Aos poucos
Pet Shop Boys evita hitcentrismo comum a festivais e show, embora com ótima produção, custa a engrenar no Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio: Filipe Marques/I Hate Flash (1), Thiago Lara/Estácio (2) e Wilmore Oliveira/I Hate Flash (3).
Ou quase. Porque a duplinha Neil Tennant e Chris Lowe, se mostra vitalidade ao enfileirar músicas mais recentes, menos conhecidas ou com arranjos refeitos, renuncia à tentação da inclusão de hits em profusão - e eles são muitos -, o que faz a apresentação demorar muito para engrenar; há quem diga que até agora o show não começou. Ao mesmo tempo, a vibe eletrônica, embora de caráter amplamente sedutor pelas boas composições da dupla em si, depende muito de aspectos acessórios, como os balões que flutuam acima das cabeças, os dançarinos vestidos com macacões inflados com ar comprimido e mesmo a iluminação estroboscópica, caótica e com farta utilização de raios laser. Olhando assim, parece que tudo vai acabar em uma rave daquelas.
Não e o que acontece porque o público custa a se identificar com o repertório, o que de fato só começa lá pela quinta música, “West End Girls”, eu nem é das mais empolgantes, embora carregada de memórias de parte a parte. O couro só come pra valer com “It’s a Sin”, da metade para o final, e o duo se afirma no bis, em um show de uma horinha só, com a dobradinha “Domino Dancing”, disparado a mais desejada da noite, e “Always on My Mind”, um verdadeiro réquiem à nostalgia coletiva. Impressiona como a voz do sessentão Neil Tennant segue aveludada e macia aos ouvidos, ainda que, por vezes, misturada aos sons tirados pela parafernália operada por Chris Lowe e seus asseclas, incluindo mais teclados, percussão eletrônica e até vocais de apoio.
Porque Lowe não está de bobeira, e enfatiza uma percussão brasileira em “Se A Vida É (That’s The Way Life Is)”, do disco de referências latinas do PSB, incluindo timbalada, maracatu e batucadas afins. Pode soar como “batucada de turista”, mas é também um belo exemplo de como os de fora nos olham, ao menos musicalmente. Ele também aplica uma pesada bateria, à Doktor Avalanche (Sisters Of Mercy), em “Opportunities (Let’s Make Lots of Money)”, fazendo a renovação em uma faixa do álbum de estreia deles. E ainda desenterra um groove pesadíssimo na colante, embora não tão conhecida pelo público, “Home And Dry”, single dos anos 1990. Em “The Enigma/Vocal”, comanda praticamente sozinho um baticum pesadão, que, contudo – e de novo -, não chega a entusiasmar o público.Neil Tennant, de seu lado, tem a imagem ampliada nos telões durante “Go West”, e a expressão de generosa simpatia se converte em emoção. Com os olhos banhados de lágrimas, ele segue firme e só volta à carga emocional em “Always On My Mind”, que encerra o show depois de “Domino Dancing”. A distância entre os desejos do público (sim, faltou muito sucesso!) e aquilo que a banda decide oferecer, artisticamente falando, pode ter sido um empecilho para o show do Pet Shop Boys, o que não subtrai do espetáculo a capacidade de cativar aos menos contaminados pela música de gosto duvidoso – único adjetivo possível - que domina a noite de abertura do festival. Depois dessa, um showzinho solo deles por aqui até que cairia bem.
Set list completo:
1- Inner Sanctum
2- Opportunities (Let’s Make Lots of Money)
3- Burn
4- Se A Vida É (That’s The Way Life Is)
5- West End Girls
6- Home and Dry
7- The Enigma/Vocal
8- It’s a Sin
9- Left to My Own Devices
10- Go West
Bis
11- Domino Dancing
12- Always on My Mind
Tags desse texto: Pet Shop Boys, Rock In Rio
Até agora, a única que consegui assistir mais de 20 minutos (uns 30) nas minhas horas de “folga”