O Homem Baile

Pras pistas

Rock dançante do Two Door Cinema Club embala a obediência do público em um Circo Voador lotado. Fotos: Nem Queiroz.

O simpático vocalista e guitarrista do Two Door Cinema Club, Alex Trimble, bem mais experiente

O simpático vocalista e guitarrista do Two Door Cinema Club, Alex Trimble, bem mais experiente

Volta e meia, já na parte final da noite, o vocalista da banda aparece tomando calmamente o que parece ser uma taça de vinho tinto. Ele é simpático, mas não conversa tanto – e isso é bom – porque banda tem mais e que tocar e não ficar de blábláblá. Suas variações de timbre têm amplitude tão convincente que as cordas vocais merecem o refresco. Quando esteve por aqui na primeira vez, tinha as bochechas rosadas de um adolescente (relembre o show de 2011), mas hoje, seis anos e dois discos depois, é praticamente um rockstar cabeludo e de calvície proeminente, com domínio de tudo, muito embora, sem tanto carisma assim. Ele é Alex Trimble, também toca guitarra no Two Door Cinema Club, e estamos diante de mais uma noitada daquelas no Circo Voador, em plena terça (28/3) e com o Jimmy Eat World de lambuja (veja como foi), aproveitando a passagem das duas bandas pelo Lollapalooza no final de semana passado.

Noitada porque a animação é ampla, geral e irrestrita. E que se explica pelo fato de que cerca de duas mil pessoas viabilizaram o show através da compra de ingresso antecipada. São os “Empolgados”, como define o pessoal do Queremos, grupo de produtores que dá visibilidade a bandas que passam batidas pelo mercadão. Só que dois mil já dá um Circo Voador lotado, imagine contando quem chegou para comprar depois, convidados, profissionais, etc e realize o local cheio pra dedéu, com o público na mão da banda. E quando a bateria e seu chimbau onipresente à nos 80 dá a largada, para nunca mais parar, não há quem segure a turba, obediente que só ela. É assim que “Undercover Martyn” dispara uma cantoria bonita de ser ver, sendo a música a do meio de três tocadas em sequência para não deixar dúvidas: é rock, é pauleira, tem sonoridade peculiar e é feito pra dançar pra sempre.

O motor criativo do TDCC, Sam Halliday, e a forma peculiar de tocar guitarra, ao lado de Alex Trimble

O motor criativo do TDCC, Sam Halliday, e a forma peculiar de tocar guitarra, ao lado de Alex Trimble

A tal sonoridade incomum, muito embora as composições sejam plurais, vem de Sam Halliday, guitarrista que desenvolve o jeito de tocar guitarra à sua maneira, e com inspiração diversa, incluindo afro pop e ate música brasileira de gosto duvidoso, convertida em evoluções das boas, e eis aí um grande mérito. “Eat That Up, It’s Good for You” é um exemplo para um caso, com o guitarrista enlouquecido no palco, e “Something Good Can Work”, para o outro. Seu trabalho de relojoeiro das seis cordas, contudo, vai muito adiante, e é nele que se encontra o segredo do TDCC, além, é claro, de pegar a rabeira de bandas indies do início deste século que revivem os anos 80 e optam por um flerte com as pistas, caso de, entre outros, Franz Ferdinand e Keane, em álbum momento da carreira, e Friendly Fires, em todos eles.

Mas não há banda que viva sem boas composições, e elas brotam aos borbotões nesse caso. Ao vivo, peças como “Gameshow”, faixa-título do álbum lançado há uns cinco meses, e que cede outras quatro ao show; “This Is the Life”, tocada no início e que desencadeia um processo de piração geral no público; e a duplinha “Someday”/“What You Know”, reservada para um bis matador, são bons exemplos de perfeição pop aplicada ao rock: é ouvir e se descabelar por aí. Tanto que há exageros de café mal adocicado que podem levar ao constrangimento de tudo se transformar em uma micareta indie irreversível. Acontece em “Sun”, uma apelação dançante sem noção, já no final; na ótima “Cigarettes in the Theatre”, cuja compreensão por parte do público é equivocada; e no bis, é claro, onde se reconhece o pertencimento da plateia – abastada, é verdade – a esse Brasil varonil.

Sam Halliday, Alex Trimble e o baixista Kevin Baird, a formação do TDCC, sem os músicos de apoio

Sam Halliday, Alex Trimble e o baixista Kevin Baird, a formação do TDCC, sem os músicos de apoio

Como a banda cresceu bastante, o show é embalado em uma ótima produção visual, com tudo planejado para cada uma das músicas individualmente. Efeitos que compactuam com cada trecho do repertório, e enfatizam o lado “pista de dança”, indissociável do Two Door Cinema Club. Em relação ao show do Lolla, no domingo, foram acrescidas duas músicas: “Ordinary”, outra em que Halliday exibe certa virtuose, e a já citada “Eat That Up, It’s Good for You”. Como não são tolos, Trimble e asseclas seguem tocando mais músicas do muitíssimo bem sucedido álbum de estreia, “Tourist History”, de 2010; nove de 10, no total. O que, vamos e venhamos, nesse caso, faz pouca diferença, já que, se três mil e poucas pessoas contratam o grupo – repita-se -, não tem como dar errado. E não deu mesmo.

Set list completo:

1- Cigarettes in the Theatre
2- Undercover Martyn
3- Do You Want It All?
4- This Is the Life
5- Changing of the Seasons
6- Bad Decisions
7- Lavender
8- Next Year
9- Come Back Home
10- Ordinary
11- Something Good Can Work
12- Are We Ready? (Wreck)
13- Gameshow
14- Sleep Alone
15- I Can Talk
16- Eat That Up, It’s Good for You
17- Sun What You Know
Bis
18- Someday
19- What You Know

Vista geral do palco com todos os músicos e o telão gigante no fundo exibindo um céu estrelado

Vista geral do palco com todos os músicos e o telão gigante no fundo exibindo um céu estrelado

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