O Homem Baile

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Show do Depeche Mode demora a engrenar e acaba agradando mais em momentos clássicos específicos. Fotos: Fabricio Vianna/Popload.

O vocalista, líder e super dançarino do Depeche Mode, Dave Gahhan, cheio de gás a noite toda

O vocalista, líder e super dançarino do Depeche Mode, Dave Gahhan, cheio de gás a noite toda

Já havia se passado quase hora e meia de show e nada. E isso sem colocar na conta o tempo gasto de quem enfrentou estrada e uma chuva daquelas de alagar passarelas cobertas e se converter em um obstáculo a mais para viver um daqueles momentos clássicos da história do rock. Súbito, o telão começa a exibir animais se locomovendo em câmera superlenta e os primeiros acordes têm ampla adesão por parte da plateia. Agora não tem mais jeito, o Depeche Mode começa a tocar “Enjoy The Silence” para um (meio) Allianz Parque cheinho de dar gosto. É para viver momentos como esse que se economiza no dia a dia para as vezes dar um passo maior do que as pernas em uma terça (27/3) paulistana chuvosa.

A música, quase que interpretada pelo vocalista Dave Gahan com um vigor jovial, mesmo já perto do final do show, vem praticamente em duas versões, coladas uma a outra. A primeira, a tocada ao vivo em cima da gravação do álbum “Violator”, de 1990, e, a segunda, espécie de remix dela própria, o que confere os poderes de detonar uma pista de dança, como em todos esses anos, o que confere mais de sete minutos de pura alegria. O desfecho com ênfase em evoluções dos teclados – são três, com Martin Gore no comando – é simplesmente um luxo, e Gahan, movido pela força da canção propriamente dita, dança mais do que havia feito nos outros 14 números até então apresentados.

Trio de ouro: guitarrista e tecladista Martin Gore, Dave Gahan e o também tecladista Andy Fletcher

Trio de ouro: o guitarrista e tecladista Martin Gore, Dave Gahan e o também tecladista Andy Fletcher

Sempre pode melhorar, e a volta da guitarra pelos braços de Gore traz, logo em seguida, “Never Let Me Down Again”, do ótimo “Music for the Masses”, de 1987. Aí o palco é transformado em uma caixa estrobosópica gigante que garante mais forte ainda a participação da plateia, com tudo acabando num exercício aeróbico de jogar os braços molhados sob capas arregaçadas de lado a outro sem parar. Do mesmo disco vem uma versão de voz + teclado para a não menos clássica “Strangelove”, cantada por Gore no início do bis, que não perde a força mesmo tendo subtraída parte do instrumental e da produção original, e isso numa manda que mexe com rock e eletrônica. Antes, Martin Gore também já tinha cantado na duplinha “Insight” e “Home”, talvez até para dar um refresco para o agitado Dave Gahan.

Ou mesmo para mostrar algo diferente em uma apresentação até então muito branda para a expectativa envolvida, mesmo considerando o DM uma banda mais “cool” e menos agressiva em cima de um palco. Porque as sequências de músicas não são de cativar o público com facilidade, exceto para os chamados “die hard fans”. É o tipo de show que parece que vai engrenar, mas não engrena nunca, a não ser na parte final destacada da ali encima. Há exceções, como “Everything Counts”, pela força da canção, já na introdução, e que salienta como é boa a formação com os três tecladistas; a dançante “In Your Room”, apegada com um ótimo refrão; e o interlúdio instrumental de “Cover Me”, em perfeito sintonia com a imagem de um Gahan astronauta no telão. O palco, cheio de efeitos, é do tipo tradicional, com uma passarela alta no fundo, e outra que avança ao meio da plateia, mas deslocada para o lado direito do palco, com uma contraposição de luz, no alto, à esquerda, em um interessante efeito diagonal.

Dave Gahan e Martin Gore comandam o show do Depeche Mode, o último da perna latino americana

Dave Gahan e Martin Gore comandam o show do Depeche Mode, o último da perna latino americana

O show é o último do trecho latino americano da “Global Spirit Tour”, e as três músicas do álbum “Spirit”, todas lançadas como single no ano passado, vão bem. A já citada “Cover Me” é a melhor dela, mas “Where’s the Revolution” não fica atrás, até pela força do ver/título/refrão. “Going Backwards”, justamente a que abre o show, é a mais destemperada, embora carregada de certa tensão tipicamente pós punk. Vale ainda ressaltar outras músicas, como “Walking In My Shoes”, com a exibição bem sincronizada no telão, onde aparece um artista trans a caminho do trabalho; “A Question of Time”, a peça mais pesada de todo o show, também no bis; e “Personal Jesus”, que coloca um ponto final em uma noite que valeu mais por momentos clássicos pontuais do que pelo chamado conjunto da obra.

Set list completo:

1- Going Backwards
2- It’s No Good
3- Barrel of a Gun
4- A Pain That I’m Used To
5- Useless
6- Precious
7- World in My Eyes
8- Cover Me
9- Insight
10- Home
11- In Your Room
12- Where’s the Revolution
13- Everything Counts
14- Stripped
15- Enjoy the Silence
16- Never Let Me Down Again
Bis
17- Strangelove
18- Walking in My Shoes
19- A Question of Time
20- Personal Jesus

Vista do ótimo palco do show do Depeche Mode, no fundo do Allianz Parque dividido ao meio

Vista do ótimo palco do show do Depeche Mode, no fundo do Allianz Parque dividido ao meio

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