O Homem Baile

Banho de loja

Com formação renovada e disco de inéditas, Premiata Forneria Marconi arredonda repertório de rock progressivo em ótimo show. Fotos: Nem Queiroz.

Boa forma: o líder, vocalista, baterista e faz tudo do Premiata Forneria Marconi, Franz Di Cioccio

Boa forma: o líder, vocalista, baterista e faz tudo do Premiata Forneria Marconi, Franz Di Cioccio

Poderia ser apenas mais um show de uma banda de rock progressivo dos anos 1970, para que a baba elástica de fãs das antigas se fizesse presente entre aplausos de pé e pedidos de cerveja de boa procedência. Mas o Premiata Forneria Marconi mostra que não está para brincadeira, em um Vivo Rio com boa lotação neste sábado (21/4), cerca de quatro anos depois da última passagem pela cidade – relembre. E não costuma ser fácil para uma banda com a identidade encravada em um passado longínquo buscar renovação, sobretudo quando os fãs, de um modo geral sempre agarrados a épocas gloriosas para o gênero que não voltam mais, tampouco tenham interesse em grandes novidades.

Mas o PFM sabe fazer as coisas direito, e as diferenças entre um show e outro funcionam muito bem, por, ao menos, quatro razões. Enumere-se: a) A banda volta ao Brasil com um novo álbum debaixo do braço, o contemporâneo, por assim dizer, “Emotional Tatoos”, o primeiro com músicas inéditas em 12 anos; b) A saída do guitarrista Franco Mussida, da formação original, se sentida, abre espaço para um gás a mais, com o cascudo Marco Sfogli, como acontece em muitas formações longevas do rock quando um novo integrante aparece; c) A entrada de um segundo tecladista, Alberto Bravin, que também canta e toca violão, acrescenta muito na dinâmica do show; e d) A banda sabe reunir clássicos com os novos temas deixando o show redondinho.

O baixista Patrick Djivas, remanescente de outras formações: solos em praticamente todas as músicas

O baixista Patrick Djivas, remanescente de outras formações: solos em praticamente todas as músicas

Por isso as quatro músicas do disco novo não desagradam ao público, e diga-se que fã de rock progressivo é aficionado por música bem composta e bem tocada ao vivo, de modo que aceitação é imediata. Mesmo em condições em que essa modernização sonora se dê numa seara mais pop, caso de “The Lesson”, concomitantemente pesada e até identificada com segmentos do metal que também usam violinos, em que brilham não só Lucio Fabbri, mas as evoluções e solos de Sfogli. Ou “La Danza Degli Specchi” – o disco tem músicas nos dois idiomas -, atraente prog metal sinfônico que tem um cantarolar intrínseco e um desfecho instrumental/técnico impressionante, revertido numa salva de palmas daquelas.

Pouco importa se nas músicas novas Franz Di Cioccio precise de um púlpito para ler as letras que não consegue memorizar. O espevitado vocalista, que segue tocando bateria com o baterista Roberto Gualdi convertido em assessor, é o ponto central da banda, ao mostrar uma hiperatividade comovente já na casa dos setenta e tantos anos. Na fanfarra “Promenade The Puzzle”, manda aquela mímica que quem já viu um show do Premiata sabe que vai rolar, mas é divertido mesmo assim. Cercado de baquetas por todos os lados – nos bolsos, dentro das calcas -, toca em tudo o que vê pela frente, e – ainda temais essa – segue espancando os tambores com a mão pesada quando senta atrás do kit de bateria, em memoráveis encerramentos de músicas; e como faz falta um gongo nessas horas!

Com a mão muito pesada, Franz Di Cioccio toca bateria junto com o baterista Roberto Gualdi

Com a mão muito pesada, Franz Di Cioccio toca bateria junto com o baterista Roberto Gualdi

É por essas e outras que quando o jovem Bravin assume os vocais, não é só um ótimo contraponto para um show musicalmente rico em detalhes e com muitas variações de ritmo e andamento. É também um espaço para que a ausência de Cioccio, vamos e venhamos, brilhe. Acontece em “Celebration”, no bis, e em “La carrozza di Hans”, na qual também se destaca o outro tecladista, Alessandro Scaglione, aparentemente mais técnico e intenso, e ambas são aplaudidíssimas. O baixista Patrick Djivas, outro remanescente de antigas formações, até tenta ser discreto, mas suas linhas de baixo – uma marca no Premiata - se somam a mini solos em praticamente todas as músicas. O desfecho da noite enfileira três seguidas, com show particular de Fabbri, sendo duas no modo “todo mundo, mesmo sem ser fã, reconhece e gosta”: “Romeo e Giulietta: Danza dei cavalieri”, e “William Tell Ouverture”, de Rossini, familiar pela onipresença em desenhos animados. Mas uma noite para se guardar na memória.

Set list completo:

1- We’re Not An Island
2- Four Holes in the Ground
3- Photos of Ghosts
4- Il banchetto
5- Dove… quando…
6- La carrozza di Hans
7- Impressioni di Settembre
8- The Lesson
9- La danza degli specchi
10- Freedom Square
11- Promenade the Puzzle
12- Harlequin
13- Romeo e Giulietta: Danza dei cavalieri
14- Mr. 9 Till 5
15- William Tell Ouverture
Bis
16- Celebration

Aclamação final: o Premiata recebe a intensa salva de palmas do público, no encerramento da noite

Aclamação final: o Premiata recebe a intensa salva de palmas do público, no encerramento da noite

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