O Homem Baile

Festança

Na primeira vez no Rio, Dropkick Murphys faz show bem bolado com muita pressão e interação com o público. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Dropkick Murphys, Al Barr, e o baixista e fundador da banda, Ken Casey, à esquerda

O vocalista do Dropkick Murphys, Al Barr, e o baixista e fundador da banda, Ken Casey, à esquerda

Dos shows que terminam com o palco lotado de fãs – e não são poucos - seguramente o do Dropkick Murphys é um dos mais animados. Porque, se a banda é dada a compor e executar músicas em forma de hino o tempo todo, imagine naquela tocada no encerramento. E olha que “Until The Next Time”, escolhida por razões óbvias, só foi lançada no álbum mais recente da banda, que saiu no início do ano. Só que já nasceu, como muitas músicas da banda, em forma de canção, como inevitável clássico. Foi assim que os americanos/irlandeses/escoceses receberam boa parte de um excelente público em pleno palco, ontem (27/10), no Circo Voador. E ainda rolou “TNT”, do AC/DC, que, pela animação da turma, mantém os integrantes da banda lá até agora fazendo fotos e dando autógrafos.

No palco, a banda tem uma base sólida formada por dois guitarristas e o baixista Ken Casey, líder e fundador do DM, de modo que Jeff DaRosa, o terceiro guitarrista, faz das suas dependendo do approach de cada música. Porque o som é salpicado por referências diversas, assumindo várias facetas, que, contudo, guardam certa identidade. E guitarrista o modo de dizer, já que DaRosa se desdobra em uma pá de instrumentos, incluindo violão, banjo, harmônica, teclados, flauta doce e o escambau. Assim, a pegada no palco, que é ótima, mantém a execução das músicas bem próximas de suas versões de estúdio, sendo que o guitarrista e varapau Tim Brennan ainda toca acordeão, e, lá no fundo do palco, Lee Forshner, ao lado do batera Matt Kelly, volta e meia insere a sempre instigante gaita de foles.

Várias facetas: os guitarristas Jeff DaRosa, tocando banjo, e Tim Brennan, dedilhando um acordeão

Várias facetas: os guitarristas Jeff DaRosa, tocando banjo, e Tim Brennan, dedilhando um acordeão

E – ainda tem mais essa -, além do ótimo vocalista Al Barr, que tem marcante presença de palco, todos fazem vocais de apoio, sendo que Casey puxa boa parte das músicas no gogó, e canta outras sozinho. Tudo isso explica o funcionamento enviesado do Dropkick Murphys no palco, o que realça mais ainda a força de músicas do tipo canção-hino-trilha sonora, tudo com pegada punk rock, às vezes mais, noutras menos. Não por acaso estão no repertório músicas como “You’ll Never Walk Alone”, tema oficial da torcida do Liverpool e de outras equipes de futebol europeias; “Johnny, I Hardly Knew Ya”, que como muitas outras se assemelha a um tema de bangue-bangue; e “Paying My Way”, cuja batida marcial, associada à harmônica, a faz parecer um hino escolar, ainda que dê uma acalmada no ritmo do show.

Porque a apresentação, na maior parte do tempo, é frenética, com Al Barr se valendo de uma plataforma montada na frente do palco para cantar em direção ao (e já no meio do) público. E as músicas – 30, em cerca de hora e meia – são tocadas emendadas umas às outras em blocos que contagiam por pura pressão. Desde o sotaque celta/irlandês de “Prisoner’s Song”; passando por “Do or Die”, que se converte em uma das mais intensas, entre tantas rodas de pogo da noite; até chegar em “I’m Shipping Up to Boston”, que encerra a primeira parte no gás, tudo se encaixa perfeitamente. Até na escolha de covers com rara precisão: a já citada “TNT”, com Al Barr quase fanho como Bon Scott; “Cretin Hop”, do Ramones; e a sensacional “I Fought The Law”, do Bobby Fuller Four, que o Clash consagrou. Tudo lindo, lindo.

Linha de frente do Dropkick Murphys botando pra quebrar para o público no Circo Voador

Linha de frente do Dropkick Murphys botando pra quebrar para o público no Circo Voador

O show é tão bem montado e fechado em si próprio que até as músicas de “11 Short Stories of Pain & Glory”, o tal disco que saiu em janeiro, soam como se íntimas já fossem da cada um ali no meio de salão; e são nove das 11 faixas tocadas no show (!?). Entre elas, vale citar ainda “First Class Loser”, outra de trilha de faroeste italiano, com Jeff DaRosa firme no trio de guitarras, completado por James Lynch, e a matadora instrumental “The Lonesome Boatman”, que abre o show. Mas é em músicas como “In The Streets Of Boston”, um hardcore de velocidade atroz, e “Barroom Hero”, pedrada street punk pra cantar, pinçada do disco de estreia, que o povão se acaba. Para só então, no final, se emocionar com a canção de despedida “Until The Next Time” e o palco lotado de fãs. Que não demore essa próxima vez.

Set list completo:

1- The Lonesome Boatman
2- The Boys Are Back
3- Hang ‘Em High
4- I Had a Hat
5- Rebels With a Cause
6- The Gang’s All Here
7- Johnny, I Hardly Knew Ya
8- Blood
9- Prisoner’s Song
10- Cretin Hop
11- Paying My Way
12- The Warrior’s Code
13- The Fields of Athenry
14- Famous for Nothing
15- First Class Loser
16- Citzen CIA
17- Barroom Hero
18- Do or Die
19- Never Alone
20- Boys on the Docks
21- You’ll Never Walk Alone
22- Out of Our Heads
23- Rose Tattoo
24- In The Streets Of Boston
25- Going Out in Style
26- I’m Shipping Up to Boston
Bis
27- I Fought The Law
28- The State of Massachusetts
29- Until The Next Time
30- TNT

Cena final do show, com boa parte do público em cima do palco cantando as duas últimas músicas

Cena final do show, com boa parte do público em cima do palco cantando as duas últimas músicas

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Às claras

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado