O Homem Baile

Ruim de descascar

Espécie de antibanda, Glass Animals mostra repertório pouco musical e pasteurizado no Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara/MRossi (1 e 3) e MRossi (2).

O vocalista do Glass Animals, Dave Bayley, na difícil tarefa de tocar guitarra durante o show do Lolla

O vocalista do Glass Animals, Dave Bayley, na difícil tarefa de tocar guitarra durante o show do Lolla

O show, por sorte, está para acabar quando o vocalista da banda, do nada, entrega um abacaxi para um elemento da plateia. Em tempos de golpe estamos de volta à República das Bananas e o Troféu Abacaxi que Chacrinha distribuía à rodo tem dono certo no Lollapalooza. Ou, por outra, em um festival repleto de atrações esquecíveis (nessa edição de 2017 ainda mais), seguramente faltará abacaxi, mas, ao menos um vai para o Glass Animals, dono de uma das apresentações menos musicais que o festival recebe, na tarde de sábado (25/3), no Palco Onix. O grupo é espécie de antibanda cujas composições, ao menos as apresentadas aqui, e quase todas, não têm sequer melodia para serem chamadas justamente de música.

Explica-se que, no quarteto, ironicamente, só o baterista Joe Seaward toca para valer o tempo todo, justo ele que, no caso da opção totalmente não orgânica, poderia ser substituído por uma drum machine sem maiores problemas. O vocalista Dave Bayley anda com uma guitarra dependurada de lado a outro do palco, e não há uma música sequer em que ele toque durante todo o tempo. No fundo, no fundo, parece mais um cantor de boy band, e, como tal, tem certas fãs gritando por ele na beirada do palco. Sobra para a outra metade da banda a tarefa de fazer música. Só que o guitarrista Drew MacFarlane e o baixista Edmund Irwin-Singer também renunciam ao cargo e passam a maior parte do tempo operando botõezinhos de teclados e outros aparelhos suspeitos, o que resulta numa sonoridade pasteurizada duramente socada nos ouvidos do público.

Quarteto reunido junto ao baterista Joe Seaward, que guarda no seu kit o abacaxi que vira troféu

Quarteto reunido junto ao baterista Joe Seaward, que guarda no seu kit o abacaxi que vira troféu

Dentre o qual, honra seja feita, há admiradores que até dialogam com a música que sai das caixas – e a internet segue sendo uma bênção -; pouco importa como ela é produzida no palco, ali, ao vivo e a cores. Um olhar pouco rigoroso, entretanto, até encontra certo viço criativo em músicas como “Poplar St”, uma das poucas em que uma sequência melódica se impõe, e não por acaso uma em que a plateia mais agita; ou ainda como “Season 2 Episode 3”, que tinha tudo para ir por água abaixo, mas encontra a salvação, por incrível que pareça, nos teclados da duplinha Irwin-Singer e MacFarlane, que se arrisca – olha só! – em um solo de guitarra. Fraquinho à beça, mas, dadas as circunstâncias, soa como um Eddie Van Halen em “Eruption”. Ou seja, é muito esforço para se interessar pelas músicas, quando elas é que devem, na origem, ser sedutoras.

Enfastiado com a guitarra dependurada no pescoço, em “Cane Shuga”, Bayley, antes mesmo do momento abacaxi, desce no fosso que separa o público do palco, causando certa histeria que reforça sua vocação. No que o público, pequeno, sim, mas altamente participativo, se alvoroça ali pela frente, no gargarejo. Era o início da parte final do show, quando boa parte dos curiosos começa a se deslocar para outro palco, dada a cruel logica invertida do Lolla: gente chegando atrasada no início, muito público no meio e gente saindo cedo antes do final. Com isso, teve gente que não viu a banda executando “Pork Soda”, com o grave reforçado nas caixas, quando o troféu aparece no palco. Sorte deles.

Drew MacFarlane, em um raro momento em que deixa os teclados de lado para tocar guitarra

Drew MacFarlane, em um raro momento em que deixa os teclados de lado para tocar guitarra

Set list completo:

1- Life Itself
2- Black Mambo
3- Hazey
4- Poplar St
5- The Other Side of Paradise
6- Season 2 Episode 3
7- Toes
8- Cane Shuga
9- Youth
10- Gooey
11- Pools
12- Pork Soda

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