O Homem Baile

Lancinante

Sob volume generoso, som pesado e arrastado do Alice In Chains vai direto no peito do público e hits empolgam geral. Fotos: Vinícius Pereira.

O cara certo no lugar certo: Willam DuVall reafirma a escolha certeira para vocalista do Alice In Chains

O cara certo no lugar certo: Willam DuVall reafirma a escolha certeira para vocalista do Alice In Chains

“Tamo junto!”, diz o cantor certo no lugar certo, em bom português, antes de a banda que cabe a ele liderar incendiar de vez a plateia ávida por um show que não acontece sempre por essas plagas, muito menos em um local fechado que garante afortunada proximidade. Curiosamente, ao menos ali nos arredores do palco, parece ter mais público do que durante o show da atração principal, o Judas Priest, a quem coube a destruição final da noite (veja como foi). Assim, quando “Them Bones” e “Dam That River” aparecem coladinha uma na outra, William DuVall e o Alice In Chains mostram uma face hitmaker infalível e que vai além daquele blockbuster que quase coloca a banda no rol das one hit bands.

Porque, na maior parte do tempo, a música produzida por essa banda lá dos cafundós de Seattle não é dada a alegrias, mas percorre as profundezas das almas mais incautas com riffs de guitarra arrastados, dilacerantes, torturantes, rascantes. Para o Alice In Chains não tem vida fácil pra fã: são guitarras sobre guitarras e a entrega de lado a lado ou acontece ou nada feito. Mesmo assim, as cabeças batendo e os punhos erguidos a toda hora, ainda que na cadência um dia sistematizada pelo Black Sabbath e bem absorvida, revelam uma interação que, se já não surpreende mais, é cada vez mais intensa. É o que explica logo de cara a explosão causada por “Check My Brain”, mesmo sendo da fase mais recente da banda, que – bom lembrar – acabou com a morte do vocalista da formação original, Layne Stanley, em 2002, e só votou há 10, 11 anos, com DuVall em seu lugar.

No comando, contudo, está o Jerry Cantrell, o homem que não sorri. Além de criar esse pitoresco “way of being” ao tocar guitarra de modo consistente, para dizer o mínimo, é ele quem faz as vocalizações que temperam a voz de William DuVall e fazem o resultado final soar parecidíssimo com a fase anterior, com Stanley em ação, com a sensação de encaixe mais que perfeito. É o que se checa, ao vivo, em “The One You Know”, uma das duas do novo álbum, “Rainer Fog”, incluídas no show, e em “Again”, aquela do disco do cachorro perneta, na qual o público não se aguenta e a entrega vem em forma de contagiante participação. A outra do álbum novo é “Never Fade”, a terceira da noite, que acaba funcionando como momento de concentração para o desenrolar do show.

O homem que não sorri: Jerry Cantrell e os riffs de guitarra pesados e arrastados do Alice In Chains

O homem que não sorri: Jerry Cantrell e os riffs de guitarra pesados e arrastados do Alice In Chains

Em relação ao show da edição de São Paulo do Festival Solid Rock, no sábado, saíram do repertório “Down In A Hole” e “Angry Chair” – uma pena, duas que são tão emblemáticas do AIC… -, mas “I Ain’t Like That” cumpre muito bem o papel de substituta. A música, resgatada do álbum de estreia da banda, “Facelift”, de 1990, realça ainda mais o modelo tenso e sombrio que corta na alma, mesmo que o público não a tenha reconhecido como “Nutshell”, a outra por assim dizer substituta no set. Com o som nas alturas, como em todo a noitada no Metropolitan, a música tem valor penetrante ainda maior, mas algo deu errado na arrumação do palco, já que os painéis de luzes direcionadas ao público, na horizontal, escondem o telão onde imagens só podem ser vistas olhado de cima. Mais um motivo, de outro lado, para o som fazer o serviço pesado sozinho.

O ponto alto do show é mesmo “Man In The Box’, aquela que quase converte o AIC em banda de um hit só, e que, popular demais no Brasil, dispara um sem número de pula-pulas pelo salão. Mas “We Die Young”, com as caixas explodindo em volume exorbitante, crava espada de aço no coração ao trazer – e de novo – a lembrança da perda precoce de Stanley. O desfecho é com a boa “Rooster”, que tem jeito de tudo, menos de música para terminar um show em alto astral, coisa impensável – reafirma-se – no caso do Alice In Chains. No computo geral, ficou tanta música boa de fora e os discos com DuVall foram tão pouco explorados que urge a volta da banda ao Brasil, para uma turnê como headliner, fora de festival, show de umas duas horas e set list com vinte e tantas músicas. Já passou da hora, aliás.

Set list completo:

1- Check My Brain
2- Again
3- Never Fade
4- Them Bones
5- Dam That River
6- Hollow
7- Nutshell
8- No Excuses
9- We Die Young
10- Stone
11- It Ain’t Like That
12- Man in the Box
13- The One You Know
14- Would?
15- Rooster

O baterista Sean Kinney, também remanescente da formação original, e o vocalista William DuVall

O baterista Sean Kinney, também remanescente da formação original, e o vocalista William DuVall

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