O Homem Baile

Devagar

Atração das inéditas no Lollapalooza, Rancid faz show calmo para um ícone do punk rock noventista. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara/MRossi.

O guitarrista e vocalista do Rancid, Tim Armstrong, à frente do palco, e baterista Branden Steineckert

O guitarrista e vocalista do Rancid, Tim Armstrong, à frente do palco, e baterista Branden Steineckert

O show já está quase acabando e uma música é anunciada como homenagem a Lemmy Kilmister, o inesquecível líder do Motörhead que hoje vive em outro plano. Um dos guitarristas, com barba demais e cabelos de menos, não se aguenta e desce até a grade que separa o palco do público – uma considerável multidão – para lembrar os bons tempos do punk rock noventista, de onde o grupo surgiu. Pode anotar aí, então, ao menos uns 20 anos de espera para que esse encontro enfim se realizasse. Era o fim do show do Rancid, na noite de sábado (25/3), no palco principal do Lollapalooza. Tanto tempo, um show só, menos de uma hora e exatas 20 músicas. Será que valeu a espera e o constrangimento de ser um dos raros patinhos bonitos em um festival coalhado por atrações esquecíveis?

A julgar pela poeira que subia em função da grama careca ali na frente do palco, sim, muito embora as rodas de dança, para um show de punk rock, mesmo do Rancid, cuja sonoridade é, no mínimo, menos agressiva, tenham decepcionado. É só lembrar do atropelo que foi a apresentação do Bad Religion, no mesmo local, no ano passado (veja como foi), para sacar a diferença e concluir que o Rancid se coloca muito bem em um honroso segundo escalão entre os seus pares que brilharam na década de 1990. Demérito algum, o quarteto mantém a pegada pesada, ma non troppo, centrando o repertório naquele que talvez seja seu disco mais aclamado, “…And Out Come the Wolves”, lançado em 1995. É o mesmo em que brilha a dupla de guitarristas/compositores Lars Frederiksen e Tim Armstrong, o tal que não se aguentou e desceu para ser agarrado pelo povão.

Como “Roots Radicals”, tocada logo no início e que incrementa as tais rodas punk das quais se esperava mais. Logo de cara, o grupo enfileira cinco porradas seguidas sem parar, incluindo ainda “Journey to the End of the East Bay”, cujo refrão foi cantado tão alto que daria para se ouvir na Av. Paulista. Não há espaço para conversas porque o tempo é curto, o show é de punk e simpatia também não chega a ser uma das maiores virtudes dos integrantes. No máximo uma explicação de letra aqui e o título de uma música acolá. Antes de “Last One to Die”, Frederiksen faz elogios ao Metallica, atração de fundo (veja como foi), lembrando da relação entre as bandas em todos esses anos. “Salvation”, uma das mais bem recebidas, é a deixa para passar o recado de que o próximo álbum deles será produzido por Brett Gurewitz, do Bad Religion, que também assina “Let’s Go”, o disco de 1994 de onde a música saiu.

Armstrong e sua guitarra surrada e o parceiro de composições Lars Frederiksen passando por trás

Armstrong e sua guitarra surrada e o parceiro de composições Lars Frederiksen passando por trás

É duro reconhecer, mas o que pega no show do Rancid é que a banda não passa para o público a energia indispensável em um show de rock, quiçá de punk rock. Os integrantes não se revelam apáticos – e aí seria algo insuportável -, mas também não parecem empolgados ou sensíveis as reações dos fãs ali embaixo. Mesmo quando “Ruby Soho”, a tal música em homenagem à Lemmy, que encerra o show com Armstrong na grade, é tocada, a vibração é apenas relativa, e não parece ser genuína. Ainda comparando com seus contemporâneos – escolha sua banda punk rock preferida da época -, os integrantes aparecem em péssima forma, física e até mental, a ponto de não se deixarem envolver completamente em um show em que têm o público todo na mão. Uma pena.

Honrando a ligação com as raízes do ska e do street punk, o Rancid toca algumas músicas com a participação de um tecladista. Caso da sequência com os clássicos “Fall Back Down” e “Time Bomb”, já na parte final do show, desencadeando o último suspiro de uma plateia que, a essa altura parecia mais esperar pelo Metallica do que outra coisa, e antes, em “Old Friend”. Do disco mais recente, o bem ajustado “…Honor Is All We Know”, entra a faixa-título, que, surpresa ou não, é cantada pela plateia como se fosse um das antigas. O que leva a imaginar como seria bom um show do Rancid fora de festival, sem limite de tempo, com um repertório de, ao menos, mais umas 10 músicas. Pensamento utópico se levarmos em conta que a banda – acredite se quiser – não gosta muito de fazer shows. Cada uma…

Set list completo:

1- Radio
2- Roots Radicals
3- Journey to the End of the East Bay
4- Maxwell Murder
5- The 11th Hour
6- East Bay Night
7- Last One to Die
8- Dead Bodies
9- Salvation
10- Bloodclot
11- Old Friend
12- The Bottle
13- St. Mary
14- Tenderloin
15- Olympia WA.
16- Honor Is All We Know
17- It’s Quite Alright
18- Fall Back Down
19- Time Bomb
20- Ruby Soho

Lars Frederiksen em solo e Tim Armstrong voando alto nos tradicionais saltos do punk rock noventista

Lars Frederiksen em solo e Tim Armstrong voando alto nos tradicionais saltos do punk rock noventista

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