O Homem Baile

Estado de choque

Reformulado mais uma vez, De Falla apresenta nova fase e leva fãs do Ira! a verdadeiro pesadelo sonoro no Circo Voador. Foto: Nem Queiroz.

defalla18“Muito obrigado pela animação de vocês”, ironiza Edu K, o sujeito por trás do De Falla, antes de a banda tocar ainda a terceira música do show, “Fora da Casinha”. A reação dele é retrato do estarrecimento do bom público que chegou mais cedo neste sábado (10/11) para o show do Ira! (veja como foi), no Circo Voador, e deu de cara com De Falla. Não o De Falla, De Falla, mais um De Falla que nunca se viu antes na história desse país, e olha que eis aqui uma banda para mudar, e eis aqui um frontman que não está nem aí para nada, e que consegue, a cada fase, e mais de 30 anos depois, seguir mutante, surpreenda-se ou decepcione-se . E vem daí o estado de choque em que a plateia se colocou, ao menos no início do show.

Explica-se - como se possível fosse explicar o De Falla - que o som da banda, estreando nova formação, é um mix do chamado funk carioca de péssimo nível e gosto seguramente duvidoso com guitarras pesadas e saturadas ao extremo, em uma equalização de som de estourar os ouvidos até de quem está do lado de fora da lona. Sem bateria, ou, por outra, com o som de bateria gravado na cara de pau pelo DJ Fabrício (ex-guitarrista do Manguerbes), que também solta as bases catadas do mundo virtual, realçam, para o bem ou para o mal, as guitarras mais esporrentas do que bem tocadas pelo cascudo Chuck Hipolitho (ex-Forgotten Boys e Vespas Mandarinas) e por Isa Nielsen (Volkana).

O resultado dessa zorra toda é caótico, com Edu K andando de lado a outro do palco a se esgoelar sob as muralhas de guitarras e o groove gravado que o baixista Johnny Zanei não consegue acompanhar. Basicamente, o show se divide em duas partes. Uma, satisfatória, quando o grupo manda clássicos com essa nova roupagem, como “Não Me Mande Flores”, quase irreconhecível, mas ok, com salvas ao riff de Isa, e “It’s Fucking Boring to Death”, talvez a que menos sofre com as novas intervenções. E outra, horripilante, com Edu K repetindo todo o péssimo gosto que permeia o tal funk (miami bass mal feito, sem possibilidade evoluir), em uma iniciativa das piores. É como se o hit do início dos anos 00, “Popozuda Rock’n'roll”, se multiplicasse em uma prole hedionda.

O pior é que, como não há música nova - só o single “Faraó” foi apresentado -, são as piores músicas as pinçadas como covers para serem adaptadas a esse formato. E, evidentemente, a fase mais recente, com a formação clássica da banda, que marcou espécie de volta às raízes, com o ótimo álbum “Monstro”, de 2016, foi totalmente ignorada. Passado o choque inicial, até que o público se diverte, e houve que se adaptasse dançando na beirada do palco. Teve também Ramones (“Blitzkrieg Bop”, claro), que, de um modo ou de outro, sempre converte tudo em bailão mesmo. Mas o término do show soa mais como o escape de um grande pesadelo do que como abertura para fãs de rock nacional anos 80. Senão fosse assim, vamos e venhamos, não seria o De Falla. Nem seria o Edu K.

Set list (quase) completo:

1- Superstar
2- Sossego
3- Fora da Casinha
4- Baile de Favela
5- Não Me Mande Flores
6- Faraó
7-
8- Caminha (Que Aqui é De Osasco)
9- Parado no Bailão
10- It’s Fucking Boring to Death
11-
12- Tá Chegando a Hora
13- Blitzkrieg Bop
14- Popozuda Rock’n'roll

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