Moderado
Performance preguiçosa ofusca apanhado de hits oitentistas do Tears For Fears no Rock In Rio. Foto Divulgação Rock In Rio: Ariel Martini/I Hate Flash.
Para os caras do Tears For Fears bolar um show não deve ser coisa difícil. Basta pegar os hits de seus três primeiros álbuns e enumerá-los por ordem de preferência que não tem erro. Ao mesmo tempo, como boa parte das músicas foi criada pela duplinha Roland Orzabal e Curt Smith, usando muitos recursos de estúdio, considerando as plenas possibilidades tecnológicas da década de 1980, é preciso praticamente montar uma banda e reensaiar boa parte dessas canções. E nisso, eles definitivamente acertaram a mão, nesta sexta (22/9), no palco principal do Rock In Rio. Daí a arrebentar antes do show do Bon Jovi (veja como foi) seria até óbvio, não fosse certa preguiça e uma inefável falta de empatia com o público.
De cara se vê, em “Secret World”, que a banda conta com um ótimo guitarrista, que sabe onde está pisando ao não se envolver, quando não é necessário, nas ricas programações da banda. Depois, um vocalista completa a trinca vocal afinadíssima, já que Orzabal e Smith, o homem que não sorri, seguem com o gogó em dia. Mas, sabe-se lá o porquê, o show se desenrola em banho-maria, lento, e não chega a empolgar em mais de uma música seguida, ainda que grande parte delas seja conhecida até mesmo pelos simpatizantes de outras bandas que tocaram no festival. “Everybody Wants to Rule the World”, por exemplo, abre a noite mais lenta, precedida por si própria em uma gravação na versão da cantora Lorde. Não precisava.
A primeira a empolgar é “Sowing the Seeds of Love”, uma das mais conhecidas e na qual a plateia empurra a banda com as palmas no ritmo da canção. A música, realmente de sonoridade mais pop, é do terceiro álbum do duo, “The Seeds Of Love”, que encerrou a fase mais intimista do início de carreira, e iniciaria um ocaso com a saída de Curt Smith. A tal fase inicial é melhor representada em “The Hurting”, um clássico oitentista, que, no entanto, cede só quatro músicas ao show. As melhores são “Change”, que mantém os efeitos de teclados originais, ainda que feitos por equipamentos modernos, e é praticamente recriada da metade para o final, com bom entrosamento da banda, e “Pale Shelter”, verdadeira pérola do cancioneiro do TFF, em outra boa versão.
Mas elas não superam a popularidade de “Head Over Hills”, onde brilha a tecladeira que segue o refrão e conquista o público com aquele na-na-na irresistível, ainda mais com a clareza límpida dos vocalistas atuando ao mesmo tempo. O vacilo no repertório – outro - é a inclusão de uma versão pra lá e intimista de “Creep”, do Radiohead, talvez o único hit inquestionável deles, que na voz de Orzabal ganha a vilania de interromper a bela sequência das músicas do primeiro disco; ao menos não teve “Billie Jean”, como na vinda mais recente, em 2011 (relembre). No fim, o grupo sai do palco para voltar com a obrigatória “Shout”, com um início diferente, mas sem perder a foça da canção original, em outro grande momento da noite, com direito a um ótimo arremate instrumental e com Roland Orzabal passeando pelo fosso entre palco e público.
Curiosamente, assim como aconteceu com o Def Leppard (veja como foi), o grupo sai uns 10 minutos mais cedo, e, se somarmos esse tempo com o da música de abertura, o desperdiçado com “Creep”, e o do intervalo para o bis, daria para tocar músicas como “Woman In Chains”, inacreditavelmente preterida, e mais material de “The Hurting”; já que o público era todo do Bon Jovi mesmo, enfiar a íntegra desse clássico goela abaixo seria lindo. Contabilidades à parte, o certo é que, se esse raro repertório do Tears For Fears segue relevante e atraente, imagine se fosse tocado com um pouco mais de vontade, quiçá empolgação… Não é pedir demais para um show de festival, não, né?
Set list completo:
1- Everybody Wants to Rule the World
2- Secret World
3- Sowing the Seeds of Love
4- Advice for the Young at Heart
5- Everybody Loves a Happy Ending
6- Change
7- Mad World
8- Memories Fade
9- Creep
10- Pale Shelter
11- Break It Down Again
12- Head Over Heels
Bis
13- Shout
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