O Homem Baile

Desconjuntado

Performance de altos e baixos tira o brilho do Spoon na abertura para o The National, no Rio. Foto: Nem Queiroz.

spoon18-1O sujeito que adentrasse o Circo Voador na noite de quinta (22/3) e se deparasse com uma banda botando pra quebrar em cima do palco seguramente cravaria que estava diante de um grande show de rock, dado o embalo fornecido pelas músicas que estavam encerrando o show. Só que se tratava do Spoon, que, se optou por um encerramento cheio de energia e quase arrasador, dentro da mesma horinha mostrou variações não tão interessantes assim, atraindo para o show e, quem sabe, para a banda, a pecha de irregular. Seria a redução do repertório para um show mais curto, por ser apenas a abertura para o The National? Ou estratégia para terminar o show em alto astral?

O fato é que a dobradinha “Got Nuffin” + “Rent I Pay” levantou uma bola que vinha murcha, murcha. A primeira, com bateria de rock de arena e um riff matreiro, menos pesado do que poderia, mas com guitarras em boas evoluções, chega a ser dançante de tão colante, e, portanto, uma boa ideia para o público, que obviamente aproveita. A segunda, também com o mesmo som de batera, mas mais arrastada, pega pelo tom mais manso/cool, e aí se destacam a base mais pesada, com a ajuda de teclados, e o vocalista e guitarrista Britt Daniel (foto), que também tem lá suas idas e vindas durante a noite, mas aqui se sai muito bem como legítimo frontman.

Não fossem as duas pérolas e o show teria como destaque o cover de “Ashes to Ashes”, de David Bowie, com a participação de Matt Berninger, o vocalista do National; veja como foram os shows, no Circo e no Lollapalooza. Ocorre que o vozeirão de barítono radical de Matt – acreditem – pouco apareceu, e só no final é que, como segunda voz, a junção com Daniel valeu a pena, em que pese o ótimo instrumental adaptado, por assim dizer, pelo Spoon. Sim, eis aí um dos grandes momentos da noite também, discreto, mas foi. Porque poucos números chamaram mais a atenção, caso, com certo esforço, de “I Turn My Camera On”, que tem uma boa introdução instrumental, mais pelo fato de um bocado de gente conhecer lá na frente do palco do que pela performance em si.

As inserções de teclado são até interessantes, mas às vezes o som flerta com o techno progressivo de gosto questionável, sobretudo, ao que parece, nas músicas mais novas. Caso da enfadonha “Can I Sit Next to You”, embora aplaudida com certo gosto, e de “I Ain’t the One”, ao menos até que uma virada para o rock apareça para fazer uma interessante reviravolta. As duas músicas estão entre as quatro da noite que fazem parte do novíssimo álbum da banda, “Hot Thoughts”, o nono(!) deles, que saiu em meados desse mês, o que deixa, de antemão, ligado o sinal de alerta para o que pode estar vindo por aí. Mesmo com todas as ressalvas pertinentes, como abertura e entretenimento para a atração de fundo, funcionou bem.

Set list completo:

1- Do I Have to Talk You Into It
2- Inside Out
3- I Turn My Camera On
4- Don’t You Evah
5- Do You
6- I Ain’t the One
7- Hot Thoughts
8- Can I Sit Next to You
9- Ashes to Ashes
10- My Mathematical Mind
11- The Underdog
12- Got Nuffin
13- Rent I Pay

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