O Homem Baile

Chá de cadeira

Apresentação sem sal do Incubus mais enfastia a espera pelos shows de fundo no Rock In Rio do que cativa a plateia. Foto Divulgação Rock In Rio: Helena Yoshioka/I Hate Flash.

incubusrockinrio17Quer ganhar uma plateia fã de rock e que pagou caro para ver o The Who pela primeira vez ou três horas e meia de Guns N’Roses com a formação clássica quase completa? Toque uma música do Pink Floyd. Ou, por outra, só o pedacinho mais conhecido dessa música, que aí sobra mais tempo para tocar as músicas da sua própria banda, escalada para abrir para esses dois monstros do rock com um repertório inóspito, no palco principal de um festival de proporções bíblicas como o Rock In Rio. Ok, o Incubus tem uma “Wish You Were Here” pra chamar de sua, lançada há mais de 15 anos, e a citação ao PF vem sendo feita durante toda a turnê, mas precisava mantê-la justamente nesta data, levando-se em conta inclusive as limitações de tempo de um festival?

Não, não precisava. Mas precisou, sim, porque naquele fatídico sábado (23/9), poucas músicas entre as outras 12 tocadas pelo grupo tiveram boa receptividade por parte desse público, exceto raras interseções Guns/Who/Incubus pouco notadas ou mesmo de uns poucos fãs mais dedicados, e estes não se faziam notar. O que, vamos e venhamos, é realmente difícil em um espaço destinado a grades multidões, com um repertório inóspito – repita-se – que, se não é mesmo de levantar defunto, também não desperta o ânimo dos mais interessados, ou ainda um élan participativo desses mesmos tais fãs mais dedicados. Ou seja, o Incubus foi a banda errada no festival errado, no dia errado, no palco errado: toda errada.

Um olhar mais amiúde e um hercúleo esforço de análise, contudo, pode resultar em um meio litro de leite de pedra. Primeiro porque o quinteto, astuto, tomou ainda outras duas medidas: a) Rechear o repertório com sucessos de tempos idos (oito das 13 músicas), em detrimento das faixas do trabalho mais recente, “8”, lançado em abril, e b) Priorizar álbuns de maior sucesso, “Morning View” (2001) e “A Crow Left of the Murder…” (2004), unanimidades entre fãs e crítica, na hora de pinçar essas músicas. Depois, porque os tais sucessos, de alcance restrito, mas ainda assim hits, incluem “Anna Molly”, com ótima introdução do DJ/tecladista Chris Kilmore e até um solo do Mike Einziger, que consegue ser minimamente atrativo; “Megalomaniac, de viés dançante e que sacode um pouco no final; e “Stellar”, cuja guitarra minimalista não parece, mas faz cair bem aos ouvidos.

Entre as três novas, do disco “8”, “No Fun”, que tem a linha de baixo adiantada e deságua em um ótimo cantarolar, é a melhor, mas o público parece gostar mais de “Nimble Bastard”, que realmente tem bom um riff de guitarra, mal aproveitado, mais ainda assim um bom riff. Já “Glitterbomb” é música difícil entre as difíceis, e, péssima escolha para abertura, fracassa fragorosamente. Contribui muito para o indefensável cenário a fraca performance de palco da banda, salientada pelo hábito esquisito (técnica?) de o vocalista Brandon Boyd afastar/aproximar o microfone da boca para cantar (da pra ver na foto acima), e isso não mudar em nada o som que sai das caixas. Show ruim – repita-se -, mas não era para se esperar mais de uma banda nascida no hardcore que flertou/influenciou o emo, para depois se transformar numa coisa virtuose – sob influência do Primus – e indigesta – sob a do Faith No More.

Set list completo:

1- Glitterbomb
2- Circles
3- Nimble Bastard
4- Anna Molly
5- Wish You Were Here
6- Love Hurts
7- Pardon Me
8- Drive
9- Nice to Know You
10- No Fun
11- Stellar
12- Megalomaniac
13- Warning

Tags desse texto: ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado