Fogo baixo
Na estreia no Rio, In Flames dá geral na carreira, mas enfatiza trabalhos mais recentes, em show de altos e baixos. Fotos: Daniel Croce.
No início, contudo, não parecia que seria assim. Porque o público, se pequeno para a estreia na cidade de uma banda rodada e que já esteve no Brasil há uns oito anos, é do tipo participativo que, embora pareça se identificar mais com as fases mais recentes, vibra a cada música tocada. Como na dobradinha “Everything’s Gone”/“Take This Life”, quase unidas, numa pedrada só. A primeira, das mais recentes, com um riff marcado e peso multiplicado por mil, representa a boa fusão entre o metal sueco e o americano explorado pela banda de uns tempos pra cá. A segunda, um hit contemporâneo com refrão grudento, semipop, pega o público de jeito, o que detona rodas de dança daquelas ante as quais não se fica indiferente: ou se passa ao largo, assustado, ou cai-se de cabeça logo de uma vez.
Explica-se que o metal americano citado ali em cima se deve ao fato de o In Flames, um dos pioneiros do death metal melódico que varreu a Europa a partir de meados da década de 1990, ter flertado (para dizer o mínimo) em diversos álbuns, com o nu metal que coube ao Korn ser seu principal estandarte. O que sai daí é um metal híbrido e que pode acarretar em variações de humor em fãs de parte a parte, sobretudo no que tange a utópicas fidelidades em geral cultivadas. Ecos e desenvolvimentos desse passo em falso/acertado, aparecem em “The Quiet Place”, guardada para o final, com a fusão de guitarras ultra pesadas e “voz de sofrimento”; “Trigger”, na qual Fridén pede para o público enlouquecer e é atendido de imediato; e na ótima “Deliver Us”, que, ao vivo, tem os riffaços mais pesados que em disco e o refrão bom de cantar que é uma beleza.Mas é a turnê do álbum mais recente, o bom “Battles”, lançado no ano passado e que fornece seis músicas ao show. A melhor delas naturalmente e “The Truth”, que adiciona um incomum sotaque pop, já no refrão colante a partir de um verso pré-gravado que inicia a música. Ao vivo, as guitarras soterradas na produção do álbum reaparecem, e isso é lindo. Com muito mais pegada, “Here Until Forever” também cresce um bocado ao vivo, e o desfecho instrumental, comandado por Björn Gelotte, é muito bom. O guitarrista, remanescente da formação original, e que trocou a bateria pela guitarra no meio do caminho, é o bambambã do pedaço, comandando cada música, em cada um dos solos. Em “Only For the Weak” tem seu momento solo mais brilhante, e o minimalismo ininterrupto de “Moonshield” realça texturas menos evidentes, para uma banda de metal pesado, mas deveras interessantes.
Longe dos bons tempos da formação clássica, que durou uns 10 anos, até 2010, a atual, toda remendada, tem ainda o bom guitarrista Niclas Engelin, único fiel aos dogmas do metal, sem o visual hipster enfraquecedor dos demais, o baterista Joe Rickard, que entrou no ano passado, e o baixista de turnê Bryce Paul. O que talvez explique uma queda brusca da pegada e da animação no meio do show, quando até Anders Fridén sente o momento ruim e desanda afazer comentários de improviso entre as músicas, como se desejasse antecipar o encerramento. O que não tira o mérito de o repertório, mesmo com ênfase nos trabalhos mais recentes, ter percorrido quase toda a carreia da banda, e das ótimas performances para músicas como a já citada “Only For the Weak”, do ótimo álbum “Clayman”, de 2000, e para a novata “Drained”, que abre a noite no gás. Mas que dá pra fazer melhor, isso dá.Com uma produção de palco reforçada, o Reckoning Hour, do Rio, fez um ótimo show de abertura, em que pese o pouco público que chegava mais cedo no Circo Voador. A banda, que já tem expertise em abertura para shows internacionais, mostra entrosamento crescente a cada um deles, sobretudo a dupla de guitarristas Philip Leander e Lucas Brum, e o bom vocalista JP, que se sai muito bem na alternância dos vocais limpos e rasgados/guturais. O show começa com “Misguided”, que tem clipe lançado recentemente, com ótimo solo de Brum. Em “Eye For Na Eye”, já conhecida, as alternâncias de andamento revelam referências a vários subgêneros do metal, tudo fundido numa coisa só. A pedrada “Between Death And Courage”, fecha a noite realçando o volume altíssimo do som, ainda mais para uma banda e abertura.
Set list completo In Flames:1- Drained
2- Before I Fall
3- Everything’s Gone
4- Take This Life
5- Trigger
6- Only for the Weak
7- Dead Alone
8- Darker Times
9- Drifter
10- Moonshield
11- The Jester’s Dance
12- Save Me
13- Alias
14- Here Until Forever
15- The Truth
16- Deliver Us
17- The Mirror’s Truth
18- The Quiet Place
19- The End
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