O Homem Baile

Prazer, rock’n'roll

Estreando turnê pelo Brasil, Cheap Trick substitui bem o Lynyrd Skynyrd e é finalmente ‘apresentado’ ao público carioca no Solid Rock. Fotos: Nem Queiroz.

A dupla de figuraças do Cheap Trick: o guitarrista Rick Nielsen e o vocalista e guitarrista Robin Zander

A dupla de figuraças do Cheap Trick: o guitarrista Rick Nielsen e o vocalista e guitarrista Robin Zander

Há males que vêm para o bem. Quem não tem cão caça com gato. Melhor que nada, no caso cancelar o festival. Esses eram alguns mantras guardados pelos inconsoláveis fãs do Lynyrd Skynyrd que toparam conferir a apresentação do Cheap Trick, seu substituto no Solid Rock, nesta sexta (15/12), na Arena Jeunesse, no Rio. O festival teve ainda o Tesla como banda de abertura e o Deep Purple como encerramento (veja como foi) e serviu, quase sem querer, para o Cheap Trick, com 40 anos de rock nas costas, enfim fazer um show por aqui. Só que para um público que, em sua maioria, foi para ver o Purple mesmo, ou estava solidário com a turma dos inconsoláveis. Ao menos – e é quase sempre assim nesse tal de rock’n’roll – antes de a bola começar a rolar.

Não que o grupo tenha adentrado o palco enlouquecendo o público logo de cara, exceto uma meia dúzia de três ou quatro dependurados ali na grade. De início, a postura da plateia, já numerosa, era quase dispersa, até passar para contemplativa, e, depois, para uma tímida participação, para enfim a interação total acontecer no final. A bem da verdade, praticamente nenhuma música do Cheap Trick soa familiar nesse ambiente, e, aí, é a força das canções e da execução dos músicos o mérito da saborosa conquista. De um modo geral, os caras pinçaram um repertório da antigas, deixando quase de fora as músicas dos álbuns mais recentes, e mudaram bastante o set list em relação ao show de São Paulo, numa troca de nada menos que 10 músicas, incluindo “She’s Tight”, que regravada pelos fanfarrões do Steel Panther, acabou limada quando até poderia ajudar.

Robin Zander e o visual 'papel de parede de gibi', com o batera Daxx Nielsen e Rick Nielsen circulando

Robin Zander e o visual 'papel de parede de gibi', com o batera Daxx Nielsen e Rick Nielsen circulando

Embora figuraças natos, sobretudo o guitarrista Rick Nielsen e o vocalista e também guitarrista Robin Zander, que entrou exibindo um figurino de páginas de gibi, vazado para a guitarra, percebia-se nos semblantes deles certa decepção com a participação quase nula no início. Mesmo peças chamativas como “Hello There” e “Big Eyes”, com riff grudento e refrão bom de cantar, praticamente passaram batidas. O som também, mesmo em um volume bastante alto, demorou um pouco a sem bem equalizado, e as primeiras músicas cujo apelo realmente funcionam são “The House Is Rockin’ (With Domestic Problems)”, costurada por um riff acachapante e um refrão “easy singing” total, e a renovada “Magical Mystery Tour”, dos Beatles, convertida ao Cheap Trick way of life sem a menor cerimônia - como eles costumam fazer, adoram inventar covers - e de certo modo reconhecida no show.

Dois outros momentos específicos marcam a apresentação. Um é a estranheza de músicas como a monocórdica “Speak Now or Forever Hold Your Peace”, conduzida por Tom Petersson, com seu baixo peculiar de cordas dobradas, e que tem um desfecho amalucado e esporrento. Ou outro, e aí o trabalho de sedução é a favor, vem com baldadaças que sempre têm grande apelo. Caso de “The Flame”, uma das bem identificadas, com violão no palco, tocado por Zander, e na apenas razoável “Voices”. Embora tenha lançado um álbum todo de temática natalina em outubro (caras de pau!), e apesar da proximidade das festas de final de ano, apenas “Run Rudolph Run” desse material é tocada, e, consagrada por Chuck Berry, nem é tão identificada assim com Santa Claus e adjacências. O público, a essa altura, canta o refrão atendendo ao apelo da banda.

Tom Petersson, com o peculiar baixo de cordas duplas, que protagoniza 'momentos estranhos' no show

Tom Petersson, com o peculiar baixo de cordas duplas, que protagoniza 'momentos estranhos' no show

E no epílogo, hits como “Dream Police”, impulsionada por um distintivo exibido no telão, e “Surrender”, o clássico que seria citado pela guitarra de Steve Morse mais tarde, no show do Deep Purple, têm grande adesão, o que garante, enfim, o arremate que o Cheap Trick merece. Sim, ficou faltando a espalhafatosa e eloquente guitarra de cinco braços que Nielsen costuma exibir, mas, no finalzinho, ele ainda buscou aquela amarela de dois trastes, em formato de “Uncle Dick”, para tocar, meio às pressas – parece que havia duvida se havia ou não tempo - “Auf Wiedersehen”, que costuma ser emenda com “Goodnight Now”, mas aí não deu tempo mesmo. Mas que, no fim das contas, o quarteto agradou, isso agradou. Quando voltar, em um show sozinho, a semeadura dessa noite seguramente vai frutificar.

Set list completo:

1- Hello There
2- ELO Kiddies
3- Big Eyes
4- California Man
5- Lookout
6- On Top Of The World
7- The House Is Rockin’ (With Domestic Problems)
8- Voices
9- Long Time Coming
10- Speak Now or Forever Hold Your Peace
11- That 70’s Show
12- Magical Mystery Tour
13- I Know What I Want
14- The Flame
15- I Want You To Want Me
16- Dream Police
17- Run Rudolph Run
18- Surrender
19- Auf Wiedersehen

Rick Nielsen, Robin Zander e Tom Petersson, os três fundadores, na linha de frente do Cheap Trick

Rick Nielsen, Robin Zander e Tom Petersson, os três fundadores, na linha de frente do Cheap Trick

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