O Homem Baile

Círculo de confiança

Tocando cedo no Solid Rock carioca, Tesla acaba fazendo show do tipo ‘para iniciados’. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Tesla, Jeff Keith, com figurino discreto, de braços abertos tal qual o Cristo Redentor

O vocalista do Tesla, Jeff Keith, com figurino discreto, de braços abertos tal qual o Cristo Redentor

Se não fosse em um festival, é possível que o Tesla jamais tivesse vindo tocar no Rio. Em contrapartida, escalado como banda de abertura no Solid Rock, na última sexta (15/12), no Rio, acabou atraindo um público bem reduzido, para a decepção daquela meia dúzia de fãs acostumada com as imagens dos shows de arena que o grupo fazia no auge, lá pelos anos 1980. No que sempre persistirá a dúvida: havia pouca gente porque era muito cedo ou porque a banda de abertura é que não tem muito púbico na Cidade Maravilhosa? Alheios a questões dessa natureza, o quinteto subiu no palco para fazer a limonada com um tipo de música espalhafatosa que - vamos e venhamos – pouco combina com a Arena Jeunesse vazia de dar desgosto.

E aí a sabedoria de sacar um repertório necessariamente de clássicos, mesmo considerando que, no hard rock de qualquer época, o Tesla sempre habitou divisões inferiores. O vocalista Jeff Keith, por exemplo, soa como um decalque de Steven Tyler, só que com muito menos approach e presença de palco, em que pese o fato de o repertório também não ser a joia que o Aerosmith pule nos shows há anos. Assim, a música mais nova apresentada nos cerca de 50 minutinhos de show data de, ao menos, 25 anos atrás, muito embora o quinteto também não lance discos regularmente; o mais recente, “Simplicity”, de 2014, não é sequer cogitado. Paradoxalmente, acreditem, é melhor assim.

Duelo: os guitarristas Dave Rude e Frank Hannon botando pra quebrar na beirada do palco

Duelo: os guitarristas Dave Rude e Frank Hannon botando pra quebrar na beirada do palco

Porque reflexões dessa natureza passam longe da cabeça da turma do gargarejo que, se dava para contar a dedo, se multiplica quando o guitarrista Frank Hannon, sócio número um, começa quase como um solo, a entrada de “The Way It Is”. A música, aparentemente mais aclamada, se desenrola com ótima performance instrumental, com o mesmo Hannon debulhando a guitarra na parte final, em meio à esgoelagem de Keith. Ou em “Sings”, uma das melhores canções da noite, cujo sotaque acústico – violão no palco, alerta total - não impede o envolvimento geral ali na frente – onde mais? – junto a grade. Ou ainda o momento diferenciado, com Frank Hannon fazendo um teremim gemer com o braço da guitarra, em “Edison’s Medicine”, clássico dos clássicos e que abriu o festival no gás; um pouco mais de peso/pegada, no entanto, cairia bem.

O desfecho tem a razoável “Modern Day Cowboy”, cujo riff magrinho se auto turbina e leva a dupla de guitarristas - além de Hannon o discreto Dave Rude – a um ótimo duelo mais que melódico na beirada e palco, enquanto um incansável Jeff Keith se mexe de lado a outro, no embalo dos gritos dos fãs. No frigir dos ovos, e levando-se em conta os shows do Deep Purple, que arrematou a noite com classe (veja como foi) e do inacreditavelmente desconhecido Cheap Trick (resenha aqui), o Tesla foi a banda certa, do tamanho certo, na posição certa no Solid Rock. Que os gatos pingados colados na grade se multipliquem até a próxima vez e/ou convençam todo mundo a chegar mais cedo. E sem choro.

Brian Wheat, que troca de baixo como quem troca de guitarra, e Frank Hannon agitando no show

Brian Wheat, que troca de baixo como quem troca de guitarra, e Frank Hannon agitando no show

Set list completo:

1- Edison’s Medicine
2- The Way It Is
3- Hang Tough
4- Heaven’s Trail (No Way Out)
5- Signs
6- Love Song
7- Little Suzi
8- Modern Day Cowboy

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