Bola é Bola Mesmo

Ineditismo

Ásia enfim vence América do Sul em uma Copa, Rússia se classifica e Senegal bota a Polônia na roda. Fotos: Divulgação FIFA.

japao19-6-18Quer tornar uma partida de futebol que se anunciara chata e sem muitas atrações em uma correria dos diabos? Simples, retire de campo um dos jogadores de uma das equipes logo no início, tipo aos três minutos da etapa inicial. Não foi exatamente isso que o árbitro esloveno Damir Skomina fez, mas não lhe restou alternativas quando o volante colombiano Sánchez esticou o braço e com ele impediu que o chute do atacante japonês Osako fosse para as redes, já que o goleiro Ospina não estava a postos, em jogada, no mínimo, confusa por parte da defesa.

Assim o Japão viu um novo sol brilhar só para ele no horizonte, e pode, com um a mais durante toda a partida, encarar o jogo, por assim dizer, de forma mais justa. Porque se o futebol japonês já não é lá essas coisas, a seleção que está na Copa da Rússia muito menos. E a Colômbia, que parece sofrer de uma incrível autossabotagem, e se esforçou um bocado para não se classificar, teve que correr muito mais atrás, e sem o craque do time, James Rodriguez, que se recupera de lesão, no banco.

Mas botinada vai botinada vem, e o árbitro não vê que o atacante Falcão Garcia, enfim estreando em Copas do Mundo, abalroa o defensor japonês, em espécie de cama de gato, e, mais ainda, acha que o japa é que cometeu a falta. Pronto. Quintero pega mal na bola, que sai rasteira e passa por baixo da barreira – sim, foi sem querer – e o goleiro Kawashima parece nadar em direção a bola e entra com ela para dentro das redes. Ou, por outra, nem chega nas redes, e o gol de empate é marcado pelo reloginho mesmo. Assim é o futebol.

Daria para chamar de heroica a atuação da Colômbia com um jogador a menos durante quase o jogo todo, mas, para isso, os colombianos precisavam virar a partida, ou, ao menos, segurar um empate. A equipe de Jose Pekerman foi pra cima, bravamente, mas eis que surge o erro fatal. Com o grandalhão Mina no banco, a defesa colombiana sofre um gol de cabeça, já na parte final da segunda etapa. Osako, em uma bola parada. Um gol de cabeça. De um ataque japonês. Em Copa do Mundo. Aí, não, né?

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E assim o Japão, que parecia estar na Rússia a passeio, surge com as esperanças renovadas. Afinal, pela primeira vez em um Copa do Mundo, uma seleção da América do Sul perde para outra da Ásia. Se aconteceu isso, segundo a lógica japonesa, tudo pode acontecer. É, não tem mais bobo no futebol. Ou, por outra, têm sim: os colombianos.

Tolos não foram os senegaleses, que passaram pela Polônia em uma jogada das mais esquisitas, para dizer o mínimo. Mas que, no conjunto da obra, colocaram os poloneses de cintura dura na roda. Não com aquele olé de dribles desconcertantes, mas com uma organização tática às vezes inédita em equipes da chamada África Negra, e treinada por um senegalês, não por um europeu, o ex-jogador Cissé.

Não é verdade que os africanos nunca tiveram postura tática, e nem que jogam sempre com irresistível irresponsabilidade – um elogio no futebol, vejam vocês -, mas quase sempre a mistura das duas coisas não encontra medida certa, ao menos não em Copas do Mundo. E é isso que tenta explicar o motivo pelo qual essas seleções jamais tenham passado das quartas de final. Não se sabe se o Senegal passará – provavelmente, não -, mas trata-se de uma equipe organizada, sem perder o desejo de ser feliz. Que lindo.

Mas e o tal do gol esquisito? Quase que simultaneamente o polonês Krychowiak dá um balão esquisitíssimos para trás, e o bom árbitro Nawaf Shukralla autoriza a entrada de um jogador senegalês que estava na lateral do campo. Ocorre que a bola vai parar entre o goleiro Szczesny e outro polonês, Bednarek, e Niang, o tal jogador senegalês, aparece do nada, sem ser percebido, para conduzir a bola às redes. Ok que já estava um a zero para os africanos, mas que essa jogada foi a pá de cal nos poloneses, foi.

Que podem reclamar de azar, já que o primeiro gol sofrido nasceu de um chute de Gueye, que esbarrou no brasileiro/polonês Thiago Cionek para desviar de Szczesny e ir morrer suave no fundo das redes. Um brasileiro para reforçar um time cintura dura. Um brasileiro zagueiro. E ele mete contra, em plena estreia na Copa de 2014. Assim é o futebol.

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A Polônia ainda fez o seu gol, já mais para o final da partida e, com isso, esboçou uma reação tão improvável que não se concretizou. E, a bem da verdade, Senegal foi melhor, mesmo sem ser um esquadrão, o tempo todo. E, vamos e venhamos, depender quase que exclusivamente do ótimo goleador Lewandowsk é muito pouco. Mas não se enganem. Eis aí um grupo embolado em que, diria João Guilherme, tudo pode acontecer.

Finada a primeira rodada, e a nativa Rússia não se faz de rogada para sapecar mais três gols no Egito, se tornando, assim, até aqui – quem diria -, o ataque mais poderoso do certame. E, de quebra, realçando a realidade de uma equipe fraca, a do Egito, ofuscada pela genialidade de Salah, o craque de uma temporada só, que havia sido poupado na estreia. Dessa vez entrou, pouco fez, mas cavou um pênalti e anotou o gol de honra.

Pela Rússia brilharam, como na estreia, o improvável Cheryshev, com mais uma bola na rede para se tornar artilheiro da Copa até aqui, ao lado de Cristiano Ronaldo, e também o grandalhão Dzyuba. Este meteu um golaço, depois de receber um tijolo de lançamento lá da defesa, se livrar de um adversário já no domínio da bola, na caixa, e de outro com um belo drible, antes de guardar. O outro tento – e ainda tem mais essa, Egito - foi contra.

A espera de provavelmente Espanha ou Portugal, a Rússia faz sua parte como país sede ao garantir ao menos a classificação para as oitavas, já que não tem uma boa geração de jogadores. Agora, tudo é festa, e como nossa imprensa não verifica as condições estruturais da Copa como faziam no Brasil, vamos aplaudir os russos. E vamos aplaudir Cheryshev. Assim somos os brasileiros.

Até a próxima que tem gol contra de brasileiro na Rússia!

Resultados de 19-6-2018:
Colômbia 1 x 2 Japão
Polônia 1 x 2 Senegal
Rússia 3 x 1 Egito

Top 64 jogos da Copa 2018:
1-Portugal 3 x 3 Espanha
2- Argentina 1 x 1 Islândia
3- Alemanha 0 x 1 México
4- Bélgica 3 x 0 Panamá
5- Colômbia 1 x 2 Japão
6- Tunísia 1 x 2 Inglaterra
7- Brasil 1 x 1 Suíça
8- França 2 x 1 Austrália
9- Rússia 5 x 0 Arábia Saudita
10- Rússia 3 x 1 Egito
11- Suécia 1 x 0 Coréia do Sul
12- Costa Rica 0 x 1 Sérvia
13- Polônia 1 x 2 Senegal
14- Egito 0 x 1 Uruguai
15- Peru 0 x 1 Dinamarca
16- Croácia 2 x 0 Nigéria
17- Marrocos 0 x 1 Irã

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