No tranco
10,000 Maniacs demora, mas sucessos acabam agradando a plateia gelada e indiferente na maior parte do tempo. Fotos: Daniel Croce.
Curiosamente a música é precedida por uma inusitada homenagem, um bom pedaço de “Quiet Night Quiet Stars”, de Tom Jobim, cantada quase que à capela pela vocalista Mary Ramsey. É a versão de “Corcovado”, traduzida para o inglês por Andy Williams, também tocada há uma semana, pelo Renaissance, no mesmo palco (relembre). Vê-se que a cantora não é mais Natalie Merchant, que brilhou no 10,000 Maniacs em sua fase de maior projeção e pulou fora em 1993, mas uma das outras três a ocupar o posto há quatro discos, sendo o mais recente “Twice Told Tales”, de 2015, que fornece apenas duas músicas ao show. A grande parte está em “Playing Favorites”, o disco ao vivo lançado no ano seguinte, cujo título é autoexplicativo. Sim, você pode não ter se dado conta, mas o 10,000 Maniacs segue em plena atividade, e, com Ramsey, não há espaço para vãs saudades.
Para a plateia falante, contudo, esses detalhes pouco interessam, mesmo quando as músicas do afamado “MTV Unplugged”, não só o grande momento da banda, mas um dos grandes acústicos de todas as épocas, são tocadas. Salvam-se, do ponto de vista de desejada interação com o público, “Because The Night”, pérola de Bruce Springsteen e Patti Smith – e aí não tem jeito mesmo -, com ótimos solos do guitarrista Jeff Erickson e de Ramsey, violinista das boas, e “What’s the Matter Here?”, na parte inicial, uma das primeiras a ser identificada, mesmo com a sutilmente deliciosa “Like The Weather” ter sido tocada pouco antes. Mais de uma vez o baixista Steve Gustafson, remanescente da formação original, pede desculpas pelos problemas de iluminação da casa; o show começa praticamente às escuras, só com luz branca e depois vive de altos e baixos das luzes coloridas.Mesmo assim, há momentos de brilho do grupo, que toca bem afiado ao vivo, realçando um repertório que é verdadeiro alicerce para o indie-alt-country – vamos dizer assim - que se espalharia ao redor do globo. Surpreende, por exemplo, “Rainy Day”, que surge coladinha em “Because de Night”, pelas boas intervenções de violino, dessa vez com a ajuda de Inga Yanoski, uma faz tudo que completa o sexteto nas turnês. Ou a solidez funky de “Pit Viper”, sem Mary Ramsey no palco, com a cantoria de Erickson, ótimo interlúdio e bem sacada transição no retorno. Ou ainda a cool “Trouble Me”, lançada na parte inicial, e que provoca preguiçosa reação por parte do público. Em “My Sister Rose”, que contém certa guitarra juju/paraense, o batera Jerry Augustyniak faz uma introdução de samba que agrada geral.
A primeira parte do show é encerrada com a superestimada “Hey Jack Kerouac”, cujo valia se explica mais pelo que o título sugere do que pela canção propriamente dita. E é aí que na volta Mary Ramsey homenageia o Rio com Tom Jobim e saca “Just Like Heaven” (não é a primeira vez na turnê), não sem antes cantar a primeira parte inteira à capela, para ficar bem claro. A música – e nem é o maior hit do Cure – é um clique instantâneo e faz do encerramento o melhor momento de interação público/banda. O arremate, com “These Are Days”, bastante conhecida, mantém a animação, mas, paradoxalmente, o grupo não faz o bis tradicional, deixando de fora outras duas músicas. Melhor terminar no auge é o raciocínio sugerido para o show. Para a banda, não.Set list completo:
1- Candy Everybody Wants
2- Like the Weather
3- Trouble Me
4- More Than This
5- What’s the Matter Here
6- Cherry Tree
7- Who Knows Where The Time Goes
8- Pit Viper
9- The Song Of Wandering Aengus
10- Violin Ditty
11- Eden
12- She Moved Through the Fair
13- Stockton Gala Days
14- Lady Mary Ramsey
15- Because the Night
16- Rainy Day
17- Don’t Talk
18- My Sister Rose
19- Hey Jack Kerouac
Bis
20- Quiet Night Quiet Stars (Corcovado)/Just Like Heaven
21- These Are Days
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