O Homem Baile

Enfim arrodeou

Depois de quase 30 anos, Devotos (ex-do Ódio) estreia no Circo Voador em ótimo show de abertura para o Ratos de Porão. Fotos: Nem Queiroz.

devotos17-1É em tom de desabafo que o vocalista conta a história. “Eu ficava ouvindo as bandas lá do Recife dizendo que tinham tocado no Circo Voador. E a gente? Quando vamos tocar no Circo Voador?”. A demora para o Circo descobrir a banda dele foi tanta que ela até mudou de nome, e olha que o local é praticamente a capital carioca do Recife nos shows da Nação Zumbi e seu público zumbi. Nesses quase 30 anos de estrada, o Brasil inteiro conheceu uma banda nascida na periferia da capital pernambucana, o que dá estofo tranquilamente para um enorme público chegar mais cedo, na última sexta (11/8), para ver o show de abertura para o Ratos de Porão (saiba como foi). Todos entendem a angústia de Cannibal, baixista, vocalista e líder do Devotos (ex-do Ódio).

A música que abriga o tal desabafo é “A Luz da Salvação”, quando Cannibal larga o baixo e não por acaso cita trechos de “Banditismo Por Uma Questão De Classe”, da Nação Zumbi dos tempos de Chico Science, numa amostra de afinidade entre as bandas de lá de cima. O show traz a íntegra do ótimo álbum de estreia do Devotos do Ódio, “Agora Tá Valendo”, que completa 20 anos este ano, o que significa 18 faixas porradas como deve ser o punk hardcore da banda, bem influenciado pelo punk nacional dos anos 1980 de Cólera, Inocentes e adjacências. E não é só de “Punk Rock Hard Core Alto José do Pinho”, o grande hit deles, turbinado em tempos em que a MTV era relevante, que faz o generoso público se estapear no meio do salão, como em um ensaio para o Ratos.

Tem a sensacional “Eu Tenho Pressa”, centrada nas incertezas da juventude ante aos desafios da vida adulta; retratos da própria comunidade estampados em “Tem de Tudo”; “Futuro Inseguro”, que embasa o punk em temas sociais, e todas elas muitíssimo bem conhecidas do público. Em boa forma, o guitarrista Neilton, que se virava fabricando/reformando seus próprios instrumentos e amplificadores, manda evoluções nervosas e bons solos, como acontece em “C.O.S.”; na ótima introdução de “Uma Bala na Agulha”, e na mais arrastada “Pertencer”, na qual enfileira solo sobre solos sem cair no lugar comum da virtuose, desnecessária no punk/hardcore. Tudo – repita-se – com ótima participação do público que ia chegando ao Circo.

Espremido na beirada do palco pelo equipamento do Ratos, o trio, completado pelo nervoso batera Celo Brown, agrega empatia com a turma do gargarejo e com as rodas punks que não se deixam interromper. Em “Asa Preta”, como diz a letra, elas se convertem em um verdadeiro terror, e, já no encerramento, quando “Punk Rock Hard Core Alto José do Pinho” volta a ser tocada, só que em uma velocidade descomunal, o couro come pra valer. Depois do repertório do álbum, a surpresa. Um bis com “Roda Punk”, outro clássico, durante a qual os cariocas demostram ter compreendido muito bem a conjugação do verbo arrodear, um clássico recifense, ao fazer a roda punk no Recife style, com uns correndo atrás dos outros em alta velocidade giratória. Uma roda da paz bonita de se ver.

Set list completo:

1- Formando Opiniões
2- Dia Morto
3- Hu, Ha, Hu Ha!
4- Punk Rock Hard Core Alto José do Pinho
5- Pertencer
6- Asa Preta
7- Luz da Salvação
8- C.O.S
9- Uma Bala na Agulha
10- Tem de Tudo
11- Fogo Cruzado
12- Vida de Ferreiro
13- Enganado
14- Casa de amor e Ódio
15- Eu Tenho Pressa
16- Nova Vida
17- Mas eu Insisto
18- Futuro Inseguro
19- Punk Rock Hard Core Alto José do Pinho
Bis
20- Roda Punk

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