O Homem Baile

Pode voar

P.O.D. revê álbum e hit de maior sucesso e mostra fôlego com repertório musicalmente diversificado e atraente. Fotos: Lucas Tavares.

O líder do P.O.D., Sonny Sandoval, mostrando ótima presença de palco e interação com o público

O líder do P.O.D., Sonny Sandoval, mostrando ótima presença de palco e interação com o público

A força de um hit global se percebe quando, mesmo com o cansaço do final de um show, o público vibra ao reconhecer, nas primeiras notas da música que, sim, é aquela. Ou, por outra, mesmo antes disso, de acordo com o que o vocalista, com energia jorrando pelo ladrão, começa a falar, dando pistas do grande momento que se aproxima. E quando a banda, astuta, explora tudo o que esse sucesso tem a oferecer, desde a cantoria inebriada da plateia, que recebe o microfone várias vezes, até estratégicas paradinhas para dar ênfase a aeróbicos braços erguidos lançados de lado outro. É assim o fim da primeira parte do show do P.O.D., nesta quarta (11/10), no Circo Voador, no Rio, com todo mundo cantando cada versículo de “Alive” a plenos pulmões.

Covardia apontar o P.O.D., contudo, como uma onde hit band, ainda mais em uma seara - a de fãs do tipo “die hard” – na qual a cantoria é uma constante, e, mesmo que eventualmente não conste nos autos, o grupo tem muitas outras músicas conhecidas e que são também entoadas ao longo da noite. Uma delas é “Lost In Forever”, com uma crescente marcação marcial que envolve o público no verso/refrão/título de maneira surpreendente. Outra é “Revolución”, um hardcore arrebenta assoalho da safra mais recente, que vem com trecho cantarolável de fábrica e se converte em um reggae sem perder a pegada, numa das mais felizes misturas da banda, dada a fusão de ritmos. “On Fire”, que mais parece cover de Rage Against The Machine e cita a banda na letra, é um pedrada heavy rock funk que abre o bis estourando tímpanos sem dó.

O baixista Traa Daniels, que insere um groove daqueles no P.O.D., e o baterista Wuv Bernardo, no fundo

O baixista Traa Daniels, que insere um groove daqueles no P.O.D., e o baterista Wuv Bernardo, no fundo

Só que a tal força do hit global também se faz presente em um álbum de repercussão global. Ele se chama “Satellite”, foi lançado há 16 anos, vende feito banana em feira até hoje e cede, sem qualquer cerimônia por parte dos músicos, sete de suas faixas ao show, sendo três as primeiras, enfileiradas em matadora sequência. Em que pese o figurino de péssimo gosto à custa de estratégia populista, o vocalista Sonny Sandoval, já sem os dreads de outrora, enlouquece o público sob a lona com “Boom”, de título autoexplicativo, na primeira de muitas rodas de dança abertas com intensidade durante a noite. Ótimo performer, Sandoval tem ajuda do tecladista Luis Castillo nos backings, mas exagera e se perde muitas vezes em pueris convicções religiosas. Não, show de rock não é templo, público de rock pode ser tudo, menos família, e, definitivamente, o rock não é de nenhum deus.

Para quem é traído pela memória, vale o registro de que o P.O.D. nasceu em meio ao turbilhão do nu-metal (antes alterna metal) em meados dos anos 1990, e veio a atingir sucesso global com – repita-se – o álbum “Satellite”. Mesmo assim, jamais integrou o primeiro escalão de bandas afins, mesmo porque sempre investiu – e eis aí uma de suas principais características – em muitas misturas menos identificadas com a música pesada. O que não é de todo o mal, e de certa maneira garante à banda uma diversidade sonora que lhe permite visitar o reggae de “Ridiculous”; assinar parcerias como a de “Kaliforn-Eye-A”, com Mike Muir, do Suicidal Tendencies, que traz ótima guitarra funkeada; clonar RATM em “On Fire” – repita-se –; ou investir no rami-remi do rap, como em “Rock the Party (Off the Hook)” e tantas outras, quando Sonny Sandoval brilha com ótimo domínio de palco e interação com o público.

O guitarrista do P.O.D., Marcos Curiel, discreto no palco e gigante no som, e o agitado Sandoval

O guitarrista do P.O.D., Marcos Curiel, discreto no palco e gigante no som, e o agitado Sandoval

O disco mais recente, “The Awekening”, é pouco explorado, com apenas duas músicas, a já citada “Revolución” e “This Goes Out To You”, enviesada no meio do bis. De novidade mesmo, o grupo saca “Soundboy Killa”, cujo groove que faz o peito tremer lembra as investidas do Sepultura/Soulfly. O show durar cerca e 1h20m, com 19 músicas e uma intensidade rara, mesmo em momentos de relax que o reggae inevitavelmente sugere. O pique de Sandoval é admirável, e ele vai para a grade cantar junto com o público várias vezes. O encerramento, no bis, é com “Satellite”, dedicada a Chester Bennington, do Linkin Park, falecido em julho. A música é outra das mais cantadas pela plateia, assim como “Southtown”, que ele acha ser a “cara do Brasil”. Mas uma coisa é certa: aquela turba ali foi para a casa cantando a melodia de “Alive”. Ah, se foi.

Set list completo:

1- The Messenjah
2- Ridiculous
3- Boom
4- Rock the Party (Off the Hook)
5- Murdered Love
6- Soundboy Killa
7- Set It Off
8- Kaliforn-Eye-A
9- Youth of the Nation
10- Lost in Forever
11- Will You
12- Strength of My Life
13- Beautiful
14- Revolución
15- Southtown
16- Alive
Bis
17- On Fire
18- This Goes Out To You
19- Satellite

Marcos Curiel, Wuv Bernardo e Sonny Sandoval: o P.O.D. deu aos fãs o show que eles queriam no Circo

Marcos Curiel, Wuv Bernardo e Sonny Sandoval: o P.O.D. deu aos fãs o show que eles queriam no Circo

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