O Homem Baile

Superou

Daughter sofre com o sol e com problemas técnicos no Popload Festival; Ventre é destaque nacional e atração surpresa decepciona. Fotos: Fabrício Vianna/Divulgação Popload Festival (1 e 2) e Ricardo Fernandes (3 e 4).

A vocalista, guitarrista e baixista do Daughter, Elena Tonra, sofrendo com problemas técnicos e com o sol

A vocalista, guitarrista e baixista do Daughter, Elena Tonra, sofrendo com problemas técnicos e com o sol

Se o repertório do show do Daughter anotado no final do texto não estiver completamente correto como é hábito por aqui, não levem a mal. É que o grupo sofreu com toda a sorte de problemas técnicos com seus equipamentos durante a apresentação do Popload Festival, na última quarta (15/11), em São Paulo. E para superar a situação, alterou sensivelmente a ordem das músicas, considerando que a banda é do tipo rodízio de vôlei, com os músicos se revezando em cada instrumento. Então, dessa forma, ao pular de uma guitarra para um baixo, em outra música, daria tempo para a equipe técnica resolver os tais problemas. Já do sol escaldante na cara a banda não se livrou mesmo, e espera-se que a vocalista/guitarrista/baixista Elena Tonra tenha usado um protetor solar dos bons, ou hoje está em apuros.

Mesmo assim, a banda fez uma boa apresentação, melhor até do que se podia esperar se levarmos em conta a sonoridade etérea e até destemperada que marca os álbuns. Ao vivo, a coisa muda de figura, e o quarteto conseguiu agradar ao público - não só aos entusiastas que vibravam a cada primeira nota de música - na maior parte do tempo. Em “Youth”, reconhecida de primeira, na parte final do show, o público também supera a soalheira em um inesperado pula-pula. A bateria de Remi Aguilella, com um encorpado kit eletrônico, ajuda bastante, também em “Fossa”, no final, que tem o guitarrista Igor Haefeli face to face com Elena, no que parece ser um dos momentos mais arrojados da tarde.

O guitarrista do Ventre, Gabriel Ventura, canhotinho dos bons e vetor do rock mais de raiz da banda

O guitarrista do Ventre, Gabriel Ventura, canhotinho dos bons e vetor do rock mais de raiz da banda

Na maior parte do tempo o grupo tem uma tecladista de apoio, mas também funciona como o trio em, por exemplo, “Candles”, o que confere uma crueza maior e ajuda na compreensão do show, ainda mais em um festival. No início, a timidez era visível, e Elena Tonra ria de tudo, ou por diversão ou sem jeito mesmo, com tantas dificuldades. As versões ao vivo para “How”, de tom indie minimalista, e New Ways”, com um bom crescente final, que abandona o tal etéreo citado ali em cima, serviram para afirmação antes de os tais problemas técnicos acontecerem. Com a banda mais solta, da metade para o final o show fluiu melhor, e, no fim das contas, deu pra fazer a limonada sem muita acidez.

Entre as nacionais, o power trio Ventre se destacou por fazer um som mais pesado e identificado com o rock de raiz, digamos assim, do que as outras atrações do festival. Não raro as músicas descambam para ótimas improvisações, caso de “Quente”, logo a primeira, com título apropriado para o calorão da tarde paulistana, que parece até duas músicas, dadas as mudanças de andamento. O número tem um “Fora Temer” bradado pela baterista Larissa Conforto no meio. Antes de “Mulher”, Larissa solta um discurso em favor das mulheres e outras demandas que ficaria melhor como letra de música, e acaba custando o término da apresentação, bem curta para o tamanho do som que o grupo tem para mostrar. O guitarrista Gabriel Ventura, canhotinho dos bons, é o vetor do ótimo instrumental do grupo, e seria melhor se ele não deixasse tento a guitarra de lado; tá bom, mas pode melhorar muito mais.

A performática vocalista do Carne Doce, Salma Jô, suando em bicas na tarde do Popload Festival

A performática vocalista do Carne Doce, Salma Jô, suando em bicas na tarde do Popload Festival

Outra atração brasileira do festival, o Carne Doce, com mais fãs no meio do público, tem uma resposta melhor de quem chegou mais cedo no sol quente. “Ceis são firmeza mesmo pra ficar aí nesse sol”, disse logo no início a performática vocalista Salma Jô, suando em bicas ela própria. Embora as músicas da banda goiana tenham um flerte com a música de gosto duvidoso made in Pará, os músicos estão cada vez melhores no palco, o que resulta em ótimas evoluções instrumentais, e, de certo modo, divide o protagonismo com a vocalista. Acontece com mais evidência em “Açaí”, quando o peso e a técnica vencem o tom popularesco, e em “Passivo”, as duas últimas, que servem para deixar aquela sensação de que é preciso ver um show inteiro deles, em um local mais aconchegante, tipo esse aqui, no Circo Voador, no Rio, em janeiro .

Nem Yo La Tengo, que circulava pelo Chile, nem Whitney, que tinha tocado em São Paulo na véspera. A atração surpresa do palco pomposo de uma das patrocinadoras do festival foi o duo AlunaGeorge, aquele mesmo que se apresentou no Rock In Rio de 2015. Uma pena que não chega a ser um show em si, mas uma discotecagem com dançarinas e tudo – e ainda teve a participação da brasileira Iza -, que funcionaria melhor numa daquelas afterhours madrugada a dentro. Na abertura do Popload, o Neon Indians, todo trabalhado no branco para encarar o sol, teve um bom tempo – mais que as bandas brasileiras que tocaram depois – para mostrar um indie eletrônico que muitas vezes descamba para o pop reggae dos mais clichês. Com pouca gente no festival, foi agradável apenas para os também poucos fãs que vibravam do lado esquerdo do palco.

Todo de branco, o Neon Indian teve mais tempo para tocar na abertura, mas para um público menor

Todo de branco, o Neon Indian teve mais tempo para tocar na abertura, mas para um público menor

Set list (mais ou menos) completo Daughter:

1- New Ways
2- How
3- Love
4- Winter
5- Numbers
6- Candles
7- No Care
8- Human
9- Youth
10- Smother
11- Fossa

Marcos Bragatto viajou a convite do TNT Energy Drink.

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