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Show do Depeche Mode demora a engrenar e acaba agradando mais em momentos clássicos específicos. Fotos: Fabricio Vianna/Popload.
A música, quase que interpretada pelo vocalista Dave Gahan com um vigor jovial, mesmo já perto do final do show, vem praticamente em duas versões, coladas uma a outra. A primeira, a tocada ao vivo em cima da gravação do álbum “Violator”, de 1990, e, a segunda, espécie de remix dela própria, o que confere os poderes de detonar uma pista de dança, como em todos esses anos, o que confere mais de sete minutos de pura alegria. O desfecho com ênfase em evoluções dos teclados – são três, com Martin Gore no comando – é simplesmente um luxo, e Gahan, movido pela força da canção propriamente dita, dança mais do que havia feito nos outros 14 números até então apresentados.
Sempre pode melhorar, e a volta da guitarra pelos braços de Gore traz, logo em seguida, “Never Let Me Down Again”, do ótimo “Music for the Masses”, de 1987. Aí o palco é transformado em uma caixa estrobosópica gigante que garante mais forte ainda a participação da plateia, com tudo acabando num exercício aeróbico de jogar os braços molhados sob capas arregaçadas de lado a outro sem parar. Do mesmo disco vem uma versão de voz + teclado para a não menos clássica “Strangelove”, cantada por Gore no início do bis, que não perde a força mesmo tendo subtraída parte do instrumental e da produção original, e isso numa manda que mexe com rock e eletrônica. Antes, Martin Gore também já tinha cantado na duplinha “Insight” e “Home”, talvez até para dar um refresco para o agitado Dave Gahan.Ou mesmo para mostrar algo diferente em uma apresentação até então muito branda para a expectativa envolvida, mesmo considerando o DM uma banda mais “cool” e menos agressiva em cima de um palco. Porque as sequências de músicas não são de cativar o público com facilidade, exceto para os chamados “die hard fans”. É o tipo de show que parece que vai engrenar, mas não engrena nunca, a não ser na parte final destacada da ali encima. Há exceções, como “Everything Counts”, pela força da canção, já na introdução, e que salienta como é boa a formação com os três tecladistas; a dançante “In Your Room”, apegada com um ótimo refrão; e o interlúdio instrumental de “Cover Me”, em perfeito sintonia com a imagem de um Gahan astronauta no telão. O palco, cheio de efeitos, é do tipo tradicional, com uma passarela alta no fundo, e outra que avança ao meio da plateia, mas deslocada para o lado direito do palco, com uma contraposição de luz, no alto, à esquerda, em um interessante efeito diagonal.
O show é o último do trecho latino americano da “Global Spirit Tour”, e as três músicas do álbum “Spirit”, todas lançadas como single no ano passado, vão bem. A já citada “Cover Me” é a melhor dela, mas “Where’s the Revolution” não fica atrás, até pela força do ver/título/refrão. “Going Backwards”, justamente a que abre o show, é a mais destemperada, embora carregada de certa tensão tipicamente pós punk. Vale ainda ressaltar outras músicas, como “Walking In My Shoes”, com a exibição bem sincronizada no telão, onde aparece um artista trans a caminho do trabalho; “A Question of Time”, a peça mais pesada de todo o show, também no bis; e “Personal Jesus”, que coloca um ponto final em uma noite que valeu mais por momentos clássicos pontuais do que pelo chamado conjunto da obra.Set list completo:
1- Going Backwards
2- It’s No Good
3- Barrel of a Gun
4- A Pain That I’m Used To
5- Useless
6- Precious
7- World in My Eyes
8- Cover Me
9- Insight
10- Home
11- In Your Room
12- Where’s the Revolution
13- Everything Counts
14- Stripped
15- Enjoy the Silence
16- Never Let Me Down Again
Bis
17- Strangelove
18- Walking in My Shoes
19- A Question of Time
20- Personal Jesus
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