O Homem Baile

Complexo, mas atraente

Cannibal Corpse mantém a alta adesão do show do Napalm Death com música extrema pesada e bem elaborada no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista do Cannibal Corpse, George 'Corpsegrinder' Fisher e o posicionamento que lhe é peculiar

O vocalista do Cannibal Corpse, George 'Corpsegrinder' Fisher e o posicionamento que lhe é peculiar

O vocalista já anunciara que tocaria apenas mais uma música, mas – gaiato – guarda outra na manga para ser a última de uma noite pitoresca, para dizer o mínimo. A composição, de moldura grosseira, como de costume em se tratando daquele death metal proveniente da costa leste americana, recebe um cantarolar por parte do público que quase a converte em canção pop, em que pese o esdrúxulo da associação. Mas dá, sim, para chamar de irresistível o “ôôô” que ecoa sob a lona do Circo Voador, em uma noite (sexta, 14/9) que começou com o Napalm Death (veja como foi) e termina com o Cannibal Corpse. É a detonação final de “Hammer Smashed Face”, verdadeiro hit do cancioneiro da música extrema mundial.

Não que fosse novidade, já que a música foi tocada nas outras duas vezes em que a banda passou pelo no Rio, em 2015, com o Testament como parceiro, e em 2013, debaixo de bomba da polícia (clique nos links para relembrar). Mas, agora, bate a intimidade que só melhora a performance como um todo. Tanto que o vocalista George “Corpsegrinder” Fisher fala que é uma beleza, mais que das outras vezes, muito embora, corpulento, guarde posição no centro, à direita do palco, batendo cabeça e girando a cabeleira – sua marca registrada - como poucos no ramo. Guardar posição é como se desenha a paisagem do palco, borradamente vermelha, com os integrantes concentrados em executar fielmente as passagens intrincadas de um repertório que, mesmo brutal, extremo e sujo, tem lá suas apurações técnicas; não é só barulho, não.

Passagens intrincadas: o ótimo guitarrista base Rob Barrett e o baixista malabarista Alex Webster

Passagens intrincadas: o ótimo guitarrista base Rob Barrett e o baixista malabarista Alex Webster

Que o diga o dedo-malabarista Alex Weber e seu indefectível baixo com cinco cordas; ele e o batera Paul Mazurkiewicz (Uruguai Copa de 70 feelings) são os integrantes fundadores do grupo, que completa 30 anos este ano. Não se trata, contudo, de uma turnê comemorativa, muito menos revivalista, mas que conta com a inclusão de cinco músicas – de um total de 17 – do disco mais recente, o adorável “Red Before Black”, lançado no final do ano passado. Daí o show começar logo de cara com três pedradas das novas, com destaque para a faixa-título, quando Corpsegrinder descola um inusitado vocal gutural-agudo, Mazurkiewicz impinge uma velocidade animal, e o solo ligeiro do guitarrista Pat O’Brien desanca a tranquilidade de qualquer cidadão de bem desses tempos estranhos.

Em “The Wretched Spawn”, cujo refrão, ao vivo, realça a força das guitarras sombrias, ele tem a companhia de Rob Barrett, o guitarrista que se desdobra para manter a base na velocidade da luz, e ainda investe em subsolos, por assim dizer, ou em versos atraentes durante os solos; é complexo o som dos caras, podem crer. A música antecede “Pounded Into Dust”, uma traulitada impiedosa comandada pela velocidade insana da bateria e com Corpsegrinder vomitando tijolos em cacos em grande estilo. É quando acontece o primeiro mosh da noite, a alegoria indispensável para o segmento, e o público do Cannibal sabe como fazê-lo sem perturbar o espetáculo, mas acrescentando diversão. E sem prejuízo – sempre bom citar – das incríveis rodas de dança que se invadem reciprocamente sem parar.

Habilidade: encarregado dos solos, o arisco guitarrista Pat O'Brien sempre entrega o que dele se espera

Habilidade: encarregado dos solos, o arisco guitarrista Pat O'Brien sempre entrega o que dele se espera

E que são mais intensas nas músicas mais manjadas e facilmente reconhecíveis. Caso da sugestiva “Devoured by Vermin”, que devasta o público e tem Corpsegrinder gravando a si próprio em um aparelho emburrecedor fornecido por um fã na beirada do palco. E também de outras, comuns ao repertório do grupo, já tocadas por aqui, mas que não deixam de ser imprescindíveis: “I Cum Blood”, indicada pelo vocalista como “ideal pra se bater cabeça”; “Make Them Suffer”, conduzida por um extraordinário trabalho de guitarras; e “Stripped, Raped And Strangled”, cuja cadência inicial desencadeia uma linda coreografia quase ensaiada com punhos cerrados em profusão por parte do público. Aí é a hora “Hammer Smashed Face”, para o tal desfecho cantarolante que tanto chama a atenção, em um show do tipo “sem tirar em pôr”.

Set list completo:

1- Code of the Slashers
2- Only One Will Die
3- Red Before Black
4- Scourge of Iron
5- Evisceration Plague
6- Scavenger Consuming Death
7- The Wretched Spawn
8- Pounded Into Dust
9- Kill or Become
10- Gutted
11- Corpus Delicti
12- Devoured by Vermin
13- A Skull Full Of Maggots
14- I Cum Blood
15- Make Them Suffer
16- Stripped, Raped And Strangled
17- Hammer Smashed Face

A característica paisagem de palco do show do Cannibal Corpse, sempre super borrada no vermelho

A característica paisagem de palco do show do Cannibal Corpse, sempre super borrada no vermelho

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