A tarefa de fazer um show como abertura para o Cage The Elephant (veja como foi) nesta quarta (29/3) não parece nada fácil. Espertos, os caras do Silversun Pickups aproveitaram a estadia no Rio e compareceram na véspera, quando o Circo Voador lotado recebeu Two Door Cinema Club e Jimmy Eat World, e circularam no meio do público. “Esse é o melhor lugar para shows que eu vi na minha vida”, conclui, então, o vocalista e guitarrista Brian Aubert, em um misto de sinceridade e estratégia de aproximação. Isso depois de a banda ter mandado um ótimo início de show, incluindo “The Royal We”, um indie rock pesado dos bons de fazer lembrar as guitar bandas noventistas, em que pese a interferência de teclados do bem que permeia o trabalho da banda. Ou seja, a noite mostraria que tudo sairia bem.

Entender o Silversun Pickups, contudo, fica mais fácil para quem conhece o Smashing Pumpkins. Não o de hoje, depois que Billy Corgan se converteu ao rock livre das amarras indie, mas aquele – de novo – lá dos anos 1990, da formação clássica. Porque Aubert, embora menos esguio, guarda semelhanças com Corgan e também tem o timbre de voz bem fora do comum, para o bem ou para o mal. E Nikki Monninger, que mantém a tradição de baixistas mulheres em bandas indie, bem que sugere ser uma D’arcy Wretzky revisada. Musicalmente a fórmula indie de iniciar uma música certa despretensão para em dado momento o peso chegar rasgando de repente é bastante usada, mas nem sempre funciona, a custa dos arranjos e das composições em si.

Por exemplo. Se “Panic Switch” já começa com ótima marcação de guitarra, por outro lado músicas como “Friendly Fires” dão a impressão que não irão começar nunca. E aí o repertório, que visita os quatro álbuns já lançados pelo quarteto, sofre com um sobe e desce irregular. Em “Kissing Families”, cai bem a cantoria da simpática Nikki, um advance que poderia ser mais usados, muito embora o volume do microfone da moça estivesse bem inferior ao de Brian Aubert. E a música ainda termina com um solo/evolução de guitarra excepcional. Outra das boas é “Latchey Kids”, com pegada rock embalante e que, ao vivo, cresce bastante em comparação à versão de estúdio, com vocação para emplacar em qualquer programação de rádio rock, caso isso ainda tivesse alguma relevância.

Menos intensa, mas também bem bolada é “Lazy Eye”, remanescente do álbum de estreia e obrigatória nos shows, justamente pelas possibilidades que ela deixa em aberto para a crescente instrumental prevista no manual. E é o que acontece, com um final instrumental alongado do tipo “quebra tudo que o show acabou”. Outros destaques, em uma apresentação curta – só duas músicas maior que o do Lollapalooza – são “Well Thought Out Twinkles”, do time das mais pesadas, com um ótimo trabalho de guitarras, que contribui para a boa impressão na parte inicial do show; e “The Pit”, reforçada pela inclusão mais firme dos teclados, e por isso mesmo um tanto identificada com a música eletrônica, mas sem habitar a vala comum do gênero. É, não fez feio para o Cage The Elephant, não.

Set list completo:

1- Nightlight
2- Well Thought Out Twinkles
3- The Royal We
4- Circadian Rhythm (Last Dance)
5- The Pit
6- Little Lover’s So Polite
7- Friendly Fires
8- Latchkey Kids
9- Kissing Families
10- Ragamuffin
11- Panic Switch
12- Dots and Dashes (Enough Already)
13- Lazy Eye

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