Interatividade
Público participativo impulsiona o show e realça as tonalidades pop rock que afastam o Delain do meio metálico. Fotos: Nem Queiroz.
Qual nada. Primeiro que o sexteto tem ótima performance ao vivo, e uma inédita arrumação no acanhado palco fez os amplificadores e periféricos desaparecerem e a quantidade de luzes simplesmente dobrou, em comparação a outros shows que passam pelo Odisséia – vai ver por isso, no terço final da noite uma queda de energia se anunciou, mas logo tudo se restabeleceu, segundo a vocalista Charlotte Wessels por causa dos gritos do público. Depois porque o pessoal que foi ao show não está para brincadeira, e, colado na beirada do palco, trata de cantar absolutamente tudo junto com a banda. Como a casa está bem vazia, quase converte o show em evento intimista no qual banda e público praticamente conversam entre si, e daí, talvez, a inclusão da música inesperada.
Não foi a única. A bela “Danse Macabre”, cujo início já é um intuitivo convite à cantoria, também aprece do nada, mas em substituição à “Sleepwalkers Dream”, numa boa decisão, a julgar pela participação da plateia. Outra feita pra cantar, e das mais conhecidas é “Suckerpunch”, mais ritmada e identificada com o rock, assim como a boa “Fire With Fire”, e ressalte-se que, embora nascido e crescido no seio do metal, o Delain têm forte identificação com o pop rock, e não só no sentido de ter músicas cativantes como essas, mas de ser pop mesmo, muitas vezes com a subtração de guitarras e ausência de solos, embora tenha dois guitarristas em quase todas as músicas. Assim como acontece no Nightwish – e a comparação é pertinente -, só que este tem Tuomas Holopainen como chefão e excepcional compositor.No Delain, o mandachuva é o também tecladista Martijn Westerholt, ex-Within Temptation – e outra banda holandesa é citada -, muito embora as composições sejam divididas com Wessels. Para azar dele, contudo, seu instrumento não é muito escutado nas caixas, o que diminui, de certo modo, a potência da banda no palco. E sobra para a pródiga Merel Bechtold e para Timo Somers, cujas guitarras têm mais cordas do que é possível/necessário tocar, a tarefa de executar as músicas. Nesse habitat de coadjuvantes, é a figura de Charlotte Wessels que obviamente se salienta, não só pela ótima capacidade vocal – quase ume tenor de calças curtas-, mas pela simpatia mezzo tímida que marca todo o show. Como o grupo não usa visual do meio metálico, esguia, Wessels parece mais uma garota de Ipanema que acaba de sair de uma puxada aula da academia.
De modo que nem os vocais gravados em algumas músicas – em “Fire With Fire” e “Don’t Let Go”, por exemplo – importam, dado o chamado conjunto da obra. Mesmo sendo a primeira vez no Rio (a terceira no Brasil), a banda não quer saber, e enfileira nada menos que sete das 11 músicas do disco mais recente, “Moonbathers”, que saiu há pouco mais de um ano. Além das já citadas, dessas se destacam “Pendulum”, por conta de um bom refrão, que todo mundo já sabia cantar; e “The Hurricane”, a que mais se aproxima de uma balada, e na qual Charlotte Wessels reforça o protagonismo com um ótimo alcance vocal, e os guitarristas perdem a chance de mandar um solo daqueles que Slash faz no precipício de “November Rain”. A inclusiva “We Are the Others”, faixa-título do álbum de 2012, é a pedida certa para o arremate de, em suma, um bom show de uma banda média reforçado por uma plateia pequena, mas tão participativa que chega a salvar a noite.Set list completo:
1- Hands of Gold
2- Go Away
3- The Glory and the Scum
4- Suckerpunch
5- Get the Devil Out of Me
6- Army of Dolls
7- The Hurricane
8- Here Come the Vultures
9- Fire with Fire
10- Pendulum
11- Danse Macabre
12- Not Enough
13- Mother Machine
14- Don’t Let Go
15- The Gathering
16- We Are the Others
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