelo Brasil (relembre), que o público pouco reconhece, e “Freewill Burning” (1984), que só voltou no início desse ano, com grande participação da plateia, em um cantarolar chamativo, e sobretudo no final, quando imagens do piloto Ayrton Senna, morto em 1994, são projetadas no telão. Mais pontos altos ainda têm de montes, seja na punk rock “Breaking The Law”, com focos de rodas de pogo espalhados pelo salão; na incrível interação público/banda proporcionada pela quase pop de tão colante “You’ve Got Another Thing Comin’”; ou na fantástica “Electric Eye”, cujo poder de convencimento segue insuperável. Assim como o Judas Priest, banda que nasceu fadada para a eternidade.

O eficiente baterista Scott Travis, que tem os minutos de fama ao anunciar a introdução de 'Painkiller'

O eficiente baterista Scott Travis, que tem os minutos de fama ao anunciar a introdução de 'Painkiller'

Set list completo:

1- Firepower
2- Running Wild
3- Grinder
4- Sinner
5- The Ripper
6- Lightning Strike
7- Desert Plains
8- No Surrender
9- Turbo Lover
10- The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)
11- Night Comes Down
12- Rising From Ruins
13- Freewheel Burning
14- You’ve Got Another Thing Comin’
15- Hell Bent for Leather
16- Painkiller
Bis
17- Electric Eye
18- Breaking the Law
19- Living After Midnight

Rob Halford com o figurino alusivo ao novo álbum, prestes a iniciar a grande festa do heavy metal

Rob Halford com o figurino alusivo ao novo álbum, prestes a iniciar a grande festa do heavy metal

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