Bem ajustado
Alter Bridge reforça base de fãs, desfaz confusões e brilha no show mais pesado e rock’n’roll da noite de sexta (22/9), no Rock In Rio. Fotos divulgação Rock In Rio: Diego Padilha/I Hate Flash.
Kennedy é o mesmo que, nos últimos tempos, atua como o vocalista da carreira solo de Slash, com quem já veio ao Brasil em 2011, 2012 e 2015 (relembre nos links), mas, nesta que é sua banda de maior projeção, toca guitarra – e bem – o tempo todo. A parceria com Slash não é só para forrar o bolso, já que, coincidência ou não, é depois do fortalecimento dela que o Alter Bridge lança seus discos mais pesados e engenhosos, “Fortress” (2013) e “The Last Hero” (2016). Período em que um inquieto Tremonti também coloca no mercado dois bons álbuns solos – “Cauterize” (2015) e “Dust” (2016) -, convergindo, de certo modo, para uma espécie de plenitude criativa e estética que está sendo vista agora no festival.
Só que a maior parte do repertório não é do trabalho mais recente, mas dá uma geral na carreira, dentro das possibilidades que o curto tempo para tocar 10 canções oferece. É um verdadeiro pecado que pedradas como “Show Me a Leader”, “Crows on a Wire” (essas duas tocadas em Curitiba três dias antes) e “The Last Hero”, só para ficarmos em alguns exemplos, tenham ficado e fora, mas é mais cruel ainda se queixar de uma banda que vem ao Brasil pela primeira vez, em um festival de proporções bíblicas como o Rock In Rio, e opta por um set “mais consagrado do que novo”, por assim dizer. E, afinal, a solitária “My Champion”, com o ótimo riff inicial, está dentro e é um das que o povão acompanha com braços erguidos batendo palma. Como se vê, não é só a performance soberba para “Blackbird” que brilha, em uma apresentação, para dizer o mínimo, muito bem ajustada.Tem o rockão estradeiro “Addicted to Pain”, com Myles Kennedy mandando muito bem no refrão, Tremonti esmerilhando na guitarra e um desfecho instrumental pesadaço; Kennedy fazendo das suas na guitarra em “Isolation”, conduzida por um riff intrincado rodeado de mini solos que gruda bem nos ouvidos, ao vivo; e a grooveada “Metalingus”, com direito a um solinho de bateria de Scott Phillips e outro do baixista Brian Marshall no início, e um passeio de Myles Kennedy, já livre da guitarra, no fosso que separa o público do palco, para delírio geral de fãs descabeladas e com as vistas lacrimejantes. Ressalte-se que, no Alter Bridge, ele acertadamente deixa de lado o “Whitney Houston style” de querer mostrar que consegue atingir notas altas e falsetes o tempo todo, provavelmente desenvolvido para cantar o repertório do Guns N’Roses (veja como foi o show) com Slash, o que lhe confere muito mais personalidade como cantor. No fim das contas, valeu a pena aquela pontinha no final do filme “Rock Star”.
Pesado, repleto de momentos de guitar hero de Mark Tremonti – além de “Blackbird”, destaca-se os de “Rise Today”, em um encerramento brutal, e a já citada “Addicted to Pain” -, e com uma cozinha firme e com groove simultaneamente, o show também serve paras desafazer citações equivocadas de que Creed e Alter Bridge “são tudo a mesma coisa”. Ok, Tremonti, Marshall e Phillips formavam a banda liderada pelo vocalista Scott Stapp, mas o pós grunge de muito sucesso do Creed, na virada dos anos 1990 para os 2000, sobretudo nos States, nada tem a ver com o hard rock pesadão de Myles Kennedy e cia. É isso, no show mais rock’n’roll e mais pesado da noite, que os que foram à Cidade do Rock para ver outras atrações descobriram. Aquilo que aquele punhado de fãs ali perto da grade já sabiam há muito tempo: showzaço.Set list completo:
1- Come to Life
2- Addicted to Pain
3- Cry of Achilles
4- My Champion
5- Waters Rising
6- Isolation
7- Blackbird
8- Open Your Eyes
9- Metalingus
10- Rise Today
Tags desse texto: Alter Bridge, Rock In Rio