O Homem Baile

Patinho feio?

Única banda associada ao heavy metal nessa edição do Lollapalooza, Volbeat passeia por standards do gênero em ótimo show. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara/MRossi.

O vocalista, guitarrista e líder do Volbeat, Michael Poulsen, todo de branco, na tarde de sexta no Lolla

O vocalista, guitarrista e líder do Volbeat, Michael Poulsen, todo de branco, na tarde de sexta no Lolla

Imagine uma banda de heavy metal que, ao mesmo tempo, reúna influências bem claras de todas as bandas de metal que você já curtiu, e que tenha, em uma contabilidade aproximada, músicas com todas essas referências bem flagrantes. E que o vocalista não se preocupe em parecer com nenhum outro, mesmo porque tem uma voz de timbre bem diferente daqueles que você conhece. E que, de quebra, entre no palco todinho de vestido de branco, como se um enfermeiro fosse, jogando para os ares um dos grandes dogmas do rock e do metal. Pois essa banda já existe, chama-se Volbeat, vem da Dinamarca e tocou em um dos palcos secundários do Lollapalooza desse ano, na sexta, dia 23.

Não havia muito público naquela tarde escaldante, mesmo porque o Volbeat é a única banda associada ao heavy metal entre as 70 e tal dessa edição do Lolla, e ainda assim longe de ser unanimidade dentro do próprio metal. Mas quem foi fez a tal da limonada, ainda mais em uma apresentação de menos de uma hora. Michael Poulsen, o vocalista e guitarrista da voz diferente, estava lá todo de branco, tocando de cara “The Devil’s Bleeding Crown”, o single que arrastou o disco mais recente deles, “Seal the Deal & Let’s Boogie”, lançado há cerca de dois anos. A música, um coletivo de palhetadas thrash metal, desencadeia as já tradicionais rodas de dança, pouco numerosas, mas ferozes. O bater de cabeça, do pessoal espalhado pela montanha – o Palco Onix tem a melhor vibe do Lolla – é automático.

Saliente-se, também, que desde 2013 o grupo tem um Anthrax nas guitarras, Rob Caggiano, com extensa folha de serviços prestados ao metal, inclusive como produtor, que não economiza em solos e na rifferama que faz o heavy metal ser o heavy metal. Caggiano, que já atuou como baixista por um período no grupo, deita e rola na quase classic rock “Heaven nor Hell”, que aparece em meio a um pout pourri; em “Slaytan”, introduzida por um riff de guitarra do Slayer – e imagine de qual banda deriva a singela canção; e no comando de uma debulhagem total em “Black Rose”. Em “Sad Man’s Tongue, Poulsen deixa fluir seu ancestralismo country, citando Elvis Presley e Johnny Cash, mas não sem fazer uma ponte com as palhetadas à Metallica, para a alegria da plateia que se debate sem parar.

Rob Caggiano, um Anthrax no Volbeat, debulha a guitarra o tempo todo, em todas as músicas do show

Rob Caggiano, um Anthrax no Volbeat, debulha a guitarra o tempo todo, em todas as músicas do show

O show cobre todos os seis álbuns da banda, ainda que com as junções de músicas umas em outras, mas é do disco novo que sai a maioria do material. Quase faixa-título, “Seal the Deal”, por exemplo, ritmada na veia, já tem a melodia em forma de solo no início e é pretexto para Rob Caggiano ir de lado a outro do palco arregaçando, em um ótimo desfecho. “For Evigt”, talvez a que mais abraça o pop rock, aponta para um cantarolar que inicia um exercício aeróbico de braços erguidos de fazer inveja à claque do Faustão. O arremate da festa vem com colheradas cheias de hardcore no estilo Nova York dos anos 90, com “Still Counting”. A música começa como quem não quer nada – parece reggae até -, mas logo descamba para uma pedrada das boas. Se no rock, diferentemente da vida, é a última impressão a que fica, o Volbeat terminou muito bem essa estreia no Brasil.

Set list completo:

1- The Devil’s Bleeding Crown
2- Heaven nor Hell /A Warrior’s Call /I Only Want to Be with You
3- Lola Montez
4- 16 Dollars
5- Sad Man’s Tongue
6- Slaytan
7- Dead but Rising
8- Seal the Deal
9- For Evigt
10- Black Rose
11- Still Counting

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