Ruim de descascar
Espécie de antibanda, Glass Animals mostra repertório pouco musical e pasteurizado no Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara/MRossi (1 e 3) e MRossi (2).
Explica-se que, no quarteto, ironicamente, só o baterista Joe Seaward toca para valer o tempo todo, justo ele que, no caso da opção totalmente não orgânica, poderia ser substituído por uma drum machine sem maiores problemas. O vocalista Dave Bayley anda com uma guitarra dependurada de lado a outro do palco, e não há uma música sequer em que ele toque durante todo o tempo. No fundo, no fundo, parece mais um cantor de boy band, e, como tal, tem certas fãs gritando por ele na beirada do palco. Sobra para a outra metade da banda a tarefa de fazer música. Só que o guitarrista Drew MacFarlane e o baixista Edmund Irwin-Singer também renunciam ao cargo e passam a maior parte do tempo operando botõezinhos de teclados e outros aparelhos suspeitos, o que resulta numa sonoridade pasteurizada duramente socada nos ouvidos do público.
Dentre o qual, honra seja feita, há admiradores que até dialogam com a música que sai das caixas – e a internet segue sendo uma bênção -; pouco importa como ela é produzida no palco, ali, ao vivo e a cores. Um olhar pouco rigoroso, entretanto, até encontra certo viço criativo em músicas como “Poplar St”, uma das poucas em que uma sequência melódica se impõe, e não por acaso uma em que a plateia mais agita; ou ainda como “Season 2 Episode 3”, que tinha tudo para ir por água abaixo, mas encontra a salvação, por incrível que pareça, nos teclados da duplinha Irwin-Singer e MacFarlane, que se arrisca – olha só! – em um solo de guitarra. Fraquinho à beça, mas, dadas as circunstâncias, soa como um Eddie Van Halen em “Eruption”. Ou seja, é muito esforço para se interessar pelas músicas, quando elas é que devem, na origem, ser sedutoras.Enfastiado com a guitarra dependurada no pescoço, em “Cane Shuga”, Bayley, antes mesmo do momento abacaxi, desce no fosso que separa o público do palco, causando certa histeria que reforça sua vocação. No que o público, pequeno, sim, mas altamente participativo, se alvoroça ali pela frente, no gargarejo. Era o início da parte final do show, quando boa parte dos curiosos começa a se deslocar para outro palco, dada a cruel logica invertida do Lolla: gente chegando atrasada no início, muito público no meio e gente saindo cedo antes do final. Com isso, teve gente que não viu a banda executando “Pork Soda”, com o grave reforçado nas caixas, quando o troféu aparece no palco. Sorte deles.
Set list completo:1- Life Itself
2- Black Mambo
3- Hazey
4- Poplar St
5- The Other Side of Paradise
6- Season 2 Episode 3
7- Toes
8- Cane Shuga
9- Youth
10- Gooey
11- Pools
12- Pork Soda
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