O Homem Baile

Clássico e renovado

Andy Summers se reinventa como personagem principal ao tocar sucessos do Police com músicos brasileiros. Fotos: Luciana Pires.

O guitarrista Andy Summers, remanescente da formação clássica do The Police, se renova no palco

O guitarrista Andy Summers, remanescente da formação clássica do The Police, se renova no palco

Um guitarrista consagrado, de idade avançada, tocando com inesperada alegria as músicas da banda que o tornou mais conhecido. Revelando, também, um protagonismo inimaginável em outros tempos, com ênfase em seu instrumento e inserções de trechos, por assim dizer, inéditos. Com o luxuoso acompanhamento de um dos melhores bateristas do Brasil, e que, em início de carreira, mirava essa mesma banda como fonte de inspiração, e de um baixista/vocalista também cascudo, que já tocou com muita gente boa nesse rock nacional desde a década de 80. É assim que Andy Summers, João Barone e Rodrigo Santos, sob a égide Call The Police, tocam os sucessos do Police em um Vivo Rio lotado, no último sábado (23/6).

A pecha de show cover ronda a cabeça de todos, mas pode ser substituída por um olhar menos rigoroso que enxerga o copo cheio. Se não se pode ter Sting no palco, é bom perceber como o dedicado Rodrigo parece bem mais à vontade em músicas em que, no passado, tinha dificuldade; as vezes não é fácil cantar as letras intrincadas e de métrica alongada da fase cabeçuda de Sting. E, também, agora o baixista insere vocalizações identificadas com as músicas em si, como na ótima “King Of Pain”, excelente novidade em relação à turnê anterior (relembre) e em “Roxanne”, cheia e interstícios instrumentais. Como músico, sabe que tem papel inverso ao do instrumento na banda original: fazer a base para a guitarra brilhar.

A empolgação do baixista Rodrigo Santos, com Summers ao lado e o baterista João Barone ao centro

A empolgação do baixista Rodrigo Santos, com Summers ao lado e o baterista João Barone ao centro

Porque é mesmo Summers, 75, a estrela da noite, e ele sabe aproveitar muito bem papel que lhe cabe, inventivo que só ele. Ora, se nem o The Police na turnê de 2007/2008 tocou as músicas em suas versões originais, por que deveria ele, com uma banda montada por causa dele, tentar ser o Police de outrora? Daí que faz camas de guitarra bem diferentes, improvisa com solos modificados para este projeto, e passa a sensação de que o show olha pra frente, não se prende ao passado, ainda que com um repertório de mais 35 anos. As passagens de cordas que substituem os teclados em “Spirits In The Material World” e “Synchronicity II”, não tão conhecidas pelo público, são ótimas. E a rearranjada “Every Breath You Take”, potencializada recentemente por uma série de TV, ganha novas nuances e levanta o público.

Em “De Do Do Do, De Da Da Da”, outra que entra nesse show, o improviso vem porque o trio começa tocando “Driven to Tears”, mas logo se dá conta e passa para a música certa, fazendo Summers se desculpar depois da música. Soltinho, ele fala bem mais do que em outras oportunidades, e o trio em si parece mais entrosado que antes, o que é natural em uma segunda e maior turnê. E com um set de bateria especial, já que Barone remontou as peças que ele usava lá pelos idos de 1985, dando um toque “vintage real” ao show, com bumbo estampado com o logotipo da fase inicial do Police e tudo. O baterista segue impecável nos andamentos e improvisos, sem perder o tempo certo, mesmo em passagens, em princípio, inseridas nessa turnê. O desfecho de “Message in a Bottle”, com um belo solo de Andy Summers, é sensacional.

João Barone, do Paralamas, e o kit de bateria preparado especialmente para os shows do Call The Police

João Barone, do Paralamas, e o kit de bateria preparado especialmente para os shows do Call The Police

Em relação ao show do ano passado, nesse mesmo Vivo Rio lotado, sai do repertório “Hole in My Life”, “Next to You” e “Invisible Sun”, menos conhecidas, e entram as famosas “King Of Pain”, cantada a plenos pulmões pela plateia, e “De Do Do Do, De Da Da Da”, em um show curto com apenas 13 músicas. Em outras apresentações da turnê, o trio chegou a tocar 16, com todas elas reunidas. Talvez, mais pra frente, uma boa ideia seja tocar a íntegra de um dos álbuns do Police, como o blockbuster “Synchronicity”, por exemplo, e depois um bis só com clássicos. Por ora, ninguém reclama de um show que termina com “Can’t Stand Losing You” e “Reggatta de Blanc”, entrelaçadas como nos bons tempos, e com o hit dos hits Hollywood style “Every Little Thing She Does Is Magic”. Porque o que é bom nunca é demais.

Set list completo:

1- Synchronicity II
2- Spirits In The Material World
3- Walking On The Moon
4- De Do Do Do, De Da Da Da
5- Driven To Tears
6- Tea In The Sahara
7- King Of Pain
8- Roxanne
9- Every Breath You Take
10- Message In A Bottle
Bis
11- So Lonely
12- Can’t Stand Losing You/Reggatta de Blanc
13- Every Little Thing She Does Is Magic

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