Remodelado
Guitarrista, Richie Kotzen se divide em outros instrumentos e passeia por vários gêneros, numa apresentação diferente. Fotos: Luciano Oliveira.
Nota-se que esse “diferente” anotado ali acima só é possível porque esse nível de variação musical não é para quem quer, mas para quem pode. Kotzen pode e, músico completo, passeia por vários segmentos, do rock ao jazz, do funk ao pop, do fusion ao hard, sem nenhuma cerimônia. E toca teclado, guitarra e violão com a mesma maestria – nos discos, costuma gravar tudo, exceto bateria -, além de cantar muitíssimo bem e com uma variação vocal impressionante. Mas tudo isso não se sustenta, sobretudo na concatenação do repertório de um show, sem bom senso e bom gosto. Repare que, em determinado momento, a guitarra permanece exilada do palco durante cinco números, incluindo o trecho acústico, o que equivale a aproximadamente um terço de todo o show.
A tal segunda música é “Socialite”, que até esta turnê não vinha sendo tocada há uns oito anos, segundo as informações que chegam, e se resolve pela saudade e pelo imediato reconhecimento da plateia, que, ao soltar um belo cantarolar, passa recibo para o Richie Kotzen bom compositor. Ela é emendada com “Meds”, uma das mais colantes do novo álbum, “Salting Earth”, mas que, ao vivo, perde a força justamente pela ausência do riff suave que é oferecido na versão de estúdio. Riffs que transbordam em “Go Faster”, por exemplo, com um suingue funk rock que realça o arrojo do power trio. Juntos há ao menos desde 2012 em turnês pelo mundo, o baterista Mike Bennett e o baixista Dylan Wilson, ambos com as madeixas sacrificadas, sabem exatamente onde pisam, muito embora se perceba certo grau de improviso no olhar de Kotzen.Wilson é que mais se aproveita nos momentos de – vamos dizer assim – renúncia guitarrística, e desenrola ótimos solos, como os de “I Would”, usando um contrabaixo vertical, e de “Meds”, com certa discrição. O de Bennet, por sua vez, não é lá muito inspirado, ao iniciar no cajon – que batuque chato! – e terminar, aí sim, na bateria. Entre os passeios da noite, incluem-se semi-baladas de cabaré cafona, como “This Is Life”, outra da nova lavra; o fusion de “Your Entertainer”; e o pop rock frouxo em que “High”, outra das conhecidas do público, se converte. Como guitarrista de verdade, Richie Kotzen não economiza ao esmerilhar as cordas sem dó em “Fear”, e no espetacular arremate da mesma “This Is Life”, no momento salvação da noite. Impressão que também fica no bis, com a ótima “You Can’t Save Me”, mas que não deixa dúvidas de que se trata de um show diferente, para que mínimo seja dito.
Set list completo:1- End of Earth
2- Socialite
3- Meds
4- Go Faster
5- Love Is Blind
6- Your Entertainer
7- My Rock N
8- Cannon Ball
9- I Would
10- High
11- Solo de bateria
12- Fear
13- Help Me
14- This is Life
Bis
15- You Can’t Save Me
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