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Ao vivo, Ira! refaz seu álbum mais cultuado e menos conhecido pelo grande público com ótimas escolhas e pegada rock’n’roll. Foto: Nem Queiroz.

ira18Tocar a íntegra de álbuns clássicos é um artifício utilizado com sucesso mundo afora há tempos, e o próprio Ira! já fez isso em outras ocasiões, com “Vivendo e Não Apendendo”, o segundo deles, de 1986 (relembre). Mas, vamos e venhamos, fazer o mesmo com “Psicoacústica” é uma iniciativa tão ousada quanto o lançamento do álbum, dois anos depois. Porque, diferentemente de seus antecessores, o disco só foi unanimidade de crítica, que, de tanto o chamar de diferente e apontá-lo como “revolucionário”, o transformou em cult a ponto de afastá-lo do grande público, por assim dizer; nem lançado em CD foi, na época em que o formato bombava no Brasil. Não é o que pensam, contudo, os que encheram o Circo Voador, no Rio, na noite deste sábado (10/11), para mais uma noite de se anotar no caderninho.

E não teve blábláblá: foram 40 minutos com as oito faixas do disco enfileiradas na “ordem sequencial” em que foram gravadas, como anotou o vocalista Nasi, logo de cara. Músicas que foram – umas mais, outras menos – readaptadas para o show, tirando o que o disco tem de pior, os samplers e flertes com o rap que faziam a cabeça, segundo consta, de Nasi e do baterista André Jung. Coube ao tecladista faz tudo Johnny soltar umas gravações discretas e pronto. De outro lado, a banda realça uma pegada de rock pesado que talvez não tenha sido adotada nem nos shows e lançamento do álbum, mas que fazem o repertório soar atualíssimo. Músicas como “Pegue Essa Arma”, uma das mais conhecidas da plateia – foi single; o funk rock arrebenta-assoalho “Farto de Rock’n’Roll”, de rara ironia; e “Advogado do Diabo”, com o arranjo de coco/embolada subtraído e com ecos de “Vitrine Viva”, que – dizem - influenciou até Chico Science, crescem pacas em uma performance certeira.

Tudo muito por conta de um Edgard Scandurra cada vez mais inspirado em cima de um palco, como, aliás, já em acontecido nos últimos tempos. Em “Poder, Sorriso, Fama” ele deita e rola sobre a batida marcial de Evaristo Pádua, com direitos a incríveis solos em tudo o que é trecho. Na agitada “Manhãs de Domingo”, traça os mesmos fraseados improváveis de 30 anos atrás, e que hoje seguem surpreendendo pela perícia e pelo bom gosto, e na marcante “Rubro Zorro”, que abre a noite – claro - sob luzes vermelhas, o clima é de estarrecimento geral da plateia diante do que está para acontecer. Antes de “Poder Sorriso, Fama”, Nasi registra a presença do baterista original do Ira!, Charles Gavin, nas arquibancadas, por ter participado na música e nas duas seguintes, o semireggae “Receita Para Se Fazer um Herói”, e “Pegue Essa Arma”. Gavin também contribui na edição de “Psicoacústica” em CD, lançada tardiamente em 2001 (?!).

Serviço feito, “é hora de celebrar”, diz Scandurra, e a caixa de hits é aberta logo de cara com o maior deles, “Flores em Você”, tema de novela global que a plateia canta à plenos pulmões e mesmo sozinha; o trecho inicial do show reteve, vamos e venhamos, certa tensão. Mas tem também “Eu Quero Sempre Mais”, cuja versão no álbum acústico com a participação da cantora Pitty bombou o Ira! entre as novas gerações; “Vitrine Viva”, que não poderia faltar como referência de arranjo – repita-se - para o material de “Psicoacústica”; “Tarde Vazia”, já no bis, com surpreendente adesão vocal da plateia; e “Núcleo Base”, o primeiro hit de maior alcance da banda, ainda que moderado, do primeiro álbum, “Mudança de Comportamento”, com a participação do gaiato Edu K, do De Falla, que fez o show de abertura (veja como foi).

Um olhar mais amiúde pode destacar outra característica do Ira! nem sempre salientada. Como o duo vocal produzido por Nasi e Edgard Scandurra é bom, afinado e bem encaixado. Não só quando se alternam nas mesmas músicas, mas ao cantarem juntos, e ao vivo, depois de todos esses anos. Acontece, entre outras, em “Entre Seus Rins”, de gosto duvidoso, e em “Ponteiros de Um Relógio” e “Ninguém Entende Um Mod”, surpreendentemente incluídas, e vale o registro de que “Mudança de Comportamento”, não ganhou turnê com a íntegra das faixas; fica a dica. Tem também – e haja celebração – blockbusters do rock nacional como “Dias de Luta”, com o riff tolamente letrado pela plateia a ponto de matar a música; e “Envelheço na Cidade”, tema de aniversário de todo mundo ali, em desfecho de marejar os olhos.

Set list completo:

1- Rubro Zorro
2- Manhãs de Domingo
3- Poder, sorriso, fama
4- Receita Para Se Fazer um Herói
5- Pegue Essa Arma
6- Farto do Rock ‘n’ Roll
7- Advogado do Diabo
8- Mesmo Distante
9- Flores em Você
10- Como os Ponteiros de Um Relógio
11- Vitrine Viva
12- Entre Seus Rins
13- Eu Quero Sempre Mais
14- Dias de Luta
15- Ninguém Entende Um Mod
16- Núcleo Base
Bis
17- Flerte Fatal
18- O Girassol
19- Tarde Vazia
20- Envelheço na Cidade

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