O Homem Baile

Alegria, alegria

Rock ocultista do Ghost seduz plateia vespertina no Maximus Festival em clima de felicidade. Fotos: Alessandra Tolc/ARTS Live Frames.

Mestre de cerimônia: o líder do Ghost, Tobias Forge (ou Papa Emeritus, como queiram), dá o recado

Mestre de cerimônia: o líder do Ghost, Tobias Forge (ou Papa Emeritus, como queiram), dá o recado

Pode um show no meio da tarde ensolarada, com músicos de identidade oculta e apenas sete músicas ser o destaque de um festival como o Maximus? Pois é exatamente o que acontece com o Ghost, que, apertado em cerca de 40 minutinhos, faz a grande maioria do público sorrir. Embora o rock ocultista do grupo sugira incursões pelo desconhecido, a ponto de os integrantes tocarem sob fantasias “from hell”, no fundo, no fundo o que conta é o uso de boas canções e – aí é que a coisa pega – arranjos de botar medo em marinheiros de primeira viagem, coisa que, boa parte da plateia, definitivamente, não é. Senão não haveria rostos pintados como o dos integrantes, nem aquela cantoria linda em quase todo o show.

O início, com “Square Hammer”, poderia parecer o encerramento para quem caísse no Autódromo de Interlagos de paraquedas, dada a adesão plena por parte do público, um dos maiores se levarmos em conta apenas as atrações, digamos, intermediárias. Assim, poucas vezes se viu – e deixemos o Black Sabbath fora dessa - tanta gente cantando as coisas de outro mundo, incluindo um encontro frente a frente com o Satanás em pessoa, com tanta naturalidade e um ar de felicidade pouco crível a ponto de se pensar em possessão. E olha que a música é a única do grupo em um EP de covers. Tobias Forge (ou Papa Emeritus, como queiram) é espécie de mestre de cerimônia, agora trajado de modo menos religioso, com fraque, colete, luvas e o rosto maquiado à King Diamond.

Guitarrista e baterista do Ghost, com as máscaras de Baphomet, e o pano de fundo mal posicionado

Guitarrista e baterista do Ghost, com as máscaras de Baphomet, e o pano de fundo mal posicionado

Ele é o dono do pedaço e comanda os Nameless Ghouls atualizados com sinistras máscaras de Baphomet sem boca ou expressão possível. Um deles, o baixista, sofre com dores no ombro e passa o show tocando na lateral do palco, mas o público não está nem aí, ainda mais quando músicas como “Ritual” são tocadas. Com uma simplicidade atroz e remetendo ao rock musicalmente até ingênuo de 40 anos atrás, o número evolui para um refrão cantado a plenos pulmões por todo mundo, não só pelos caras pintadas colados na grade. É difícil imaginar como o público se diverte com certo pai nosso que está no inferno, e com o Fim propriamente dito. O arranjo se completa com solos dos dois guitarristas, um de cada lado do palco, e com uma discreta cama de teclados – de novo – retrô.

A música mais pesada do Ghost, segundo o próprio Forge, é “Mummy Ghost”, e por isso mesmo ela é empurrada para o encerramento do breve encontro com o público brasileiro. Peso que decerto confundiu muita gente quando a banda foi apresentada por aqui pelo Rock In Rio, que relacionava o sexteto sueco com o metal extremo, como se o ocultismo só fosse possível ali. Não é, e o ambíguo clima de felicidade reina de ponto a ponto da apresentação, mesmo que grande parte saiba que a música é o desfecho do show. “Year Zero”, que praticamente cita a família do Mal completa, tem uma pegada dance rock que chama a atenção, ao menos até que a dupla de guitarrista se acabe em um ótimo duelo de solos.

Papa Emeritus (ou Tobias Forge, como queiram), com o fundamental tecladista no fundo

Papa Emeritus (ou Tobias Forge, como queiram), com o fundamental tecladista no fundo

Tocada exatamente no meio do show, “Cirice” faz Papa Emeritus (ou Tobias Forge, como queiram), descer até a grade que separa o palco do público para cumprimentar a plateia. Quando a imagem dele segurando a mão de uma fã em prantos aparece no telão, o videoclipe da música faz todo o sentido. O público voa em uma felicidade atroz, e os braços erguidos no início agora têm sem suspiros de satisfação para quem vê ali, ao vivaço, a espécie de conversão/confirmação daquilo – sabe-se lá o que é – que o tal clipe sugere; acredite quem quiser. No plano concreto o que fica é a afirmação de uma banda cheia das histórias, mas que, com uma música/temática alçada do passado, segue trilhando um belo caminho.

Set list completo:

1- Square Hammer
2- From the Pinnacle to the Pit
3- Ritual
4- Cirice
5- Year Zero
6- Absolution
7- Mummy Dust

Tal banda, tal público: fãs do Ghost ocupam a grade com as caras pintadas na tarde ensolarada

Tal banda, tal público: fãs do Ghost ocupam a grade com as caras pintadas na tarde ensolarada

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