O Homem Baile

Funciona

The National leva a tristeza indie para as massas com bom show no Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara/MRossi.

O vocalista do The National, Matt Berninger, com sua voz peculiar, tem ótima performance no Lolla

O vocalista do The National, Matt Berninger, com sua voz peculiar, tem ótima performance no Lolla

Que um show do The National tem um “que” de catártico até os brasileiros sabem, depois de o grupo tocar por aqui em duas oportunidades (relembre 2011 e 2008). Mas, no palco principal do Lollapalooza, escalado antes do gigantismo do Pearl Jam (veja como foi), em pleno sábado (24/3), o desafio é levar essa tal catarse para as massas e fazê-la funcionar para além das quatro paredes de um clubinho indie que toda cidade tem. Com quase 20 anos de estrada, a hora parece chegar depois de o disco mais recente deles, “Sleep Well Beast”, lançado no ano passado, ter faturado o Grammy na categoria “Melhor álbum musical alternativo”, para orgulho – e desespero ao mesmo tempo – da comunidade indie.

Vitaminado com um duo de metais, percussão e outras cositas mas, o quinteto original tem mais consistência ainda do que a já oferecida pela dupla de guitarristas Aaron Dessner e Bryce Dessner, que também se revezam em teclados. Tudo para que o vocalista Matt Berninger, com sua voz peculiar, um barítono radical, brilhe entre a delicadeza e o desabafo incontornável sugerido pelas letras, e daí a tal catarse que faz dos shows do National uma boa experiência. Paradoxo esse bem exposto na sensível “Nobody Else Will be There”, que abre o show de maneira sutil, em contraposição a, por exemplo, “Squalor Victoria”, com Matt rasgando a voz como se o mundo fosse acabar.

O resultado, senão pleno, aparece nos rostos com olhos marejados dos fãs mais próximos do palco que têm a imagem exibida no telão, e talvez por isso mesmo Matt não se furte de descer junto a grade que separa o público do palco em diversas vezes; faz isso também nos shows em casas fechadas. Acontece em “Day I Die”, que, ainda pouco conhecida, força a plateia a sair de certa letargia, e na já clássica “Mr. November”, que tem ótima performance da banda e de Matt Berninger em especial. O instrumental segue cada vez mais encorpado, o que garante ao show um substancial advance em relação as músicas gravadas em disco, em suas versões originais.

O baterista Bryan Devendorf, Matt Berninger e o baixista Scott Devendorf  em ação com o The National

O baterista Bryan Devendorf, Matt Berninger e o baixista Scott Devendorf em ação com o The National

As imagens tortas, sujas de propósito, escuras, exibidas no telão de fundo e nos laterais, se não realçam detalhes dos músicos tocando para quem não está tão próximo do palco, contribuem para o chamado conjunto da obra da apresentação, que a cada música recebe o carimbo de que, sim, funciona. Boa parte das músicas é do premiado disco novo – cinco das 13 – o que, se contribuiu para momentos de menor adesão do público, mostra o quinteto em boa forma e desabraçado da onda clássica que permeia grandes festivais como o Lolla; dá pra tocar música nova, sim. “Guilty Party”, por exemplo, uma das que têm os metais, começa quase sem ser notada e termina com um ótimo duelo de guitarras, que, erguidas, encantam o público.

Se sobressaem também no repertório músicas como a francamente inspirada nos anos 80 “Bloodbuzz Ohio”, que o público aplaude muito no final; “The System Only Dreams in Total Darkness”, turbinada por ótimas intervenções de guitarra, e com Matt se aventurando no passeio pela grade, junto ao público; e no desfecho com “Terrible Love”, uma daquelas em que o vocalista parece que vai colocar os bofes pra fora, de tanto que se esgoela. É o que faz a banda deixar o palco debaixo de muita vibraçao por parte do público, de onde se constata que, sim, é possível tocar para as massas com sucesso sem mexer tanto assim na música que leva uma banda a tal situação. Ao menos, com o The National funcionou.

Set list completo:

1- Nobody Else Will Be There
2- The System Only Dreams in Total Darkness
3- Don’t Swallow the Cap
4- Walk It Back
5- Guilty Party
6- Bloodbuzz Ohio
7- Squalor Victoria
8- I Need My Girl
9- Slow Show
10- Day I Die
11- Fake Empire
12- Mr. November
13- Terrible Love

Abrindo para o Pearl Jam: visão geral do show do The National no palco principal do Lollapalooza

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