O Homem Baile

Fogo baixo

Na estreia no Rio, In Flames dá geral na carreira, mas enfatiza trabalhos mais recentes, em show de altos e baixos. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista do In Flames, Anders Fridén, ue tem boa presença de palco, mas mostrou desânimo no show

O vocalista do In Flames, Anders Fridén, ue tem boa presença de palco, mas mostrou desânimo no show

O show está perto do final, e o vocalista hesita em continuar, no que se diz fascinado com a cantoria da plateia. É aquele típico “olê, olê, olê” entoado por torcidas de futebol e fãs de rock mundo afora, mas, ali, naquele Circo Voador nem tão cheio assim, pega o sujeito de uma maneira que lhe parece especial. Tanto que ele sugere que o tal grito seja gravado para que sirva como abertura do próximo álbum de sua banda, mas não parece ter o apoio os demais integrantes. É um momento divertido no show do In Flames, neste sábado (20/10), no Rio, e Anders Fridén, o tal vocalista, faz de sua verve, numa conversa de hippie meio sem noção, um artifício para levantar a bola de um show um tanto burocrático em algumas partes.

No início, contudo, não parecia que seria assim. Porque o público, se pequeno para a estreia na cidade de uma banda rodada e que já esteve no Brasil há uns oito anos, é do tipo participativo que, embora pareça se identificar mais com as fases mais recentes, vibra a cada música tocada. Como na dobradinha “Everything’s Gone”/“Take This Life”, quase unidas, numa pedrada só. A primeira, das mais recentes, com um riff marcado e peso multiplicado por mil, representa a boa fusão entre o metal sueco e o americano explorado pela banda de uns tempos pra cá. A segunda, um hit contemporâneo com refrão grudento, semipop, pega o público de jeito, o que detona rodas de dança daquelas ante as quais não se fica indiferente: ou se passa ao largo, assustado, ou cai-se de cabeça logo de uma vez.

O bom guitarrista Björn Gelotte, que há tempos deixou bateria de lado para comandar o In Flames

O bom guitarrista Björn Gelotte, que há tempos deixou bateria de lado para comandar o In Flames

Explica-se que o metal americano citado ali em cima se deve ao fato de o In Flames, um dos pioneiros do death metal melódico que varreu a Europa a partir de meados da década de 1990, ter flertado (para dizer o mínimo) em diversos álbuns, com o nu metal que coube ao Korn ser seu principal estandarte. O que sai daí é um metal híbrido e que pode acarretar em variações de humor em fãs de parte a parte, sobretudo no que tange a utópicas fidelidades em geral cultivadas. Ecos e desenvolvimentos desse passo em falso/acertado, aparecem em “The Quiet Place”, guardada para o final, com a fusão de guitarras ultra pesadas e “voz de sofrimento”; “Trigger”, na qual Fridén pede para o público enlouquecer e é atendido de imediato; e na ótima “Deliver Us”, que, ao vivo, tem os riffaços mais pesados que em disco e o refrão bom de cantar que é uma beleza.

Mas é a turnê do álbum mais recente, o bom “Battles”, lançado no ano passado e que fornece seis músicas ao show. A melhor delas naturalmente e “The Truth”, que adiciona um incomum sotaque pop, já no refrão colante a partir de um verso pré-gravado que inicia a música. Ao vivo, as guitarras soterradas na produção do álbum reaparecem, e isso é lindo. Com muito mais pegada, “Here Until Forever” também cresce um bocado ao vivo, e o desfecho instrumental, comandado por Björn Gelotte, é muito bom. O guitarrista, remanescente da formação original, e que trocou a bateria pela guitarra no meio do caminho, é o bambambã do pedaço, comandando cada música, em cada um dos solos. Em “Only For the Weak” tem seu momento solo mais brilhante, e o minimalismo ininterrupto de “Moonshield” realça texturas menos evidentes, para uma banda de metal pesado, mas deveras interessantes.

Trio hipster: o baixista de turnês Bryce Paul e Anders Fridén, com Björn Gelotte solando no centro

Trio hipster: o baixista de turnês Bryce Paul e Anders Fridén, com Björn Gelotte solando no centro

Longe dos bons tempos da formação clássica, que durou uns 10 anos, até 2010, a atual, toda remendada, tem ainda o bom guitarrista Niclas Engelin, único fiel aos dogmas do metal, sem o visual hipster enfraquecedor dos demais, o baterista Joe Rickard, que entrou no ano passado, e o baixista de turnê Bryce Paul. O que talvez explique uma queda brusca da pegada e da animação no meio do show, quando até Anders Fridén sente o momento ruim e desanda afazer comentários de improviso entre as músicas, como se desejasse antecipar o encerramento. O que não tira o mérito de o repertório, mesmo com ênfase nos trabalhos mais recentes, ter percorrido quase toda a carreia da banda, e das ótimas performances para músicas como a já citada “Only For the Weak”, do ótimo álbum “Clayman”, de 2000, e para a novata “Drained”, que abre a noite no gás. Mas que dá pra fazer melhor, isso dá.

Com uma produção de palco reforçada, o Reckoning Hour, do Rio, fez um ótimo show de abertura, em que pese o pouco público que chegava mais cedo no Circo Voador. A banda, que já tem expertise em abertura para shows internacionais, mostra entrosamento crescente a cada um deles, sobretudo a dupla de guitarristas Philip Leander e Lucas Brum, e o bom vocalista JP, que se sai muito bem na alternância dos vocais limpos e rasgados/guturais. O show começa com “Misguided”, que tem clipe lançado recentemente, com ótimo solo de Brum. Em “Eye For Na Eye”, já conhecida, as alternâncias de andamento revelam referências a vários subgêneros do metal, tudo fundido numa coisa só. A pedrada “Between Death And Courage”, fecha a noite realçando o volume altíssimo do som, ainda mais para uma banda e abertura.

Vista do palco: o guitarrista Niclas Engelin, Paul, Fridén e Gelotte, com o batera Joe Rickard no fundo

Vista do palco: o guitarrista Niclas Engelin, Paul, Fridén e Gelotte, com o batera Joe Rickard no fundo

Set list completo In Flames:

1- Drained
2- Before I Fall
3- Everything’s Gone
4- Take This Life
5- Trigger
6- Only for the Weak
7- Dead Alone
8- Darker Times
9- Drifter
10- Moonshield
11- The Jester’s Dance
12- Save Me
13- Alias
14- Here Until Forever
15- The Truth
16- Deliver Us
17- The Mirror’s Truth
18- The Quiet Place
19- The End

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