O Homem Baile

Urgência thrash

Destruction distribui apanhado de clássicos em apresentação nervosa no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O grandalhão Schmier, baixista, vocalista e líder do Destruction, sabe exatamente onde está pisando

O grandalhão Schmier, baixista, vocalista e líder do Destruction, sabe exatamente onde está pisando

O Destruction está armado para encarar um festival, e não é só na indumentária bélica que lhe é peculiar. Há um pano de fundo com dois banners laterais e Marcel “Schmier” Schirmer tem à disposição três microfones, isso numa boca de palco que deve ter uns cinco, seis metros. Assim, tem-se o tal “clima de clube”, como lembra o próprio baixista, ao citar shows diferentes na cidade como os do Rock in Rio de 2013 (uma loucura com o Krisiun, relembre) e um em “outra casa” (Circo Voador, 2006), que favorece a apresentação, em que pese o apenas razoável comparecimento do público no Teatro Odisseia, nesta terça (18/9). Público formado por gente que não nasceu ontem e conhece bem a apoteose thrash metal que explodiu mundo afora no final dos anos 80, e no Brasil, com atraso, nos 1990. E disposto, por isso mesmo, a dotar o lema “se não somos muitos, vamos botar pra quebrar”.

Ainda mais quando o repertório privilegia aquilo que Schmier apresenta como “old school german thrash metal” (o bom e velho thrash alemão), e é exatamente o que acontece. Só do álbum de estreia, “Infernal Overkill”, de 1985, metade das músicas aprecem na hora e meia de show, com destaque para a linda instrumental “Thrash Attack”, tocada com a perícia que o gênero exige, e “Bestial Invasion”, carimbando o desfecho da noite. Tem ainda “Nailed to the Cross”, com o refrão forçado às alturas no final, realçando a boa voz de Schmier, e “Thrash Till Death”, essas já dos anos 00; e ainda a saga do quase mascote do Destruction, com “Mad Butcher”, que enlouquece o público com o primeiro body surfung da noite, e “The Butcher Strikes Back”, a última antes do bis, antecedida por um infernal ranger de serras elétricas que explodem em um PA alto pra dedéu. O bônus é a desenterrada “Black Mass”, segundo Schmier, nunca antes tocada na história desse País. Tá bom pra você?

Coadjuvante perfeito: o discreto, mas generoso guitarrista Mike Sifringer e suas palhetadas certeiras

Coadjuvante perfeito: o discreto, mas generoso guitarrista Mike Sifringer e suas palhetadas certeiras

Do álbum mais recente, “Under Attack” – é de 2016, mas não eixa de ser novo – só uma música é apresentada. “Dethroned”, quase ignorada pela plateia, é paulada das boas, com as palhetadas/riferrama típicos do thrash. A novidade está, senão na inclusão de músicas mais recentes, ou, quem sabe, em uma prova de um novo álbum, no fundo do palco, com a participação do baterista Randy Black, de serviços prestados no Annihilator e no Primal Fear, onde tocou por mais de 10 anos. Ele substitui, Wawrzyniec “Vaaver” Dramowicz, que, segundo consta, foi destacado do trio para cuidar da família, e vai muito bem, inclusive em um curto solo em que, vamos e venhamos, primeiro tem que vencer o calor absurdo no palco, para depois mostrar seus dotes com as baquetas.

Muitas vezes ofuscado pela liderança e porte físico do grandalhão Schmier, além do volume absurdo do baixo, o guitarrista Mike Sifringer completa o trio com performance discreta, para uma banda de thrash – em geral são quatro e duas guitarras - com um guitarrista só. Alguns de seus bons momentos aparecem na delicada introdução de “Release from Agony”, totalmente eletrificada no palco; no solo velocíssimo de “Total Desaster”; e na amalucada, mas generosa participação em Bestial Invasion, no arremate da noite. No caso de um show clássico como esse, as performances individuais ficam em segundo plano pelo chamado conjunto da obra, que se salienta pela agressividade e urgência com que o repertório é conduzido, marcas vitais do thrash metal e do Destruction em particular.

Toda a agressividade do thrash metal alemão do Destruction, em território muito bem ocupado

Toda a agressividade do thrash metal alemão do Destruction, em território muito bem ocupado

Schmier, de seu lado, sabe que o holocausto existiu, conhece muito bem os perigos do nazi-fascismo, cita as nossas próximas eleições e, assim como o Napalm Death fez na sexta (relembre), pinça um cover dos intangíveis Dead Kennedys, desta feita “Holiday In Cambodia”, já no bis. A música, embora simbolicamente represente a fusão entre punks e heavies, que antes do advento do thrash metal viviam para destruir uns aos outros, é executada sem a pegada punk, muito por conta de uma batida new wave de Randy Black, e pouco é agraciada no salão. Um anticlímax que só não causou estrago maior porque, ensanduichada por “Thrash Till Death” e “Bestial Invasion”, garantiu no bis o sprint final das rodas da dança que marcaram a noite.

Set list completo:

1- Curse the Gods
2- Armageddonizer
3- Tormentor
4- Nailed to the Cross
5- Mad Butcher
6- Dethroned
7- Life Without Sense
8- Release from Agony
9- The Ritual/Eternal Ban
10- Total Desaster
11- Solo bateria
12- Antichrist
13- Black Mass
14- Thrash Attack
15- The Butcher Strikes Back
Bis
16- Thrash Till Death
17- Holiday in Cambodia
18- Bestial Invasion

Com experiência no Annihilator e no Primal Fear, Randy Black é o caçula nessa formação do Destruction

Com experiência no Annihilator e no Primal Fear, Randy Black é o caçula nessa formação do Destruction

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado